OS MAIS DIVULGADOS SONETOS
DO AUTOR
Francisco Miguel de Moura*
Quero ter a vaidade dos caminhos:
dão passagem mas pouco dão abrigo.
Quero ter o orgulho do tufão,
Quero ter a tristeza do jazigo.
Quero sentir da tarde a lassidão
e a solidão da noite no deserto,
das pobrezinhas flores – o perfume,
como as nuvens – ficar no céu aberto.
Quero ter emoções de amor secreto,
sentir como se sente uma paixão,
pra cantar glórias e chorar amores.
Quero viver do ideal concreto,
quero arrancar de mim o coração,
incapaz de conter todas as dores.
SENSUAL ALICE
Foi na queda da minha meninice,
desaguando na minha juventude,
que me veio à cabeça esta virtude
de te gravar no coração, Alice.
Tu brincavas na areia, ondas salgadas
vinham quebrar-se nos teus pés sem pejo.
Aproveitar meu prematuro ensejo
seria um céu. Perdi nossas pegadas.
Sonho as curvas da praia, as curvas tuas
como o seio nascente que guardavas...
De tantas coisas desejei só duas.
Na noite, as mãos levíssimas de sondas...
E entre séria e risonha te afastavas,
levada docemente pelas ondas.
O QUE É A SAUDADE
Impossível saber o que é a saudade...
Uma palavra? A cor de uma tristeza?
Ou uma felicidade sem certeza
que em nós se instala como eternidade?
O que passou, passou, não é verdade?
Ou nos ficou do tempo a chama acesa?
Saudade, um não-sei-quê que traz leveza?
Ou apenas enganos, leviandade?
Está no corpo inteiro ou está na alma?
E se está, por que não nos traz a calma?
Por que nos mata assim, tão devagar?
Saudade, o teu passado é tão presente,
és uma dor que chega de repente
e que parece nunca vai passar.
O TEMPO EXISTE
Existe um tempo que sequer sentimos,
existe um tempo que sequer pensou-se,
existe um tempo que o tempo não trouxe,
existe um tempo que sequer medimos.
Existe mais: um tempo em que sorrimos,
diferente do tempo em que chorou-se,
e um tempo neutro: nem amaro ou doce.
Tempos alheios, nem sequer são primos!
Existe um tempo pior do que ruim
e um tempo amado e um tempo de canção,
existe um tempo de pensar que é o fim.
Tempo é o que bate em nosso coração:
um tempo acumulado em tempo-sim,
e um tempo esvaziado em tempo-não.
O TEMPO SEMPRE VAI
O tempo sempre vai, tempo não volta,
pois do futuro faz sua grande meta.
Caminha sem volteios como atleta,
não anda devagar nem sob escolta.
Veja o tempo da moça, ou do poeta:
Precisa sempre da cabeça solta...
Mas se em dado momento se revolta,
não volta atrás, na linha se completa.
Se o tempo humano desse para trás
seria um desmantelo em tudo mais,
a matéria em fumaça tornar-se-ia.
E, loucos, os filósofos e os poetas
trocariam as curvas pelas retas,
e nesse passo a mundo acabaria.
_________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta, cronista, contista e crítico literário brasileiro, 32 livros publicados, mora em Teresina Piauí.
Possui mais os seguintes blogs: http://cirandinhapiaui.blogspot.com
http://abodegadocamelo.blogspot.com
Possui mais os seguintes blogs: http://cirandinhapiaui.blogspot.com
http://abodegadocamelo.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário