segunda-feira, 4 de agosto de 2014

JORNAIS: EDITANDO NOTÍCIAS E FILOSOFIA

            
 Francisco Miguel de Moura*

Para escrever artigos e crônicas não é necessário saber muito. Mas todos os que escrevem levam para os seus escritos o que viram, ouviram ou pensaram e acreditam, ao final dando a sua opinião. “Toda história é remorso”, conforme o verso de Carlos Drummond de Andrade. A notícia, a história, o conto são interpretados à luz da consciência do jornalista ou do escritor, mesmo que de forma implícita. 

Mas ainda há pessoas que dizem: “Não, eu não quero saber de crônicas. Eu quero a notícia limpa e seca. Opinião é opinião. Notícia é notícia. E pronto”. Porém, quando nos detemos nos noticiosos da televisão, podemos facilmente descobrir o que é fato e o que é interpretação. No mínimo só será noticiado aquilo que, de uma forma ou de outra, interessa à editoria, ao pensamento dos donos ou diretores do órgão noticioso. 
Como a crônica é a vida que passa e, ao mesmo tempo não passa, vai para o livro (que é mais duradouro) ou pode a qualquer tempo ser desenterrada dos jornais. E o que não é ou foi vida não interessa a ninguém. Já os artigos são acontecimentos do dia-a-dia, mais concretos que os que se registram nas crônicas, menos trabalhados porque feitos “ao correr da pena”.

Uma vez definidos os gêneros crônica e artigo, passemos a dois fatos e uma simples opinião que me despertaram para este artigo-crônica: Para não cansar o leitor, reescrevo as notícias e a opinião: “A polícia encontrou, na última segunda-feira, 28 de julho, o corpo de uma mulher que teria sido enterrada viva na zona rural de Aroeiras do Itaim, município a 337 km de Teresina. O cadáver, enterrado numa cova rasa, dentro de uma casa de taipa, encontrava-se em estado avançado de putrefação. Com o braço da vítima levantado para fora, indica que a mulher tentou sair da cova, reforçando a hipótese da polícia de que ela fora enterrada viva. A necrópsia reforçou a hipótese do delegado. O exame apontou a presença de terra nas vias respiratórias, ratificando a morte por asfixia. O principal suspeito do crime é o dono da casa, o qual mora em São Paulo e teria tido um relacionamento com a vítima”.

O outro fato: “O corpo de um homem identificado como Lineu da Silva, de 69 anos, desapareceu do túmulo de um cemitério, em Corrente do Piauí, a 818 km de Teresina, no último domingo, 27 de julho. Natural de Goiás, morreu no hospital e foi enterrado como indigente. A polícia buscou o prontuário médico e a funerária responsável pelo enterro do homem, mas até agora não tem pistas do que pode ter acontecido. A família de Lineu da Silva ainda não foi localizada”.

Agora é a vez do “astrólogo” do meu signo - Gêmeos: “Você se permite dizer coisas injustificáveis, somente porque sentiu o desejo disso. Embora esteja mesmo com sua capacidade de expressão fortalecida, vá com calma”.

Ao que parece, o que o astrólogo opina, neste signo, refere-se a mim próprio, como também aos demais do signo de Gêmeos. E se foi de propósito para me atingir? As duas notícias de antes foram enviadas do interior, as pessoas que informaram não me conhecem. Mas quem mora em Teresina sabe que escrevo para jornal e exponho minha opinião sem medo. Não é agora que vou deixar de fazê-lo. E um fato comum e conhecido é que o geminiano gosta de notícia, de opinião, de escrever. Fique, pois, aqui o aviso: Não vou deixar de escrever o que penso. Vivemos numa democracia, não é? Nas democracias a liberdade de expressão é respeitada. E se não é, devia ser. E quando não o é, essa democracia corre por um desvio perigoso: a ditadura. E ditadura de esquerda ou de direita, é sempre ditadura. Será que saímos de uma de direita, a dos militares, para logo entrar numa de esquerda comunistoide? É duro, é penoso demais. 

Já nos estarrecem os casos de desrespeito à vida e à morte, há muito tempo. Temos muito que lamentar. Aliás, NO BRASIL DE HOJE, NINGUÉM SABE MAIS O QUE É CERTO OU O QUE É ERRADO. A moral e a ética desapareceram. A desumanidade comanda através da droga e dos roubos à mão armada, pela vontade de quem age para o mal e para isto já possui até partidos, o PCC é um deles. A mulher enterrada viva é um horror: três possíveis crimes: - assassinato, tortura e tentativa de encobrimento do cadáver. O homem que desapareceu da sepultura de um cemitério indica vários crimes: desrespeito ao morto, roubo, ocultamento do cadáver, e até, quem sabe, eutanásia no hospital – visto que se tratava de um indigente.

Em todo escrito há o verídico e opiniático. As opiniões e críticas são as formas de que se vale a sociedade para comunicar e intercambiar a moral e os bons costumes, as dúvidas e as crenças, através dos movimentos políticos, científicos, religiosos ou artísticos. Até as leis podem ser criticadas. As autoridades e o homem comum, os cidadãos ricos e pobres, também. Toda ação do indivíduo ou dos grupos sociais, dentro de suas coordenadas, influem para evoluir ou involuir. Como o desejo maior do homem é evoluir, temos que buscar entender as sociedades e os estados mais progressistas, temos que saber que sem a correção dos atos delituosos, sejam grandes ou pequenos, não se irá a lugar nenhum. A tendência é degenerar e morrer. Sociedades também morrem. Só precisamos ter olhos e ouvidos para ver e ouvir, usando o quinhão de inteligência que nos coube.  
___________________
Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador, membro da Academia Piauiense de Letras, Teresina, PIAUÍ, BR.  Membro da associação Internacional de Escritores e Artistas, Toledo, OH, Estados Unidos, e da União Brasileira de Escritores, SP, Brasil.
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                        Matéria publicada no Jornal “O DIA”, Teresina, Piauí, 02/08/2014.

2 comentários:

Unknown disse...

Chico Miguel de Moura, meu querido amigo, grande e definitivo poeta que mereceria ser mais divulgado e reconhecido em todo o Brasil, faz nesta crônica, sua apreciação, sempre lúcida sobre as notícias de jornais, e de quebra, ensina a diferença entre a notícia escandalosa feita para vender o jornal, - e o artigo que caracteriza a crônica, comentário sobre algo que impressiona a sensibilidade do leitor. Que pode sinalizar uma situação de interesse geral ou uma visão poética. E que tem as suas dificuldades, apesar da "abertura"concedida pelos modernistas de primeira hora que baratinaram com os gêneros. É preciso atenção, diz o poeta. E responsabilidade, preparo- que o Chicão velho de guerra tem pra dar e vender. Abração, meu amigo. (E por que não vejo meu retrato entre os seus amigos mais queridos, como me considero e sei que sou?)
Rejane Machado

CHIICO MIGUEL disse...

Rejane,
Muito obrigado pelos comentários acima. Sei da sua admiração pela minha poesia e do desejo de que eu
fosse mais divulgado.Por isto, dou-lhe uma notícia: Uma professora da Universidade Federal do Piauí, de nome Cristiane Feitosa Piheiro, está fazendo uma tese de doutorado
em que me representa lá como uma dos autores que aprenderam a ler e que ensinam a ler, através de minha duas obras: Miguel Guarani, mestre e violeiro, e O menino quase perdido. Disse que brevemente fará algumas entrevistas. Está começando a aparecer quem - da Universidade - acredita em meu trabalho.
Obrigado por ter-me visitado neste blogue. Envio-lhe um quente abraço dos meses de B R O - BRÓ do Piauí, para você me sentir mais de perto, e eu a você, que tem suas raízes, digamos que algumas, no Nordeste.
bjs.
chico

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