Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da APL-PI
Pra começo de conversa, tudo muda, “o tempo é senhor de tudo”, minha mãe recitava em um dos seus velhos poemas. Dizia, como segurança, que era criação de um dos seus tios. Mas nunca se referiu ao nome do poeta. Desconfio que já fosse uma coisa caída na vala do popular, já não tinha dono.
Mas a vida, se bem observada, é um constante fluir. Não sei em que setor isso é mais notado. Aprendi o que é filosofia pelas doutrinas da Igreja Católica, a filosofia tomista. Eis a definição encontrada em Teobaldo Miranda Santos, em seu “Manual de Filosofia”: “É o conhecimento cientifico que, pela luz natural da razão, considera as causas primeiras ou as razões mais elevadas de todas as coisas”
Não sei se entendia ou não, mas ficava sempre em busca de mais.
Outros conceitos me vieram mais tarde, especialmente os provindos do existencialismo de Sartre e Camus, muitas vezes misturados com os do marxismo. Por falta de espaço, talvez nem todos possamos analisar aqui.
Fui aluno da Faculdade Católica de Filosofia, Curso de Língua e Literaturas Portuguesa e Brasileira. No primeiro ano, geral para as turmas dos demais cursos, estudava-se filosofia. E eu demonstrei não ser um bom aluno de filosofia, o professor era o Pe. Raimundo José Ayremorais Soares. Uma de minhas piores notas foi a de Introdução à Filosofia, talvez porque eu me recusasse a aprender qualquer filosofia que não se estribasse no marxismo da época.
Mas os tempos se foram, o marxismo também, especialmente em filosofia. Nas ciências sociais ele deixou marcas. Mas, em filosofia, quase nada. Por quê?
Porque uma filosofia baseada na dialética materialista fora codificada e se petrificara. Não tinha como sair dali. Era um túnel onde não se via sequer uma luzinha dentro. Não havia lugar para o pensamento movimentar-se. A filosofia, no sistema marxista, fora engessada.
No ocidente, entretanto, com suas altas e baixas, ela ia flutuando entre escolhos, trombando aqui, afogando-se acolá, pedindo socorro mais à frente... Mas a ciência é quem progredia. Com o marxismo ou sem ele. As religiões perdiam poder. Os dogmas totalitários – comunismo, nazismo, fascismo – caíram, por insustentáveis.
O que restou no final do século XX? Um sistema formal de democracia combinado com o princípio da liberdade de mercado.
E a ciência continua a sua progressão para tudo abarcar. E a humanidade, aos trancos e barrancos, foi saindo dos regimes tirânicos e adaptando-se aos princípios da liberdade de mercado, de ir e vir, de crescer e distribuir, de viver. Ao contrário, o comunismo só “pensava” em distribuir, mas na prática, não. A burocracia do partido único deu no que deu. Ninguém mais acredita em política marxista. Todos nós somos iguais porque somos seres humanos, mas somos todos desiguais também por isto mesmo, e só assim poderemos ter a escolha de ser humanos.
A ciência progride ininterruptamente. Quem não acredita na ciência, hoje? Nem as religiões mais “caretas”, salvo aqueles credos desumanos que colocam seus rapazinhos já com armas na mão, ensinando que quanto mais matarem, mais terão virgens a seu dispor, no céu: OS TERRORISTAS.
E a filosofia? Não há mais filosofia?
É dentro da ciência que se acolhe a filosofia, hoje. Não há mais filosofia sem ciência. Por isto é que um dos maiores estudiosos do nosso tempo, Edgar Morin, diz:
“A ciência impõe, cada vez mais, os métodos de verificação empírica e lógica. São as novas luzes da Razão. E parece que as luzes da Razão rejeitam, nos autos do espírito, mitos e trevas”.
Assim, quais são os grandes filósofos de hoje?
Pergunta difícil de responder. Pode-se pensar, inclusive, que os chamados filósofos da atualidade se escondem sob a capa de economistas, historiadores, sociólogos, etc. E isto é um perigo. O último grande filósofo, que também era romancista, foi Jean-Paul Sartre, pregando o existencialismo. Mas antes dele, já os romancistas russos Dostoiévski e Tolstói já haviam descoberto o pensamento filosófico que deságua no existencialismo sartreano e camusiano.
A filosofia virou poesia, virou romance, virou literatura, virou humanismo. Lendo os grandes poetas como Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, neles encontramos poesia. Até em algumas (poucas) musicas letradas de um Caetano, de um Vinicius de Morais – surpreendentemente.
Mas, se queremos realmente uma definição, temos que voltar a um pensador como M. Garcia Morente: “Não se pode definir filosofia antes de fazê-la. (...) Só se sabe o que é filosofia quando se é realmente filosofo”.
Tudo o que se disse é pouco. Então, voltamos ao início: Filosofia significa a própria sabedoria (Sócrates, Platão, Heródoto, Tucídides e outros filósofos gregos), e não apenas o amor à sabedoria.
E como é que fica a religião, a Teologia? Outrora todos os conhecimentos do homem se resumiam na Teologia. Depois, esta ficou tripartida como hoje, assim: - a Ciência – Trata da natureza do homem e de todas as coisas; a Filosofia – trata da alma, do espírito, da sabedoria; a Religião - trata da transcendência, logo, de Deus. O perigo das religiões são os dogmatismos e as idolatrias.
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