sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

SEU JUSTINO – O PREFEITO DE PICOS E O FARMACÊUTICO

 Francisco Miguel de Moura*



         A história de Picos, como toda boa história, é feita por pessoas, fatos e personalidades. Justino Rodrigues da Luz (Seu Justino) é uma dessas pessoas que jamais ficará esquecida pelos habitantes da cidade e do interior do município.  Ele foi seis vezes Prefeito de Picos, sendo nomeado nas épocas de ditadura e eleito nos períodos de democracia. Portanto, é ele o verdadeiro Prefeito de Picos. 

          Por outro lado, para chegar à posição de pessoa tão respeitada e querida na cidade, na vida e na política, ele se tornou farmacêutico sem sequer ter terminado o curso. Mas naquele tempo farmacêutico era como se fosse médico. Sua farmácia era uma loja e um laboratório, pois manipulava as mais diversas receitas criadas por sua prática e inteligência. Com o advento dos médicos, em Picos, além de farmacêutico passou a somar seu conhecimento aos da medicina que eles traziam.

          Os dados biográficos aqui registrados, que não são todos os que gostaríamos de saber, repetem o artigo do escritor e historiador José Albano de Macedo (Ozildo Albano), publicado no “Jornal de Picos”, em 18-12-1998.  “Por uma feliz coincidência”, anota Ozildo Abano, “no mesmo dia 12 de dezembro de 1890, data em que Picos foi elevada a cidade, nasceu Justino Rodrigues da Luz - Seu Justino – na cidade de Jaicós, filho do casal José Florêncio da Luz e Dª. Vitalina Rodrigues da Luz, o quinto dos dez irmãos. Assim, o futuro da cidade de Picos estaria intrinsecamente ligado à vida daquele que viria a desempenhar grande influência política e social junto à cidade que tanto amou”.
Justino Luz fez o curso primário em Jaicós e os preparatórios em Salvador, onde cursou a Faculdade de Farmácia até o terceiro ano. Deixou os estudos e veio estabelecer-se em Picos, fundando a “Farmácia do Povo”, em 1914, quando ainda não havia nenhum médico na cidade. Dele, Ozildo Albano afirma: “Duas qualidades foram marcantes na personalidade Justino Luz: a de político hábil e honesto e a de profunda pessoa humana que era”.

           Ele teve dois casamentos: o primeiro, com Dª. Maria de Jesus Holanda, e o segundo com Dª. Maria da Graça Rodrigues Martins, ambas de famílias tradicionais de Picos. Quando faleceu deixou duas filhas: Neuman de Jesus Luz, secretária do Ginásio Municipal de Picos, que é casada com José Bezerra Rodrigues, meu colega do Banco do Brasil, e Leda de Jesus Luz, a mais nova, que se casou com Renato Conrado da Costa. Também deixou um filho, de nome Moacir Luz, que casou com Ivone (filha de Dr. João de Moura Santos).

          Seu Justino exerceu as funções de Prefeito Municipal de Picos pela primeira vez, em 1931, nomeado que foi por Joaquim Lemos Cunha, Interventor do Estado. Mas, foi logo substituído por Filandro Portela Richard, ainda no mesmo ano. Em abril de 1932, voltou à Prefeitura, agora nomeado pelo Interventor Landri Sales. No período de 1932-1933, construiu, com a ajuda do Estado, o prédio do Grupo Escolar “Coelho Rodrigues”, que tem sua história importante no crescimento educacional e cultural da cidade. Em 1935, com o retorno do Brasil à normalidade constitucional, apresentaram-se dois candidatos à Prefeitura Municipal de Picos: Elizeu Pereira Nunes (PNSP) e Justino Rodrigues da Luz (PPP). Pela mesma ordem, as siglas se referem aos partidos pelos quais concorriam os candidatos: Partido Nacional Socialista do Piauí e Partido Progressista do Piauí. No final da eleição foi contestada uma das urnas em que Elizeu teve maioria intrigante. Procedida a recontagem, de acordo com a lei eleitoral da época, referida urna deu maioria de 11(onze) votos para Justino Luz, que foi eleito. E nessa mesma eleição o Partido Progressista do Piauí elegeu toda a Câmara Municipal, composta de 7 vereadores: Benedito Reinaldo, Cinobilino José de Neiva, Domingos Varão, Jorge Leopoldo de Sousa, Luís Martins dos Santos, Vicente Aires Pereira e Mário Rodrigues Martins.
        Em 10 de novembro de 1937, inesperadamente aconteceu a implantação do Estado Novo (Ditadura de Getúlio Vargas). Por isto Justino Luz foi destituído do cargo, assumindo a Prefeitura de Picos, o Cel. Francisco de Sousa Santos, que governou o município até 1947. Ozildo Albano enfatiza que, nesse período, “Justino Luz se voltaria às sua lides farmacêuticas, atendendo mais ainda e generosamente, àqueles que o procuravam”. E eu acrescento que não eram poucos, eu mesmo fui um dos seus clientes, quando precisei levar remédios a meu pai, que estava de cama, no interior.

           Em 13 de maio de 1947, com o retorno do Brasil à democracia, Justino Luz foi nomeado pelo eleito Governador do Estado, José da Rocha Furtado. Na próxima eleição, agora Justino Luz voltaria à Prefeitura, eleito, para o quatriênio 1951-1955, pelo voto dos seguidores da União Democrática Nacional (UDN). Nessa sua gestão fundou várias escolas no município, construiu estradas e, com o seu apoio total, o povoado “Genipapo”, com o nome de Itainópolis-PI, desmembrou-se de Picos.

        Nova eleição, período 1959-1963, e Justino Rodrigues da Luz seria levado pelo povo, novamente, à Prefeitura de Picos, provando a importante liderança que mantinha nos meios urbanos e rurais picoenses. Foi durante esse mandato, o último de sua vida pública, que o povoado “Genipapeiro” foi elevado à condição de cidade (Lei estadual nº. 1933, de 09/09/1960), tomando o nome de Francisco Santos-PI - justa homenagem ao Cel. Francisco de Sousa Santos, nascido naquela localidade e vindo ainda muito jovem para Picos, onde prosperou e tornou-se um ilustre político.

           Seu Justino, como era popular e carinhosamente conhecido, faleceu no dia 18 de julho de 1966. Tinha 70 anos incompletos. Morte bastante sentida por todos que o conheceram, parentes ou não, clientes ou não, deixando, à história, um exemplo de homem de bem e cidadão honesto.

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   *Francisco Miguel de Moura, Escritor e Membro da Academia Piauiense de Letras.

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