quinta-feira, 14 de agosto de 2014

OS CHEIROS DE TERESINA ME EMBRIAGAM


Francisco Miguel de Moura, escritor 
e membro da Academia Piauiense de Letras

      Crônica Poética:

             Teresina, menina, cajuína!
       Teresina, com rima ou sem rima, é uma riqueza, é poesia.         
       Seu perfume desperta a mente para o amor, para os amores. Seja de rosa, cravo, jasmim ou de manjericão, seja de mato agreste, seja de planta plantada nos jardins e ruas da cidade.   Mesmo os menores cheiros nos levam a pensar em algo que conhecemos, em acontecimentos que nos passaram, em músicas que foram ouvidas, em lugares que foram gravados na memória.
       Sinto os cheiros de minha cidade: mato verde na época chuvosa e até na primavera quando os pau-d’arcos (também conhecidos por ipês) “fuloram” em branco, roxo e amarelo. Não há visão melhor do que essa, nem cheiro mais agradável do que o cheiro dos ventos gerais de junho e julho, estendendo-se até agosto, especialmente quando se sobe o rio Parnaíba de canoa ou o atravessa para Timon. Mas também quando deitamos na varanda de nossas casas, diante dos quintais e jardins. Ainda existem jardins e quintais verdes nesta Cidade Verde. É o milagre do amor de seus filhos.
         Como nos tempos das rodas da Praça Pedro II, com saudade sinto o cheiro das meninas, moçoilas, das moças, enfim das mulheres passeando no “Teresina Shopping” e no “Riverside”, com os mais variados risos. E me abebero da poesia do hoje, esqueço as tristezas e contrariedades do ontem, e começo a sentir-me feliz por viver. Porque perfumes de mulher, seja namorada ou amiga, conhecida ou desconhecida, se confundem com os de Teresina. Teresina foi menina, hoje mulher. E como passaram os anos, sua feição como cidade transforma-se em metrópole, com suas virtudes e seus defeitos. Restam ainda uns restos do centro, da Frei Serafim e de uns poucos bairros como a Piçarra e a Vermelha.
        Mesmo assim desfigurada, gosto de você, onde tenho morada desde 1964. Mas, conhecia de antes. Do tempo do seu centenário, quando cantei em versos. E de antes ainda, de passeio e de viagens a serviço. Ai, Teresina, do tempo em que se podia sentar na calçada até meia-noite, jogar conversa fora com os vizinhos e visitas, pegando os ventinhos das 9 horas da noite, que correm da serra e do mar distante!  Ventos que Fontes Ibiapina apelidou de “parnaibano”. Como era bom, até bem pouco tempo, tomar sorvete na Avenida Frei Serafim ou na Praça Pedro II, depois de assistir ao filme do Cine Royal ou uma peça no Teatro 4 de Setembro. Gosto de Teresina como quem gosta de sorvete de goiaba, abóbora, bacuri, caju e manga, de todas as frutas que nos enfeitam, nutrem e engordam, enfim. Gosto da cajuína, hoje registrada como bebida genuinamente do Piauí. Gosto de Caetano Veloso porque fez aquela canção que ficou famosa no mundo inteiro, oferecida a Torquato Neto, o poeta desta cidade, pois nasceu e viveu aqui menino e parte da juventude, por isto cantou-a, cantou-a... E se encantou.
          São tantos os cheiros que trescalam e nos enchem as narinas e os ouvidos que ficamos tontos.  Assim, podemos beijar e abraçar, os nossos e os que chegam. Aqui não há ninguém de fora, todos os que ficam são nossos. Vejam o poeta Hardi Filho, que veio do Ceará, hoje um dos piauienses mais legítimos; o cronista Deusdeth Nunes (Garrincha), cearense que, certo dia, teve a tentação de voltar para Fortaleza: Voltou mas não voltou: - Logo se arrependeu e estava de volta pra nossa santa Teresina. Há muitos cearenses que ficam aqui por adoção. Dos maranhenses já nem precisa falar-se, porque somos irmãos de braços e de rio.  E os paulistas vão chegando de vagarzinho, pela verdura da soja e de outras culturas. De lá do sul, sentem o cheiro da Cidade Verde, tu, minha Teresina.
São os feitiços. Quantos feitiços! Só as mulheres sabem tê-los, e nos seduzem. Tal como na conhecida quadrinha popular, que eu resumiria em dois versos: “Não há rosas sem espinhos / nem mulheres sem ciúmes”.
     E eu diria mais acertadamente: “Nem mulheres sem perfumes”. Toda mulher tem seus feitiços e seus perfumes. Teresina tem os seus, que são inumeráveis.
Falei tanto e disse pouco: Quem te conhece, Teresina?  Não posso dizer que conheço, posso afirmar, sim, que um dia destes me perdi no Parque Piauí e, para me localizar e encontrar o que estava procurando, tive que me valer do celular e pedir a minha secretária a orientação. Teresina é pequena, cabe no nosso coração. Mas é também tão grande! E é certo que aqui faz calor, especialmente nos B-R-O = BRÓ. Mas, quando alguém se queixa do clima, costumo dizer:
       – Você já imaginou como seria uma Teresina menos quente?       Estaria cheia de paulistas, cariocas, amazonenses, goianos, mineiros e gaúchos, trazendo outros cheiros.
         Prefiro mil vezes os perfumes já conhecidos: não terei o trabalho de ficar buscando que tipo e que flor está me trazendo o ar.
       - Vem de onde?
       - Não vem, é daqui mesmo. É nosso! Talvez tenha por resposta.
       -  Bairrista?
       - Bairrista, não, dobre a língua! Sou cidadão teresinense por conta própria.
                                                                ***

      Ofereço à Cidade Verde - Teresina-PI, cidade do meu encanto, no seu aniversário, em nome de todos os cidadãos teresinenses por conta própria.
    Nota: Esta crônica foi publicada no jornal "O DIA", Teresina, Piauí, de 16-8-2014 (quando Teresina completa 162 anos de existência) ao lado de uma mensagem do Prefeito da Cidade, Firmino da Silveira Soares.

3 comentários:

Gisa disse...

Uma ode de amor por tua cidade! Bonito de ver, bonito de ler. Bjs voadores que rasgam o céu frio do sul rumo ao caloroso céu do nordeste!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
CHIICO MIGUEL disse...

Gisa:
Tem um e-mail pra você, na sua caixa. Obrigado por seu lindo, lindo, mais que lindo comentário.Meu coração encheu-se de alegria. Abraços longos e mais quentes que o meu Piauí.
Teresina, 19-8-2014

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