Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da APL
Escritor, membro da APL
Começo com uma definição: “A poesia é a palavra que se faz pássaro para voar e cantar”. A frase é de um grande poeta brasileiro, Anderson Braga Horta.
Mas a definição só se tornará visível, humanamente, se se disser, como ele disse, no seu recente livro “Do que é feito o poeta”, que acabo de ler. Ele mora em Brasília.
O poeta, hoje e aqui, nesta solenindade
sou eu, Francisco Miguel de Moura, um menino que nasceu nas catingas do
Jenipapeiro e depois de andar, por vários lugares acompanhando seu pai e
a família, paira novamente no Jenipapeiro. E ali se torna balcanista de
uma loja de tecidos e faz muitos poemas românticos
– como era de esperar-se de um quase menino, embora leitor apaixonado
de Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, entre outros. Um dia
ele escreve um poeminha no papel de embrulho de tecidos da loja, ali no
balcão, conversando com os amigos. Depois, mostrou a seu amigo maior,
Sebastião Nobre Guimarães.
Este poema o salvou das selvas do
Jenipapeiro e da monótona vida de caixeiro da loja do interior. Nobre
leu o poema e imediatamente me pediu. Não tive nem preocupação de tirar
uma cópia. Parece que estava dentro de mim.
O amigo, por suas atividades, ia toda semana a Picos. E
lá o poema voou para Picos, onde foi publicado no jornal “Flâmula”,
criado pelos estudantes do Ginásio Estadual de Picos. Começo dos anos de
1950.
Com o
poema vai Chico Miguel. Não durou muito e o menino, já rapaz, passa no
exame de Admissão ao Ginásio, entra nos estudos de humanidades, lê mais e
muito mais, desde Humberto de Campos, Euclides da Cunha e Machado de
Assis até alguns clássicos franceses. E nunca mais é o menino de
Jenipapeiro, de um só poema romântico. Lê mais, muito: Érico Veríssimo e
o poeta J. G. de Araújo Jorge, as revistas Cruzeiro e Alterosa, outros
jornais que lhe chegavam por meios que nem sabe. Mas a vida tem vários
caminhos, como aponto em minha poesia, neste livro. Chico
Miguel apaixona-se por uma mocinha de nome Mécia e passam a namorar, e
se casam. Logo após o casamento, Chico rasga todos os seus poemas. Vai
cuidar dos seus amores: esposa, filhos que iam nascendo, e o trabalho no
Banco do Brasil. Continua lendo muito, sem escrever. Por causa do
emprego de bancário, viaja pelo mundo, indo parar em Itambé-BA – onde
nasceu meu apresentador, nesta solenidade – Miguel de Moura Jr. Dois
anos depois estava de volta para o Piauí. E pronto. Fixa residência em
Teresina. Logo que chega conhece Hardi Filho, Herculano Morais e Tarciso
Prado, depois O. G. Rego de Carvalho, Fontes Ibiapina, Assis Brasil...
Chico Miguel e os três primeiros citados fundam o CLIP, que por sinal,
fará 50 anos juntamente com os 100 anos desta Academia. Era poeta
inveterado, já em Itambé-BA, voltara a fazer poesia. Chega em Teresina,
continua. Dentro de um ano consegue juntar e selecionar seus poemas para
publicação, saindo “Areias”. Era início de 1966. Chico queria coisa
melhor. Ainda assim, achava que seu primeiro livro tinha valor, valor
alcançado pelo censo crítico de Fontes Ibiapina, que fez o prefácio.
Depois, outros leitores e críticos o apreciaram e escreveram artigos.
Estava se fazendo um poeta, o poeta que criou asas, voou, voou, e hoje estamos com este volumoso livro “Poesia in Completa”, 2a.
edição comemorativa do cinquentenário de poeta e de sua poesia. Muitos
vôos, muitos pousos e pausas, muito sofrimento e também muita alegria –
como esta que estou me dando agora, extensiva à minha família, aqui
reunida, a meus parentes, a meus amigos, a meus confrades desta
Academia. Um agradecimento especial vai para o Presidente, Dr. Nelson
Nery, que me tornou possível a empresa. Outro, é para a Fundação Mons.
Chaves e seus gestores, por que fez gratuitamente a primeira edição do
livro “Poesia in completa” , em 1997, a qual está toda aqui, neste volume, ao qual juntei os poemas inéditos, além de uma seleção dos livros publicados depois da 1a. edição.
Uma das
orelhas é um artigo que escreveu o escritor Roosevelt Silveira, tão
simples quanto ele, que escreve pouco mas lê muito, uma pessoa boníssima
como não conheço igual, residente no interior do Espírito Santo,
Guaçuí, uma linda cidade onde eu gostaria de morar, se ainda me fosse
possível mudar de residência, nessa idade. Obrigado, Rosevelt, meu
colega de banco e Acadêmico das Academias de lá do Espírito Santo, que
não sei nem quantas são. Em Guaçuí, na companhia da família Roosevel
Silveira, eu e Mécia passamos uma das semanas mais agradáveis de nossa
vida. Brevemente voltaremos lá, com esta obra que ele colocará em sua
biblioteca, onde guarda todos os meus livros com muito carinho, e livros
do Brasil inteiro. Bendito bibliófilo!
Mais
histórias minhas, só se eu fosse entrar para a autocrítica, já feita
tantas vezes. Não vale a pena, o que está feito não está por fazer. Com
minha idade, 83 anos, certamente não verei, se acontecer, a aprovação e
de minha obra, com o relevo dos grandes que quero ser. O que me importa é
estar com vocês, “caminhando e cantndo, e seguindo a cação”, canção que é a vida. Segundo o filósofo Augusto Cury, “fomos feitos para viver”.
Por que não procurar viver bem, sem preconceitos, sem dogmatismos?
Fazemos parte da humanidade. E esta, desde o começo, ouviu, produziu e
cantou poesia. Poesia e música são enfeites que fazemos para viver
melhor, são formas de comunicação para uma vida saudável.
Gostaria
de poder dizer o quanto trabalhei para reunir estes poemas que foram
feitos durante toda a minha vida até agora, porque acho que o poeta já
nasce poeta, só precisar aperfeiçoar-se. Não consegui aprender música,
para juntar às letras de meus poemas. Mas tive a sorte de conviver com
amigos e apreciadores dos meus poemas, entre quais cito Rosângela
Santos, Odorico Carvalho, Franci Monte e Dionísia Neri, que musicaram
alguns dos meus poemas. A eles, meus agradecimentos. Infelizmente, não
tive tempo nem condição financeira de juntar essas músicas num “cedê”,
para ofertar-lhes. Poesia e música ainda estão na moda. O Prêmio Nobel
deste ano, Bob Dylan, é cantor e poeta. Acredito até, aqui para nós, que
lhe foi conferido o Prêmio Nobel de Literatura por causa de suas letras
(seus poemas). A revista “Veja” mostrou alguns versos seus, os mais
destacados foram: “Não entre sem resistência pela noite da boa
morte / A velhice tem de arder e imprecar quando o fim estiver próximo /
Fúria, fúria contra a luz que se apaga”. Lindo,
lindo, não coloquei em inglês por que não sei pronunciá-lo bem, nem
teria muita vantagem. O inglês não é uma língua mais poética do que a
nossa.
Lutei
com o Presidente Nelson Nery, e finalmente consegui que, fugindo um pouco
o padrão, aceitasse meus desejos, inclusive o retrato da capa pintado
por Marcus Carocas, um dos mais esforçados artistas plásticos do nosso
Piauí.
Na
primeira orelha está minha biobibliografia resumidíssima, como se faz
comercialmente, embora poesia não seja um produto que se bote na
prateleira e venda. Considero a poesia a forma artística mais apurada,
mais importante, no sentido da luta com a palavra, como escreveu o
maravilhoso Drummond. Pois não é aquilo que os escritores fazem todos os
dias?
E se
fiz tudo isto em literatura, poesia principalmente, e romances e contos e
crônicas, é porque tive a colaboração de minha mulher, D. Mécia, na sua
paciência e prática sabedoria. Teve sobretudo a paciência, a
compreensão do tempo que lhe roubei nos sábados, domingos, feriados,
dias santos e nas férias, todo esse tempo junto para entregar-me a esta
outra consorte – a poesia.
Não
esqueçam, meus amigos e amigas, confrades e confreiras, o prefácio de
“Poesia in Completa”, de Rosidelma Fraga: - É uma jóia da arquitetura
crítica de uma professora e poeta jovem, porém de muita força e fôlego
na construção de seus poemas. Matogrossense, Rosidelma Fraga, lecionou
na Universidade de Goiânia e depois foi transferida para Boa Vista, em
Roraima, estuda também os costumes e línguas indígenas, de quem se diz
descendente. Que belas páginas me escreveste, amiga Rosidelma Fraga!
Se não
disse tudo a vocês, vai aqui o principal. O tempo passa e todos nós
temos um tempo para os passeios, um tempo para o descanso, um outro para
orar e agradecer a Deus. Peço que despensemos também um tempinho à
poesia, que não faz mal a ninguém. Ela é sempre um recado, uma carta de
amor, romântica, amarga ou simples, por mais complexo que seja o poeta.
Toda obra de arte é amor, e o amor é quem move o mundo.
Salve, pois, a poesia. Obrigado por esta convivência tão simples, espontânea como a verdade, para quem se dispõe a conhecê-la.
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(Discurso pronunciado por Francisco Miguel de Moura, no Auditório da Academia Piauiense de Letras, no lançamento do livro "Poesia in Completa", no dia 12 de novembro de 2016).
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(Discurso pronunciado por Francisco Miguel de Moura, no Auditório da Academia Piauiense de Letras, no lançamento do livro "Poesia in Completa", no dia 12 de novembro de 2016).
Um comentário:
muito bom
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