Francisco Miguel de Moura*
Acabo de chegar de minha terra, de uma viagem “em busca do tempo perdido”, das coisas perdidas, para reanimar as lembranças e as saudades. Acompanhou-me um filho com sua máquina de fazer retrato e cinema, ou seja, de fotografar e filmar, das mais moderninhas, o que não vem ao caso. Não viria se ele não houvesse registrado, entre outras coisas, o abandono em que está o “cemitério velho” de Francisco Santos (os mais antigos, leiam fazenda Jenipapeiro), no lugarzinho denominado Curral Novo, onde começou a história daquele burgo. Quando? Lá pelo meado dos oitocentos, pelos registros que temos hoje, quando duas famílias (Rodrigues e Sousa) aportaram por lá, vindas das Bahia, acompanhadas de mais duas ou três pessoas de raça negra, ou já mescladas com índios e portugueses. Falamos assim, colocando a imaginação para trabalhar, pois temos histórias da seca dos dois 7 (1877), contadas por Mãe Ana, uma de minhas avós. Tanto isto é verdade que no Cemitério abandonado de Francisco Santos há uma lápide já quebrada, rolando por entres as covas e catacumbas, com inscrição de pessoas sepultadas pelo meado do século XIX – dedicada ao major Rodrigues. Expliquei a meu filho que talvez não se tratasse de um militar, mas de um chefe de família do Império que, por seus méritos de patriarca, teria ganhado a patente, como era comum naquele tempo.
O errado é que o cemitério velho está ao deusdará, paredes caídas, animais pisoteando os túmulos, a erva crescendo à solta, comprometendo qualquer visita por mais ousada como a nossa, quando arranjamos vários arranhões nas pernas e nos braços por “juremas” e “unhas-de-gato” e o corpo todo ficou “encalombado”, com o cansanção e outras ervas e arbustos espinhentos.
Acima do único portão existente colocaram a data 1900 – ano da construção do anexo, que por sua vez, encheu-se de covas e depois de mato e abandono, como o primitivo. Ninguém vai mais visitar o túmulo dos entes queridos, por falta de condição mínima. A entrada escancarada (por falta da parede que caiu), o portão sem tranca ou aberto. E não se trata de um prédio tão grande, mesmo considerando o conjunto – o próprio cemitério e seu anexo – que não possa ser conservado por uma Prefeitura de pequeno porte como a de Francisco Santos – PI.
Minha indignação foi grande ao ver aquilo. Começa aqui a denúncia, mas vou fazer ofícios, ao Prefeito, primeiramente, e ao Conselho Estadual de Cultura (ou IPHAN), afim de que algo seja feito para a preservação do patrimônio público. Trata-se do prédio público mais antigo de Francisco Santos – Piauí, pois a Igreja foi construída somente em 1918. Depois, é a memória dos que chegaram ali e construíram aquela comunidade. Franklin, meu filho – que bancava de fotógrafo na ocasião, justo quando eu prometi que iria fazer um soneto eternizando os mortos dali – saiu-se com uma frase que considero lapidar:
– Os cemitérios são a memória viva dos mortos.
Talvez esta frase pudesse ser gravada em letras grandes, no pórtico do cemitério de Francisco Santos, caso o povo venha a levantar-se (os vivos) e as autoridades passem a escutá-lo, para o bem da história, da verdade e da vida (dos vivos e dos mortos).
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*Francisco Miguel de Moura, Escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí. Membro da Academia Piauiense de Letras - APL
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O errado é que o cemitério velho está ao deusdará, paredes caídas, animais pisoteando os túmulos, a erva crescendo à solta, comprometendo qualquer visita por mais ousada como a nossa, quando arranjamos vários arranhões nas pernas e nos braços por “juremas” e “unhas-de-gato” e o corpo todo ficou “encalombado”, com o cansanção e outras ervas e arbustos espinhentos.
Acima do único portão existente colocaram a data 1900 – ano da construção do anexo, que por sua vez, encheu-se de covas e depois de mato e abandono, como o primitivo. Ninguém vai mais visitar o túmulo dos entes queridos, por falta de condição mínima. A entrada escancarada (por falta da parede que caiu), o portão sem tranca ou aberto. E não se trata de um prédio tão grande, mesmo considerando o conjunto – o próprio cemitério e seu anexo – que não possa ser conservado por uma Prefeitura de pequeno porte como a de Francisco Santos – PI.
Minha indignação foi grande ao ver aquilo. Começa aqui a denúncia, mas vou fazer ofícios, ao Prefeito, primeiramente, e ao Conselho Estadual de Cultura (ou IPHAN), afim de que algo seja feito para a preservação do patrimônio público. Trata-se do prédio público mais antigo de Francisco Santos – Piauí, pois a Igreja foi construída somente em 1918. Depois, é a memória dos que chegaram ali e construíram aquela comunidade. Franklin, meu filho – que bancava de fotógrafo na ocasião, justo quando eu prometi que iria fazer um soneto eternizando os mortos dali – saiu-se com uma frase que considero lapidar:
– Os cemitérios são a memória viva dos mortos.
Talvez esta frase pudesse ser gravada em letras grandes, no pórtico do cemitério de Francisco Santos, caso o povo venha a levantar-se (os vivos) e as autoridades passem a escutá-lo, para o bem da história, da verdade e da vida (dos vivos e dos mortos).
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*Francisco Miguel de Moura, Escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí. Membro da Academia Piauiense de Letras - APL
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2 comentários:
"OS MORTOS NÃO DEVEM MORRER"
Francisco Miguel de Moura,belo espaço cultural, onde leio um bom escritor, meus cumprimentos, este evento eu serei uma seguidora,
com admiraçâo,
Efigênia Coutinho
Escritora
FRANCISCO MIGUEL DE MOURA, retorno ao seu belo espaço literario, e lhe convido para ler meus versos em meus dois Blogs, sendo um deixo o Link abaixo, com admiraçâo e respeito,
Efigênia Coutinho
http://efigeniacoutinhopoesiascomimagens.blogspot.com/
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