Francisco Miguel de Moura
Escritor
Há algum tempo, quando fui a um banco e lá me ocupava com o pagamento de umas faturas, pus o meu cartão de CPF ao lado do cash (caixa eletrônico).. Terminadas as operações, olhei para onde tinha posto o documento e vi o canto mais limpo. Alguém tinha passado a mão. Dias depois, o mesmo se repete, só que agora o objeto era uma revista de músicas. Muitos casos semelhantes já me contaram, outros até presenciei. Foi o desaparecimento de uma revista de história, documento raro, conduzido pelo acadêmico e historiador Fonseca Neto. Ele fora à Academia, dia de eleição de novo acadêmico, por isto ficara absorvido na apuração dos votos. Quando vai sair, cadê a revista? Simplesmente desapareceu. Celulares, canetas, bolsas, objetos pessoais até de mínimo valor desaparecem como por encanto, de reuniões, na rua, nos bancos, nas repartições públicas.
Lendo o jornal “O Dia”, de 29/5/2010, dou com a vista em mais este “triste episódio da vida real”, matéria assinado por Flávio Ricco: –“O médico Malcolm Montgomery, casado com a atriz Carla Regina e conhecido pela sua participação em vários programas, há menos de 3 semanas pegou um táxi em Congonhas, entre os ‘credenciados’ que servem ao aeroporto. Sem querer, deixou cair a carteira no carro, com dinheiro, cartões, todos os documentos, além do celular. Embora exista a filmagem e ele apareça embarcando, nunca teve os seus pertences de volta. Não foi possível identificar a placa do veículo. Na semana passada, o mesmo Malcolm esteve na Bahia participando de homenagem ao médico Elsimar Coutinho, que completou 80 anos. Chamado a ocupar um lugar na mesa principal, e como não ficaria bem carregar no ombro a sua bolsa de viagem, deixou-a sob os cuidados de um conhecido. Bastou um segundo de distração, e também ficou sem ela. Isto dentro da Câmara Municipal de Salvador. Restou procurar uma Delegacia e fazer um boletim de ocorrências, o que também não conseguiu porque a Polícia Civil estava em greve.”.
Juntando uma coisa com outra, lembro que outrora os políticos diziam “nosso povo é muito bom...”, encaraptidados em seus palanques eleitorais. Com relação a isto, calaram o bico. Que diria, hoje, D. Pedro II, o mesmo monarca que cunhou a frase “Grande povo, grande povo!?” Creio que estaria profundamente arrependido. Mas o povo também não confia nos políticos e vota por dinheiro, cargo ou posição, ou ainda por qualquer migalha, sem pensar na melhoria do país onde vivem. Está claro que o Brasil transformou-se, e o povo brasileiro também. Será que ainda podemos dizer como João Ubaldo Ribeiro, escritor baiano, “Viva o povo brasileiro!”– nome de um dos seus romances que fez sucesso?
“Nosso povo” diz, à boca grande, que os políticos, as elites são terríveis: – corruptas e corruptoras, mentem, furtam, roubam o erário público, perpetram crimes, matam e mandam matar, não valem nada.
A globalização da informação, através da tevê, da internete, houve uma flexibilidade geral: crédito, moeda, sexo, política, propriedade privada, e assim o Brasil chegou a um arremedo de socialismo, um socialismo às avessas, em que a classe dirigente tem o Estado como seu, de verdade, a classe média paga os impostos e sofre, e a pobreza recebe bolsas de todo tipo, uma gracinha pra não trabalhar nem produzir. Liberada a ética e a moral de qualquer natureza, “o povo” (no sentido geral) perdeu a vergonha. Tudo é válido desde que se tire alguma vantagem de alguém: a lei de Gerson.
Conclui-se, então, que não existe um povo brasileiro. O que se vê, observa e sente é um amontoado de gente que não possui um “tico” de vergonha na cara (nem em qualquer parte). Ninguém cumpre horário nem contrato, ninguém respeita a língua, ninguém ama a pátria. Isto é, na maioria há uma falta quase absoluta de valores (salvo festas, brincadeiras, anedotas, misticismos às vezes absurdos). Vale dizer, somos gente sem religião e “sem princípios”, o que na linguagem dos antigos significava: – sem educação. Uns verdadeiros “descaracterizados”. Mário de Andrade já sabia disto, desde o começo do século XX, conforme está no seu célebre romance “Macunaíma” – o herói sem nenhum caráter – NÓS.
Juntando uma coisa com outra, lembro que outrora os políticos diziam “nosso povo é muito bom...”, encaraptidados em seus palanques eleitorais. Com relação a isto, calaram o bico. Que diria, hoje, D. Pedro II, o mesmo monarca que cunhou a frase “Grande povo, grande povo!?” Creio que estaria profundamente arrependido. Mas o povo também não confia nos políticos e vota por dinheiro, cargo ou posição, ou ainda por qualquer migalha, sem pensar na melhoria do país onde vivem. Está claro que o Brasil transformou-se, e o povo brasileiro também. Será que ainda podemos dizer como João Ubaldo Ribeiro, escritor baiano, “Viva o povo brasileiro!”– nome de um dos seus romances que fez sucesso?
“Nosso povo” diz, à boca grande, que os políticos, as elites são terríveis: – corruptas e corruptoras, mentem, furtam, roubam o erário público, perpetram crimes, matam e mandam matar, não valem nada.
A globalização da informação, através da tevê, da internete, houve uma flexibilidade geral: crédito, moeda, sexo, política, propriedade privada, e assim o Brasil chegou a um arremedo de socialismo, um socialismo às avessas, em que a classe dirigente tem o Estado como seu, de verdade, a classe média paga os impostos e sofre, e a pobreza recebe bolsas de todo tipo, uma gracinha pra não trabalhar nem produzir. Liberada a ética e a moral de qualquer natureza, “o povo” (no sentido geral) perdeu a vergonha. Tudo é válido desde que se tire alguma vantagem de alguém: a lei de Gerson.
Conclui-se, então, que não existe um povo brasileiro. O que se vê, observa e sente é um amontoado de gente que não possui um “tico” de vergonha na cara (nem em qualquer parte). Ninguém cumpre horário nem contrato, ninguém respeita a língua, ninguém ama a pátria. Isto é, na maioria há uma falta quase absoluta de valores (salvo festas, brincadeiras, anedotas, misticismos às vezes absurdos). Vale dizer, somos gente sem religião e “sem princípios”, o que na linguagem dos antigos significava: – sem educação. Uns verdadeiros “descaracterizados”. Mário de Andrade já sabia disto, desde o começo do século XX, conforme está no seu célebre romance “Macunaíma” – o herói sem nenhum caráter – NÓS.
http://cirandinhapiaui.blogspot.com
3 comentários:
Endosso cada palavra, cada pensamento seu. Reclamamos dos políticos, mas os políticos saem do povo, um povo que atualmente não se reconhece como "o povo de uma nação", a não ser na hora do futebol. Nessa hora tem até musiquinha: "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!!!"
Uma semana maravilhosa pra vc, poeta e obrigada por sua presença no Chocolate.
Beijos.
Chico,
É lamentável, mas tenho que concordar com quase tudo o que você falou. O povo brasileiro (na sua grande maioria, claro) realmente perdeu o senso do ridículo, por tudo quanto você já relatou. Os nossos desavergonhados políticos perderam, há muito, todos os valores moraes, éticos, inclusive o patriotismo. Guardadas raríssimas exceções, são todos sanguessugas da pátria. Há um dito popular que diz que "Quando se perde a vergonha, não se tem mais nada o que perder".
E o pior é que os outros poderes, de quem sempre esperamos providências nesses casos, mostram-se cegos e impotentes. E agora, José?
O brasileiro está no mato sem cachorro. Resta esperar os milagres ou as ações lá de cima.
Ninguém sabe é como vêm. Se em forma de perdão e misericórdia, ou em forma de reações "tisunâmicas" da justa Natureza, já tão cansada de açoites humanos.
Providencial e válida a sua fala, o seu amadurecido protesto. É isto aí. Não devemos deixar de estar sempre tocando nessa ferida.
Valeu, grande poeta e escritor Chico Miguel! Parabéns.
Forte abraço.
Antônio Carlos Fernandes da Silva
Isto é até engraçado poeta,porque no Brasil tudo é comum até que se prove o contrario. Bom texto,bom saber.
Estou com uma poesia nova em meu blog e gostaria de sua opinião de escritor.
Um grande abraço
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