Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras
Chagas Val (Francisco das Chagas Val), nasceu em 23 de julho de 1943, em Buriti do Lopes (PI), e tornou-se, por conta própria, cidadão maranhense, pois há muito tempo morava em São Luiz - MA, onde publicou sua obra poética e participou da famosa antologia organizada por Assis Brasil, com o título de “Poetas maranhenses do século XX, uma coedição da Editora Imago, Rio, 1944, com a Fundação Cultural do Maranhão”. Chagas escreveu muitos livros de poetas e está citado em várias Histórias da Literatura do Piauí e do Maranhão, além de ser verbete dos mais diversos dicionários do ramo. Escreveu muitos livros de poesia e os publicou sempre com a ajuda do poder público, pois era um humilde funcionário do Estado. De suas obras, me vem á memória, no momento, o que tem um título altamente poético: “Anatomia do Escasso Cotidiano”, 1999, São Luís-MA, prefaciado por Nauro Machado.
Era um dos meus amigos correspondentes, suas cartas eram verdadeiras crônicas poéticas e me animavam a escrever mais. Registravam sua alma solidária com os poetas e a poesia. Mas era um solitário diante do estranhamento do mundo, da agonia da natureza e dos homens, numa sociedade que despreza o bom e o do belo pela ferocidade dos conflitos e guerras. Solitário, taciturno, mas cheio de vida. Solidário com os poetas, bebia luz, lirismo e amor a cada manhã. Sua poesia é um canto à natureza e às belezas divinas. Sobre ele, escrevi um longo artigo – que considero crônica – estampado no “Diário do Povo”, em 02/05/1999, de Teresina, além de outras que ficaram espalhados por outros jornais piauienses.
Por informação do poeta Diego Mendes Sousa, soube que Chagas Val faleceu recentemente, em 21 de julho de 2016. Sua morte me deixa desolado. Por duas vezes nos encontramos pessoalmente: a primeira, quando fui a São Luís, acompanhado de meu filho Franklin, nem me lembro quando, e lá me foi ele apresentado pelo romancista e poeta Alberico Carneiro. Foi um encontro rápido. Chagas Val trabalhava para a Fundação Cultural (ou era Secretaria de Cultura?) de São Luís e estava envolto com problemas a resolver. Na conversa, falamos de poesia, claro, e dos assuntos ligados às letras. Lembramos de nossa correspondência, pois mesmo sem o contato pessoal, ele me procurara por carta enviada à A. Tito Filho, pois ainda não tinha meu endereço. E a partir dali começava a nossa conversa silenciosa: era carta pra cá, resposta pra lá, acompanhadas ou não de livros. Estes, livros e cartas, falavam do que estávamos lendo. No início, se dizia impressionado com o filósofo Friedrich Nietzsche. Não me recordo se me citou algumas frases, mas o sumo do pensamento do alemão, como estava entendendo, Chagas Val repassava. Talvez uma frase como esta, simples, mas profunda: “Nós fazemos acordados o que fazemos nos sonhos: primeiro inventamos e imaginamos o homem com quem convivemos - para nos esquecermos dele em seguida”. Na verdade, os filósofos impressionam os poetas. O exemplo prova que Chagas Val era um grande leitor dos clássicos, tanto poetas quanto filósofos. Numa carta, depois se transformada em capítulo de um livro meu, adverti-o da grandeza e profundidade do filósofo alemão, mas sua a interpretação era bastante perigosa, tendo em vista que Nietzsche afastava o homem de Deus, do absoluto. Eram assim os nossos “papos”: simples e elevados ao mesmo tempo. A partir daí notei que o poeta se abriu mais, abraçou realmente a natureza e o homem a ela integrado.
Por outras palavras, transcrevo parte do artigo-crônica a que me referi: “A poesia de Chagas Val é íntegra: mais doce de que o mel e o cheiro das folhas e flores – as folhas que com ele levou de Buriti dos Lopes, a brancura dos riachos e a serenidade do canto dos pássaros, sem hermetismo, sem subterfúgios, dentro dos critérios do que se chamou e se reconhece como arte. Nela não há, nem por longe, a marca de outro poeta (os chamados poetas maiores)”.
Segundo o experiente escritor Alberico Carneiro, “Chagas Val é um poeta de dicção personalíssima, no Maranhão e quiçá no Brasil, garimpando os verdes campos da memória onde pastam os cavalos alados do sonho”.
Ele se foi do mundo dos “poetas mortos” (que é este mundo onde vivemos nós, almas penadas) para o mundo dos “poetas vivos”, lá nas alturas, onde a água é branca, o ar é puro e o céu é azul, depois de ter sofrido terráqueo exílio. Infelizmente, a gente – porque somos irmãos, mais irmãos do que poetas – tem que se separar e ficar aqui, criando as nossas silenciosas conversas e solilóquios, ou mais do que isto: orações. Para o espírito não há barreiras.
Não referi o segundo e o mais recente encontro nosso, há cerca de 5 anos, mais ou menos. Voltei a São Luís - MA, desta feita numa espécie de turismo de fim de semana, com a mulher. E fizemos, já na saída, um “tour” pela cidade, guiados por um amigo de lá, meu colega de profissão. Quando lhe falei no poeta Chagas Val, ele quis conhecê-lo e, então, resolvemos passar pela casa do poeta, num bairro distante do centro da cidade. Encontrei-o na sua simpatia, mas diferente: um pouco gordo. Pela cor de sua pele, pelas feições e fala, senti que não estava muito b
em de saúde. Há tempos já não nos carteávamos. Aproveitei para deixar-lhe a minha “Fortuna Crítica”, da qual não falou depois: deixara de escrever suas constantes cartas, longas, linda, amáveis. Daí, não tive mais notícia, não nos encontramos mais, quer por carta, livro, quer pessoalmente.
A notícia de sua morte foi uma triste surpresa. Que Deus o tenha na eternidade como um valioso troféu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário