MON RÊVE FAMILIER

Paul Verlaine (1844-1896)*







Je fais souvent ce rêve étrange et penetrant
D’une femme inconnue, et que j’aime, et qui m’aime,
Et qui n’est, chaque fois, ni tout à fait la même
Ni tout à fait une outre, et m’aime et me compreend.

Car elle me compreend, et mon coeur, transparent
Pour elle seule, helás! cesse d’être un problème
Pour elle seule, et les moiteurs de mon front blême,
Elle seule les sait rafraîchir, en pleurant.

Est-elle brune, blonde ou rousse? Je l’ignore.
Son nom? Je me souviens qu’il est doux et sonore
Comme ceux des aimés que la Vie exila.

Son regard est pareil au regard des statues,
Et, pour sa voix , lointaine, et calme, et grave, elle a
L’inflexion des voix chères qui se sont tues.
MEU SONHO FAMILIAR

Francisco Miguel de Moura
Tradutor

Tenho sempre este sonho estranho e penetrante
De uma desconhecida que me ama e que eu a amo,
Mas cada vez não é completamente a mesma
Nem toda vez é outra, e me compreende e me ama

E por me compreender, meu coração transcende
Por ela somente, ai! os meus problemas cessam
Por si só, e as gotas de minha fronte pálida,
Ela, e só ela, as sabe me enxugar, em lágrimas.

Se ela é morena ou loura, ou ruiva? Eu ignoro.
Seu nome? Só me lembro que é doce e sonoro
Como o dos amantes que esqueceram da Vida.

Seu olhar se assemelha ao olhar das estátuas,
E por sua voz tão calma, longe e grave embora,
Passa-me a inflexão das tuas vozes caras.


___________________
*Paul Verlaine (1844-1896), poeta francês "é o poeta das sensações, dos estados d'alma e das emoções. Seus versos, de grande musicalidade, atingem a perfeição da forma", segundo Michel Piquemal (in "Mes premiers poètes", antologia, 2003, Toulouse, France).
___________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro contemporâneo, nascido em 1933, segundo Henriqueta Lisboa, "os poemas desse poeta impressionam pela severidade e justeza de tons" (in Antologia de poemas escolhidos pelo autor, 2006, Teresina, PI, Brasil)