Escritor
Academia Piauiense de Letras.
Estive
refletindo poética e filosoficamente, pois esta é a minha maneira – em encadear
nossos valores numa escala bem lógica. Deve existir uma hierarquia entre eles.
Talvez não aquela das dez tábuas de Moisés, que está longe de nós e do
cristianismo, por mais que queiram nos impingir as religiões de antes dos
Evangelhos. É que depois da história dos judeus veio Jesus, e este disse e
provou que era o filho de Deus e que veio para salvar o mundo. Disse mais a seu
respeito: “Eu sou o caminho, a verdade e
a vida”. E foi ele também quem trouxe o verdadeiro mandamento do amor, o “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” e não o “não julgueis e não sereis julgados”, que nos parece, contrariar
os velhos preceitos mosaicos.
Mas deixemos a Bíblia e as doutrinas
religiosas aos que são seus pregadores e partamos para o nosso saber atual, o
do bom senso, embora não comum. Neste sentido, a vida é a essência de tudo. Fora
deste princípio só são aceitos aqueles sacrifícios de extrema generosidade,
raramente praticados pelos santos, quando dão sua vida ao próximo e a Deus
acreditando que ganharão uma segunda vida e eterna, com maior felicidade, junto
aos anjos celestiais e aos outros santos. Estes têm verdadeiramente fé.
Portanto, é sempre a vida, como dissemos a medida. E todas
as coisas do mundo são medidas pelo homem em seu benefício, pelos sentimentos e
imagens que lhe despertam o cérebro.
A vida seria tudo, mas, depois da vida, naturalmente
vem a saúde. Vida sem saúde é uma vida incompleta, não é o padrão – a doença é
um pecado ou castigo de Deus ou da natureza.
Em seguida, em terceiro lugar e valor: a liberdade.
Podemos considerar a liberdade como o espírito, não mais o corpo, não mais a
soma. É a essência do espírito. Ela completa a saúde e ambas completam a vida.
Completam? À primeira vista, sim.
Mas não, o homem é um animal social por excelência. Na
sua convivência com os outros, quer ser reconhecido e amado. Em troca, os
demais membros exigem reciprocidade. Isto é o humanismo, o amor, a
solidariedade.
É pelo amor que se transfere a herança genética aos
filhos, através dos quais o homem se perpetua como espécie? É. E e é também pelo
amor que se processa a comunhão dos homens, a sociabilidade, a
complementaridade. Porque “nenhum homem é
uma ilha” e ninguém, nenhum homem é
completo, por mais, belo, inteligente e forte que seja.
E, mesmo assim, ainda falta um quinto valor humano. Um
valor que tem ânsias de sufocar os demais porque representa o poder de um sobre
outro, de uns sobre os outros, principalmente. É, por fim, o poder sobre as coisas. É o
dinheiro.
Diríamos, enfim, que nisto se
resume a vida do homem. Seria bom se fosse verdade. Mas o homem quer mais. O
homem deseja ardentemente ser mais, ter mais, gozar mais, viver mais, gastar
mais. E quando se vê fora dessa ilusão é que procura Deus, pedindo ajuda. É a
ligação com o todo. O homem é uma parte desse todo, embora a parte mais nobre,
julgamos. Mas, parte é parte, existe separada do todo, mas nunca satisfeita,
quer ter conhecimento do todo, porque é limitada. Quer integrar-se, não quer
morrer. Daí o apelo para as religiões.
Por nossa parte, não sabemos se há outra
vida, se a gente transcende para Deus ou para, simplesmente, a natureza, de
onde veio: “pois também a Bíblia diz que “somos
pó e em pó nos havemos de transformar”“. A certeza de Deus é para aqueles
que têm e se oferecem em sacrifício, qual os santos, os mártires. Nós, no
máximo temos esperança, o que já o bom, pois dizem que “a esperança é a última que morre”. Eu diria que ela é a última que
não morre, num divertido trocadilho poético.
O homem sabe que nada sabe, dizia Sócrates. Mas,
depois dele, veio outro filósofo cujo nome esqueci, que acrescentou: “Eu nem sei se não sei de nada.” Complicado,
não é? Sim, porque “viver é perigoso”, como disse Mário Faustino. Por estas e outras
coisas. Mas, na verdade, não queremos jamais deixar a vida, que nós recebemos
de graça, por uma duvidosa outra vida, a eternidade. E é assim que quase se
fecha o círculo dos valores hierarquizados pela parte nobre da natureza – o
homem.
Dostoiévski cunhou uma frase muito repetida e pertinente:
“Confia no tempo. Tudo passa”. Para
resumir em poesia, eu construí este terceto: “Tudo é provisório, / mas Deus permanece /coerente e contaditório”. Pois
é, para muitos, Deus é o topo da hierarquia dos valores humanos. Vai-não-vai estamos lhe pedindo auxílio É
verdade que não o conhecemos ainda, talvez porque, para partes tão pequenas
como nós, no Universo, Deus só nos enxergou* uma vez (quando fomos criados) e
tornará a ver-nos quando para ele voltarmos.
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*Enxergar aqui foi empregado no sentido físico de “ver” fisicamente,
pois sabemos que Deus enxerga o universo todo, mas deu a liberdade ao homem de
agir como queira.
2 comentários:
Nossa , que lindo!! Temos muito a refletir sobre isso.Sempre bom te ler Chico.
Regina, que saudade,
Não tive tempo - ou foi preguiça? - parabenizar meus amigos e minhas amigas como você. Peço perdão, mas agora o faço com muita satisfação, pois creio estar gozando muita saúde, paz e felicidade junto à família.
Receba meu abraço de Natal/2014 e Ano Novo de 2015, que lhe traga tudo de bom que você deseja. Salvemo-nos e a poesia.
Chico Miguel
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