quarta-feira, 7 de outubro de 2009

“RÉQUIEM PARA MÁRIO” - Romance


Francisco Miguel
de Moura*




Rejane Machado - foto

Trata-se do mais novo romance da escritora Rejane Machado, escrito de um fôlego, em poucos dias do mês de janeiro deste ano. Se foi inspiração, premonição, mensagem recebida do além, psicografia (como dizem os espíritas) – a Autora não sabe. Ela estreou numa coletânea de contos resultados de concurso literário promovido por jornal carioca “Diário de Notícias”, em 1969. Depois publicou “A Dimensão das Pedras”, 1972, e o romance “Informação a um Desconhecido”, 2000. Porém, daí em diante não mais publicou ficção, salvo algumas historinhas para crianças. Isto demonstra que, no setor editorial, o Brasil está há milênios de atraso em relação ao civilizado. E ainda há quem pergunte por que somos tão subdesenvolvidos.

Com “Réquiem para Mário”, Rejane Machado dá continuidade ao seu bem tecido modo de escrever com amor e humor, numa linguagem coloquial segura e severa. Não poderia ser de outra forma, em se tratando de entender a vida de um escritor em família (tratado com carinho pela Tia Eunice,) e a literária com seu rol de fãs (masculinos e femininos) e um editor dedicado. De fácil leitura, tecendo personagens que ficarão para a história, literária, tais como André, Florentina, Dimo, Leni, Regina Manhães, Raquel, Pe. Ramos, entre outros menores. Assim é que, num curto e certo tempo, quero dizer breve, ela traça a trajetória do escritor Mário Teles, através do ponto de vista da mulher, Doralice, Dora familiarmente. A leitura de “Mário”, para abreviar, não dá nenhuma preguiça ao leitor, comecei a lê-lo e não o larguei até o fim. Justo porque ela o escreveu num estilo tão simples, fluente e, ao mesmo tempo, substancioso e profundo, que a vontade é saber até onde chegará a protagonista Dora, Doralice, mulher de Mário, com seu ciúme intempestivo.

Não vale a pena contar a história de um romance, o leitor sabe disso. Primeiro, porque aquilo que o comentarista diz não vai ser nunca o que ele, leitor comum, encontrará. “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Aumenta muito mais: transforma, muda, cria. Cada leitura é singular. A história na ficção, como disse E.M. Forster, é a coisa mais primitiva, “uma narrativa de acontecimentos dispostos em sua seqüência no tempo”, coisa que a Autora tenta desconhecer por princípio e sapiência. História tem, pois tudo são histórias, mas contam mais o enredo e o estilo – e eu acrescentaria o clima, aspecto que Forster não anotou. O enredo é a intensidade da história, o clima é o ambiente psicossocial do protagonista e de personagens principais. Em “Réquiem para Mário” toda a ação principal se passa entre o enterro do escritor e a visita de Dora à sepultura dele, depois de algum tempo, motivada por um desejo secreto de sepultá-lo de uma vez por todas, daquela falta e de seus pensamentos a respeito da suposta amante de Mário, que teria motivado o livro inédito do marido: Antígona (que ela pronunciava Antigna). Por isto é sombrio, não obstante o humor do estilo de Rejane. Claro, é um romance bastante elucidativo dos viventes da família urbana do Rio, com algumas ligações em Minas. E educativo pelo que subliminarmente há de ética na maioria dos seus viventes, mas também de suas falhas humanas, defeitos de caráter e a bondade e paciência de outros.

Uma das coisas que a crítica observa no bom escritor é o modo dos diálogos. E nisto Rejane Machado é mestra. Seus diálogos são tão naturais como numa conversa. Aliás, ela é uma grande conversadora em cartas. Uma das melhores epistológrafas (arre (!) que nome) que conheço. A técnica de colocar a palavra na boca do o personagem que quer e na hora que deseja ela tem como ninguém.

Rejane Machado e seus diálogos internos, diálogos externos, narrativa e descrição num verdadeiro tecido estilístico, com certeza chamará a atenção dos estudiosos do romance deste milênio. Modernidade e experimentação, beleza e realismo, alma e coração, encontram-se irmanados nas suas páginas. Rejane, que mais obras venham para fazer a diferença na ficção brasileira de hoje.
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Francisco Miguel de Moura, Escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras. Email: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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