sábado, 2 de outubro de 2021

 NA VOZ DE SUAS ONDAS


Francisco Miguel de Moura*


Sem sol e tão sozinho

solidifico a solidão,

petrifico-me no gelo,

molho as mão em pedras

que me ferem a mente

e me deixam sem poesia...


Nenhum verso sai,

pois não há mais lágrima,

nenhum amor se instala,

esteja à chuva branca

ou numa sala vazia,

sem nem um pingo de luz.

Dignamente me arquivo

em tamanha inquietude

como um morto vivo.


Só o sol me levanta

para alguma voz vazia

deste silêncio em vão.

Acompanhado ou só,

sem sol me petrifico

como um estranho ser

para além da morte.


Vem, ó sol, me derrete,

quero ir para os mares

ou então para os ares,

se ainda posso querer,

junto com sereias,

ou santos arcanjos

na voz terna das ondas.

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Francisco Miguel de Moura*

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