sábado, 9 de julho de 2016

A GRAÇA DE CADA DIA – UM LIVRO, VÁRIAS HISTÓRIAS.


Francisco Miguel de Moura
Escritor 
e membro da Academia Piauiense de Letras.

          A crônica é sempre uma conversa silenciosa, como me escreveu a escritora portuguesa Maria Helena Ventura.  Conversa deliciosa, acrescento. Quando o escritor não tem nenhum assunto em pauta, vale-se de si mesmo e constrói as chamada crônicas de memória. Há, assim, uma variedade de crônicas que não é possível nomearmos: o artigo é crônica, a história é crônica, a memória, a biografia, até o conto pode transformar-se numa crônica.

         Quando escrevi meu livro de crônicas “A graça de cada dia”, escolhi este nome de propósito, para ver se os leitores me entenderiam (eu sei que, de acordo com a gramática deveria escrever: entender-me-iam).  Parece que entenderam. E me levaram a sério. E hão de me entender porque uso aqui a colocação do pronome em desacordo com os gramáticos.

Sobre o livro, não recebi praticamente nenhuma crítica, salvo a da escritora portuguesa Maria Helena Ventura. E não me digam que não vendi o livro, não o ofertei a amigos e escritores desconhecidos do Brasil e do exterior. Minhas anotações garantem que não estou mentindo. Mas os críticos ficaram calados e caladinhos estão a respeito deste livro que fiz com tanto cuidado, trabalho, persistência e amor. Silêncio. Parece que ninguém me levou a sério ao ponto de me apontarem erros e defeitos de estilo. Nem mesmo de verificar que o título é dúbio, como a palavra graça é dúbia, como todas as palavras têm múltiplo sentido na arte.

         E por que, então, como se me queixasse, estou escrevendo isto?  Claro que a gente escreve para ser lido. O drama do escritor, hoje, é que não sabe pra quem está escrevendo. Vivemos o grande mundo da imagem cinematográfica, televisiva e das redes sociais, através do computador e, principalmente, do celular.  E foi por uma das tantas mensagens que recebi a segunda crítica séria sobre “A graça de cada dia”, nestes últimos sete anos, visto que sua edição é de 2009, sendo daquele ano o seu lançamento na AABB, por ocasião de um churrasco oferecido aos funcionários aposentados do Banco do Brasil. Foi um lançamento popular e supimpa, graças ao meu conceito junto aos colegas do BB que dirigiam o Clube naquele tempo. Depois, muito depois, eu enviaria uma mensagem aos meus amigos de uma rede social, nestes termos: Só me sinto bem quando estou rodeado de pessoas que sinceramente gostam de mim, mesmo que não digam, mas eu saiba. Por isto, minha casa é meu escudo contra todos os males do mundo. Mas também me sinto bem quando o que escrevo - tenha dor ou alegria ao concluir e editar - é lido e admirado por aqueles que gostam de poesia e crônicas, romances e contos ou quaisquer outras formas, inclusive cartas. Nesses momentos "me sinto um deus / mas um deus muito pequeno" – que Deus me perdoe usar o seu nome em tão banal vaidade, lembrando-me sempre de que “VAIDADE DAS VAIDADES, TUDO É VAIDADE”. Então, acabo de sentir uma dessas alegrias (ou vaidades), pois recebi do meu amigo, escritor José Solon de Sousa (que às vezes assina Solon Reis Jacob), a seguinte apreciação de “A graça de cada dia”, através de uma rede social que não vou referir o nome. 

        “Li, reli e li pela 3ª vez o seu livro de crônicas “A graça de cada dia”, maravilhado com o ritmo, a sonoridade. Crônicas que foram feitas para se ler o ano inteiro e por toda a vida, de tão boas! Não consegui encontrar sequer uma pior nem outra melhor. Seria contradição. Afirmo que cada uma supera a outra, sem mácula! Melhor afirmar assim: cada uma tem seu caudal de bondade e beleza, que só um “poço dos mortos” vivos e ressuscitados consegue ter! Ora, que chegada impraticável! Mas certamente visualizadas no frenesi que, mesmo em paz, não podem sossegar, e elucidam tudo! Acho, inclusive, que vou perder meu medo de almas. Adorei tudo, grande Chico! Tive vontade de mastigá-las, e mastiguei-as. Tive vontade degustá-las e degustei-as. Colá-las na interface da minha mente e colei-as como se faz na mágica da internet: copiar, colar... 
          Fico-lhe a dever todo o prazer e encantamento. 
          Abraços de Solon Reis Jacob”.

         Quanto ao assunto inicial, vou buscar apoio num dos maiores escritores e filósofos de minha admiração, Arthur Schopenhauer. Ele escreveu que “um livro não pode ser mais do que a impressão dos pensamentos do autor”.  Neste caso, posso dizer que Solon de Sousa e Maria Helena Ventura foram os únicos que me conhecem e reconhecem nessas crônicas que fui fazendo ao sabor dos dias e publicando nos jornais da Capital. Confesso que algumas crônicas do livro são realmente criadas, inventadas para contar minha verdade, como é o caso de “O poço dos mortos”.  

        Há uma variedade de temas que a capa, feita por Jota A. sugere em pequenos traços, temas que apanhei na vida, andando pelas ruas, conversando com as pessoas e interpretando-as nos meus artigos, lendo os jornais e abordando os mesmos temas com o viés de cronista. Algumas têm humor, não aquele macarrônico, que faz o gosto do povão, muitas impublicáveis. Mas na medida de quem pensa e critica, pensa e se arrepende, pensa e chora, pensa e ri também. Digamos que como um filósofo popular e não como um pretensioso humorista. Para terminar, lembro o pensamento de um clássico francês, cujo nome me foge à memória, segundo o qual “tudo que acontece de mal nas ruas é porque o homem não fica no seu quarto, quietamente, só lendo e pensando”. 

         Esse homem que ele desejava não seria nunca um cronista. Pois o que é o cronista? Um homem simples, do povo, que com ele conversa em palavras silenciosas, pensadas e repensadas, trabalhadas, feitas ao gosto da maioria dos leitores que ainda existem e resistem.

3 comentários:

www.solonreis.com.br disse...

Quanto prazer e quanta honra sinto ao ser citado em sua oração escrita!

www.solonreis.com.br disse...

Quanto prazer e quanta honra sinto ao ser citado em sua oração escrita!

CHIICO MIGUEL disse...

Muito bem, Solon. Nem precisava agradecer, pois foi melhor para mim do que pra você. Se existe quem deva agradecer sou eu, pois que suas palavras me exaltam sem adulação, mesmo porque você não é do tipo que diz para obter vantagens, vantagens que não tenho nem posso dar. Você é, sim, um gentleman.
Abraços
chico miguel

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