segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

POEMAS E VERSÕES (ESPANHOL) - II


Poemas:
Francisco Miguel de Moura*
Versões:
Divaneide Carvalho*
Tradutora

QUERENÇAS

Quero ter a vaidade dos caminhos:
– dão passagem mas pouco dão abrigo.
Quero ter o orgulho do tufão,
Quero ter a tristeza do jazigo.

Quero sentir da tarde a lassidão
e a solidão da noite no deserto,
das pobrezinhas flores – o perfume,
como as nuvens – ficar no céu aberto.

Quero ter emoções de amor secreto,
sentir como se sente uma paixão,
pra cantar glórias e chorar amores.

Quero viver do ideal concreto,
quero arrancar de mim o coração,
incapaz de conter todas as dores.

                        
QUERENCIAS


Quiero  tener  la  vanidad  de  los caminos:
― dan  pasaje  mas  poco  dan  abrigo.
Quiero  tener  el  orgullo del  tornado,
quiero  tener  la  tristeza  del  sepulcro.

Quiero sentir de  la  tarde  la lasitud
y la  soledad  de  la noche en el desierto,
de las pobrecitas flores ―  el  perfume,
como las nubes ― quedar a  cielo abierto.

Quiero tener emociones de amor secreto,
sentir como se  siente  una  pasión,
para  cantar  glorias  y  llorar  amores.

Quiero vivir del ideal concreto,
quiero arrancar de mí el corazón,
incapaz de contener todos los dolores.


FELICIDADE


Felicidade, às vezes, é uma coisa triste,
foge de nós qual no relógio os ponteiros,
ou como as flores, soberanas, nos canteiros,
não sabemos se foi, se é, ou porque existe.

Por que mais se vivendo, a gente não persiste
em gozar os momentos propícios, inteiros,
quando sabemos que nos esperam, traiçoeiros,
os arranhões da vida, a noite de arma em riste?

Deus, o’ Deus do ardiloso mundo que nos deste,
poderias tão bem nos ter mostrado o leste,
livrando-nos, em paz, tranquilos, do perigo!

Mas mesmo como és, louvo a generosidade
de fazer-me feliz, quando a felicidade
está no coração de quem anda comigo.


FELICIDAD


Felicidad, a  veces, es  una cosa  triste,
 huye de nosotros como en  el  reloj  las agujas,
o  como  las  flores, soberanas, en  los canteros,
no  sabemos  si  fue, si  es  o  por  qué  existe.

¿Por  qué  más  viviéndose, uno  no  persiste
en  gozar  los  momentos  propicios, enteros,
cuando sabemos que  nos esperan, traicioneros,
los arañazos de la vida, la noche de arma en ristre?

¡Dios, oh, Dios del  astuto mundo que nos diste,
podrías  tan  bien   habernos  mostrado el  este,
librándonos, en  paz, tranquilos, del  peligro!

Mas  igualmente como eres, exalto la generosidad
de  hacerme  feliz, cuando  la  felicidad
está  en  el corazón de  quien anda  conmigo.

          
ESPERA-ESFERA


Esperar... A virtude não se altera.
Esperando se perde, mas se alcança.
Se a vida toda é um círculo de espera,
não fiquemos aquém de uma esperança.

Eis a forma cabal: tanto se avança
quanto mais se esperar. Ah, quem nos dera!
E nessa rítmica e terrível dança
compomos, recompomos nossa esfera.

Não cantemos perdidas esperanças,
esses desgastes ficam nas andanças
das estrelas – excêntricas e feras.

Alma sedenta, em que te desalteras?
Mourejando no amor de tantas eras,
cultiva o bem e espera as esperanças.


ESPERA-ESFERA


Esperar... La  virtud  no se  altera.
Esperando se  pierde  mas se alcanza.
Si  toda  la vida  es un círculo de espera,
no quedemos aquende  una esperanza.

Aquí está  lo cabal: más se avanza
cuanto más se  esperar. ¡Ah, quién tuviera!
Y en  esa  rítmica y  terrible  danza
componemos, recomponemos nuestra esfera.

No cantemos perdidas esperanzas,
esos desgastes quedan en  las andanzas
de  las  estrellas ― excéntricas y  fieras.

Alma sedienta, ¿ en  qué  te desalteras?
Trabajando en  el amor de  tantas eras,
cultiva el bien y espera  las esperanzas.

              
AMOR Á MINUTA
      
Saí, saíste só, nos encontramos
num mesmo ponto não determinado.
Foi num lugar feliz.  Por que paramos?
Que novo mundo ali fora criado?

Vi teus cabelos desassossegados
como os teus olhos, como os nossos olhos.
Amor tão mudo, em corações alados,
era, decerto, o anúncio dos abrolhos.

Foste embora, com pouco... E eu saí.
Partiu-se em mim a vida, de tal modo
que ainda agora penso que te ouvi...

A voz do amor... E no ouvido trago-a,
e dentro em mim um firmamento todo
e todo um abismo para conter mágoa.


AMOR A LA MINUTA
 

Salí, saliste sola, nos encontramos
en un mismo punto no determinado.
Fue en un lugar feliz.¿Por qué paramos?
¿Qué nuevo mundo allí había sido creado?

Vi  tus  cabellos  desasosegados
como tus  ojos, como nuestros ojos.
Amor  tan  mudo, en corazones alados
era, ciertamente, el anuncio de los abrojos.

Te  fuiste, con  poco...Y  yo  salí.
Se  partió  en  mí  la vida, de tal modo
que  aún ahora  pienso que te oí....

La  voz  del  amor...Y  en  el oído la traigo,
y dentro de  mí  un  firmamento todo
y  un abismo para contener la amargura.


___________________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador, com mais de 30 livros publicados, mora em 
Teresina, PI.
** Divaneide Carvalho é professora com mestrado em espanhol, poetisa (um livro publicado). 
Mora em Teresina - PI
 

3 comentários:

Haydée Ferreira disse...

Parabéns!!! Visitar seu Blog é entra em contato com um lirismo fascinante. Belos poemas, onde a gente encontra calor e vida!!
Continue produzindo com alegria e fé, sem pretender. Pois mesmo que não perceba ou receba retorno ou comentários sua arte acalenta muitos corações. Deus lhe abençoe!!!
Haydée Ferreira

CHIICO MIGUEL disse...

Obriga, Haydée, pelo incentivo. Em
2016 eu pretendo lançar uma seleção de toda minha obra poética. Você está convidada para o lançamento.Será a festa dos meus 50 anos de poesia - meu primeiro livro foi lançado em 1966.
abraços do poeta
francisco miguel de moura

regina ragazzi disse...

Poeta... que maravilhosos poemas li aqui nessa tarde de sábado. Que bom ter contato com sua poesia. Uma leitura prazerosa que me trouxe uma calma, uma sensação tão boa...
Obrigada pela visita e poema que me deixou. Adorei. Abraços

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