terça-feira, 29 de abril de 2025

 


CANÇÃOZINHA

(Para a criança que morreu em nós)  

              Francisco Miguel de Moura*

 

Gira, gira o’ mundo meu,

que o meu rebolo sou eu.

 No embalo, que baila e bole,

 minha criança nasceu.

 

Se hoje penso em voltar,

só vejo o bicho papão

que vem comer o menino

já dormindo, devagar...

 

Hoje, tudo que não vejo

são as rosas da roseira

e o riso da jardineira.

E o sol do meu girassol,

e a lua, que não é cheia.

 

Gira, gira mundo meu...

Apague esta papa-ceia,

Já não há lua, nem ceia.

E as bolinhas de sabão

voaram sem compaixão,

pois a criança morreu.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

domingo, 27 de abril de 2025


 

                           A CULPA, DE QUEM É?

 

                       Francisco Miguel de Moura*

 

            Dentro da pátria, somos soberanos para fazer o que é bom, agir como cidadãos, dentro das leis, a principal é a Constituição do País. Abaixo disto, tudo é tirania, maldade, desumanidade. E quem é cruel, desumano, inimigo da obediência às leis, não pode ser bom cidadão. Cidadão é quem preza a terra, a tradição, a família, a pátria, os irmãos que tiveram a sorte de possuir bens e os deserdados da fortuna. E a todos respeitar.  Cabe citar o Mestre Rui Barbosa, quando define:

             A pátria não é ninguém, são todos e cada um tem no seio dela o mesmo direito à palavra, à associação. (...) Não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade.”

             E mais ainda: Quando não se obedece a lei maior, a da Constituição Federal, entra-se numa situação de Ditadura. E ainda, segundo o Mestre Rui Barbosa:

            “A pior ditadura é a do a do Judiciário.”.         

Mas, também quando o povo joga lixo nas ruas e reclama da sujeira, desobedece às leis de trânsito e reclama do mau trânsito, reclama dos maus políticos e vota mal ou não vota, de quem é a culpa?

Quando trapaceia nos negócios e fica a pregar falsa moral, quando não liga sequer pra horário de nada, seja o vigia do prédio ou o prefeito, o governador, o presidente – de quem é a culpa? Por outro lado, que prefeito é aquele que não cuida da limpeza e da beleza de sua cidade?  Que prefeito é aquele que só vive na fazenda, não atende aos que o procuram, só quando se trata do seu próprio interesse? Que enriquece rapidamente e vive viajando a negócios “de mentirinha”, pois o que faz é turismo, passeio, gastos pessoais com dinheiro público?  Que exorbita na cobrança dos impostos? Que não cuida da tradição da cidade, de sua história, de sua cultura? Governante que não cuida da educação, saúde e segurança não merece respeito.  

O povo tem o poder de criticar, e a melhor crítica que se faz é eleger os bons, os que deram certo como administrador do bem público, e não votar nos que traem sua confiança com projetos mirabolantes na campanha e quando tomam o poder enriquecem-se por meios ilícitos, traficando, burlando e açambarcando os cofres públicos através de contabilidade fraudulenta, etc. Mentindo e falseando. Dizem entre si que é para agradar o povo. Que povo é esse, então? 

 Também a culpa é do povo quando este dá mau exemplo aos políticos – porque também pode acontecer que o exemplo venha de baixo. Povo desse feitio não tem honra para criticar.  Mancomunado com os ilusionistas da fé pública, povo assim não merece nunca ser elogiado.  Procurar o jeitinho em lugar da lei e da ética, insinuando a burocracia a ser desonesta, a administração a ser condescendente, aos políticos a tratarem a coisa pública como se sua fosse – de quem é a culpa? A culpa é também dos políticos, dos juristas, dos parlamentares quando fazem leis casuísticas porque alguém da sua laia vai ser beneficiado. E eles também são povo porque do seio do povo vieram.

Mas, estamos falando de que povo? Do povo brasileiro, em primeiro lugar. Somos preguiçosos, queremos o mais fácil. Temos defeitos malditos de origem, razão por que temos que trabalhar dobrado para tirar a diferença de séculos. Só assim construiremos uma pátria democrática, livre, justa e moralmente aceitável perante as nações civilizadas.

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*Francisco Miguel de Moura – Membro da Academia Piauiense de Letras, prosador e poeta, e-mail:franciscomigueldemoura@gmail.com.br

 

 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

 


          “NOSTALGIAS CANIBAIS” – ODORICO CARVALHO

                                                              Francisco Miguel de Moura*

 

          Acabei de ler o livro de contos de autoria de Odorico Carvalho, filho, denominado “Nostalgias Canibais”.  Não é um livro de fácil leitura, nem por isto deixa de ser inteligente e instigante. Um estilo uno e diferente do que tenho lido ultimamente, em matéria de contos.

          Depois da leitura, me perguntei: Será um novo modo de enfrentar uma das mais difíceis formas literárias que existem, o conto? O conto, por si só é muito difícil, mais do que o romance, do que a novela, do que a crônica. Os personagens de Odorico Carvalho são facilmente encontráveis em nosso mundo atual, tão cheio de pessoas por demais egoístas e por isto mesmo difíceis de serem reconhecidas, sejam familiares, colegas, companheiros de um dia, ou que se queiram socialmente como amigos. Daí as abundantes distorções que chegam a levar o outro até a morte, e, como os selvagens,  psicopatas e políticos de hoje, a maioria transtornados por motivos do poder que exercem, ou até por banalidades. Essas distorções aparecem na vida e na arte.

          Um dos contos que mais apreciei foi o de nome “Os Gatos”, de mais fácil leitura e porque o autor nele se desprende de uma linguagem semi-barroca como a do primeiro conto de “Paraíso Canibal”, que, além de alongado e por isto mesmo eu diria de episódios repetitivos, o que não acontece nos demais contos, felizmente.

           Uma outra peça que muito me chamou a atenção foi a “História da Feiura”, que diria ser um misto de ficção e ensaio, um tema difícil. Visto assim, se considerarmos que todas as pessoas, enquanto criaturas, são belas, pois feitas à imagem de Deus. Mas nós, como pessoas, é que somos desiguais, cada é cada um, e pronto. No caso do conto em discussão, meu registro é que o ser feio mesmo é somente aquele filho que a mãe o considere feio, tal como o personagem do conto de Odorico Carvalho, que acaba entregando-se a uma médica-cirurgiã, para reformulação do que Deus criou. Um conto excelente que, se o autor se dispusesse, bem poderia transformá-lo em parte de um romance, que sucederia após o personagem, mesmo operado da feiura, não se considerasse um bonito em verdade: E aí ação continuaria para um difícil e fabuloso romance.

          Sugestões à parte, o que interessa, aqui mesmo, é que o livro de Odorico Carvalho, filho, é uma singular obra contística, trazendo novidades dentro de uma visão literária que está quase morrendo, no Brasil: o conto. Novidade no estilo, na força da diferença e na sugestividade dos temas. Por tudo isto, posso dizer que o autor, Odorico Carvalho, acaba de  inscrever-se com força, e  tão bem, na literatura, não só do Piauí, como do Brasil.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina-PI

 

 

sábado, 19 de abril de 2025

 


A HORA VAZIA

             Francisco Miguel de Moura*

                                                   

silêncio sem boca nem fundo

esvazia-se no jarro partido.

 

a beleza da sala chora sem lágrimas

não tece preto nem branco.

 

cacos não preenchem o vazio,

são novos buracos cravados

no sangue da mão do menino.

 

e o vazio inquebrável

como qualquer desvio

da luz e do silêncio não se move.

 

nenhuma palavra.

 

palavras não enchem o vazio

nem a inutilidade dos desejos.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

domingo, 13 de abril de 2025

 


                        A DUPLA FACE HUMANA

 

                                   Francisco Miguel de Moura, ESCRITOR

         

          Hipócrates, o pai da medicina, na Grécia (460-377) a.C. com os quatro tipos de personalidade, baseado na prevalência de certas substâncias integrantes do corpo, os conhecidos humores sanguíneoS, fleumático, bilioso (ou colérico) e melancólico, deu início aos estudos do que hoje chamamos de personalidade.  Nos tempos modernos, foram pioneiros nesses estudos os filósofos John Locke e Rousseau, respectivamente da Inglaterra e da França, séculos XVII e XVIII; o primeiro afirmava que a criança nasce vazia, tudo daí por diante seria adquirido pela experiência; sua teoria foi, de certa forma, secundada por Jean Jacques Rousseau, que criou o conceito do “bom selvagem”, inspirado nos índios da recém descoberta América, pelo que o homem nasce bom por natureza, depois é que se educa ou se corrompe. Considera-se, entretanto, que o primeiro cientista moderno a estudar com seriedade a contradição natureza x aquisição social, no séc. XIX, foi o inglês Francis Galton. Com base em estudo de irmãos gêmeos, ele quis mostrar – foi o seu pecado maior – que a inteligência e o talento da elite da inglesa do seu tempo passariam de pai para filho, indefinidamente. Mas por todo o século XX vários estudiosos tentaram, em seus inúmeros escritos, passar a idéia de que todas as aquisições da personalidade humana são devidas ao ambiente, uma espécie de reação aos horrores do nazi-facismo da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini, além do medo do preconceito e do racismo.

          Com a descoberta do DNA em 1953, por James Watson e Francis Crick, e a divulgação do Projeto Genoma Humano, em 2000, parece que tudo mudará de repente. Mas não é bem assim. A cultura racista, eugenista, as teorias sociológicas e filosóficas, como o marxismo e o existencialismo, deixaram marcas profundas na cultura do mundo contemporâneo.

          Não resta dúvida de que, no séc. XX, neste começo de milênio, o maior conhecimento científico se deu na biologia e na genética, melhorando as técnicas médicas. Avanço espetacular.  Hoje se sabe tudo do homem pelo DNA: quem é o pai da criança, os índices de inteligência, religiosidade, sociabilidade do nascituro e ainda mais: quais as probabilidades de nascer um gay, uma criança tendente aos vícios (tabagismo, álcool e outras drogas), como também se aquele homem em projeto pode vir a ser um criminoso ou um psicótico, um psicopata ou um diabético, ter possibilidades de adquirir um câncer ou de adoecer do coração.  No fim de contas, são apenas tendências. Na esteira desse conhecimento, afirmam a pequena influência dos pais e da escola, em favor da sociedade e das heranças genéticas na formação da personalidade. Mas os pesquisadores advertem-nos que a quantificação ou percentagem genética não é nunca um determinismo.     

          Esses estudos e as considerações podem ser enfeixados na conclusão de que têm um pouco de certezas e outro tanto de erros ou exageros. O que se pode dizer é que a natureza humana não existe como um ser distinto e cientificamente identificável. Existe o homem com duas faces: a herdada e a adquirida, as quais se misturam, se temperam. Degradam-se no rumo do que se convencionou chamar de o Mal ou se sublimam no sentido do que se chama o Bem. O homem convive com um e com outro, como convive com a vida e a morte, numa simbiose que, por vezes parece bem natural. Mas existem também as exceções: os santos e os facínoras.  Por isto é que o homem mente a si e aos outros, justo por não saber ainda quem é, se anjo ou demônio, se mortal ou imortal, sempre nessa dicotomia que o faz crescer, decrescer, ou dando meias-voltas sem encontrar um caminho.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Pi. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com

 

quarta-feira, 9 de abril de 2025

 

O JORNAL E O JORNALISTA

           Francisco Miguel de Moura*

 

A notícia é o jornal de cada dia

Que aquece a mente e o dia fica vivo.

Espanta quando o fato é negativo,

Mas quando é bom, traz luz e alegria.

 

Jornalista é aquele que mais busca

A notícia presente e acumplicia,

Todo aquele que a encontra e não vicia,

Traz a notícia viva e nada ofusca.

 

Jornalista jamais terá partido,

Seu partido é a verdade verdadeira,

Senão, nenhum jornal terá sentido,

 

Quem não se vende e nunca perde a pista

Confere com os que sofrem na trincheira

Pra não tornar-se um simples “jornazista.”

 

                    Teresina-PI, 07-o4-2025

                         Dia do Jornalista

domingo, 6 de abril de 2025

 


ASSIM, VIDA

    Francisco Miguel de Moura*

  

A vida é o dia que passa

A vida é o canto que encanta

E a vista que se levanta

Pra quem é cheio de graça.

 

Mulher, a ave que passa,

Que dança e ri como for,

Seu riso é ouro sem jaça,

É um prenúncio do amor.

 

A vida assim vai passando

E nós por ela – passados,

O mundo, enfim, vai flanando,

Até que somos largados

 

Por aí, ao deus dará

E Deus é certo e mais forte,

Tal como nos deu a vida,

Com certeza dá a morte.

 

E se uns abrem asas, voam,

Os que ficam não perdoam.

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          *Francisco Miguel de Moura

                                   Poeta brasileiro

quarta-feira, 2 de abril de 2025

 


A MENTIRA E O MENTIROSO

               Francisco Miguel de Moura*

 

Nunca menti na vida, digo e provo,

Pois a mentira é o próprio Satanás.

Quem mente é seu amigo e se compraz

Em vender pedra qual se fosse um ovo.

 

Diz-se amigo do povo, mas o engana

Como os político maus, na eleição.

Faz o empregado ser contra o patrão

E elege o mau e dele mais se ufana.

 

Corrói como o cupim, pela raiz,

Sem piedade, se acaso for juiz,

E se apresenta bom, com narrativa.

 

Não merece nenhuma compaixão

Assassino vulgar, sem coração,

Mata o pai, mata a mãe e grita: Viva!

 

                 The. PI, 1º de abril de2025.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

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