Escritor brasileiro e
membro da Academia Piauiense de Letras.
Quem já foi ao DETRAN para tirar algum documento sofreu como eu sofri hoje a dor da burocracia. Primeiro permita-me o leitor explicar o que diz o dicionário: Burocracia: “A classe dos funcionários públicos e especialmente das secretarias de estado; influência desses funcionários; (pejorativo) morosidade e complicação no desempenho dos serviços públicos”.
Basta de explicações intelectuais, vamos aos fatos:
Cheguei cedo ao “Espaço Cidadão” para renovar minha carteira de habilitação e logo no primeiro balcão pergunto:
- Que tenho de fazer para renovar minha carteira?
A moça me entregou uma “senha” com letras e números, logo abaixo indicando ser “preferencial” por causa da minha idade, dizendo que eu olhasse o painel e quando saísse meu número, seria chamado para tirar a guia de pagamento. Esperei. Saíam e entravam números na tela e nada de uma senha “preferencial”, mesmo constando a natureza do documento que eu procurava tirar. Perguntei a mim mesmo: “Que preferencial é esse que nunca chega e os que não são preferenciais entram de roldão e saem com o seu papel? Esperei, estava com minha mulher, que também tinha o mesmo objetivo. O papel que eu precisava para pagar finalmente foi recebido numa sala por ali. Corro ao local do pagamento (Caixa ou Banco do Brasil) e lá me dão outra “senha preferencial” e logo em minha frente entra uma pessoa (um rapaz bem jovem toma minha vez por longo tempo). Finalmente faço o pagamento, quase R$300,00 por minha carteira e a da minha mulher. De posse do papel quitado, pergunto novamente à funcionária que encaminha a todos (e a gente ainda é recebido por um guarda em cada porta). E ela me dá outro senha: “preferencial”. E a gente toca a esperar, esperar, esperar. Eram muitos, cada um com seu destino, mas sempre aquele de sofrer nas unhas do DETRAN.
E continuei recebendo senha: para tirar cópia, para receber instruções de que cópias de documentos precisava, para aguardar que seria atendido preferencialmente. A funcionária de lá de dentro de uma sala disse que deveria tirar cópia da carteira de identidade, da carteira de habilitação que ia ser trocada e do CPF. Lá fora, não somente eu como outro cliente do DETRAN concordamos que só precisava a cópia da Carteira de Habilitação, visto que nela consta o número do RG e o número do CPF. Tiramos a cópia. O certo é que nesse vai-lá, vem-cá, já eram mais de onze horas. Mas estávamos com os documentos e com nova senha preferencial na mão. Era só aguardar o computador do alto da parede enfiar em nos nossos olhos aquela preferência. Mas antes a funcionária que entrega as senhas nos disse que não podia nos entregá-las, mesmo estando com todos os nossos documentos prontos: Só depois de 40 minutos de espera. Lá vamos nós dois esperar sem (desesperar) e, eis senão quando, um funcionário do DETRAN grita de lá:
- O sistema caiu e vai voltar mais ou menos daqui à uma hora.
Todo mundo gritou de desespero, mas eram gritinhos quase inaudíveis, enquanto o funcionário volta:
- Agradeçam todos... Se ele voltar ainda agora de manhã.
Mas não disse a quem deveríamos agradecer.
Mais um tempão de espera e o tal do “sistema” chegou. Pronto. Agora era só entrar com os documentos todos e entregar à funcionária. Continuamos com a senha preferencial nas mãos e os documentos, esperando que fôssemos chamados. Enfim, fomos. Satisfeitos entregamos os documentos, e ela vem com esta:
- Cadê a cópia dos documentos?
- Quais:
- RG, CPF e comprovante de residência.
- Os dois primeiros são fáceis porque os documentos estão aqui e ali tem copiadoras, que, graças a Deus, não custam muito: apenas umas moedinhas. Mas esse de residência você não informou, está falando agora.
Ela insistiu que tinha dito e reclamei que ela não dissera, pois realmente ela não me disse – por esquecimento ou por maldade.
Já irritado, eu lhe apresentava a carteirinha de habilitação e mostrando que o documento era expedido pelo DETRAN e continha os números do CPF e do RG (identidade), dizendo-lhe que eles não confiavam nem mesmo no documento deles. Isto era um absurdo.
Mas ficou por isto mesmo: tive que ir a minha casa para pegar um documento válido para eles – pagamento de água, luz ou telefone, originais e cópias. E voltamos com tudo, pedindo a Deus que o tal “sistema” não caísse. Até ali já havíamos recebido cerca de uma dúzia de “senhas preferenciais”. Finalmente entregamos os documentos, não sem antes receber nova senha (preferencial) para tirar a foto que eles querem, tirada por eles mesmos, e esperar, esperar...
Voltamos sem o documento que a gente queria, a carteirinha, mas enchemos a barriga de “senhas preferenciais” (quanto papel gasto, meu Deus!). E, haja paciência, ainda recebemos outra senha e fomos falar com a mesma funcionária (pela terceira ou quarta vez), que nos entregou um papel que devemos levá-lo ao médico-oculista.
Sabe Deus quando vamos receber esse documento!
Burocracia, no DETRAN, recebe mais um “R”. O que era jocoso, no Aurélio (Dicionário), ficou normal, sério, e ai de quem diga não.
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