quinta-feira, 21 de agosto de 2008

DE LAURO A NILDOMAR SILVEIRA

Carta

Salvador, 27 de maço de 2007

Prezado Nildomar, boa noite

Depois que tive o imenso prazer de reencontrá-lo, no Catussaba, e o privilégio de desfrutar da sua apurada fidalguia, nos deliciosos momentos em que nos confraternizamos, passei a remoer sem parar lembranças esfareladas da minha infância que me ligavam à sua amada terra natal, berço também do meu avô paterno, Lauro Pinheiro, que faleceu aos 33 anos em Porto Murtinho (MT), deixando meu pai com apenas 7 anos.

Durante muito tempo ouvi dizer em casa que meu avô tinha sido um piauiense sonhador, que no início do século passado se havia mudado sozinho, e mala e cuia, para o eldorado matogrossense, onde se instalou e constituiu família.

Por volta dos meus 15 anos me contaram também, vagamente, que um conhecido da família havia dito à minha avó ter visto uma poesia psicografada dele, na qual o meu avô se apresentava como “advogado, poeta e jornalista” (com esses apetrechos, pode-se imaginar as agruras em que deixou a pequena família – mulher e três filhos –, ao falecer precocemente em Mato Grosso, no ano de 1919).

Muito antes disso, porém, em 1939, quando eu tinha 4 anos, meu pai, minha mãe, eu e meu irmão caçula, juntamente com os pais e tios de minha mãe, nos mudamos em peso para o Rio, atraídos pelos ventos auspiciosos que diziam soprar no então Distrito Federal (batedores da família já haviam sido despachados com antecedência para a Capital e confirmado esses presságios).

No Rio – demonstrando que as ligações familiares continuaram existindo, apesar da distância, da precariedade das comunicações, e do exílio longínquo do meu avô –, passamos a freqüentar, de quando em vez, o belo apartamento do “tio” Breno (como meu pai falava), em Laranjeiras.

Duas coisas me encantavam e me chamavam profundamente a atenção na casa desses meus tios: ele, quarentão, que parecia um nobre e bom vivant – rico, fino, educado, culto, bonito, atencioso – e a sua mulher (tia Eloáh), uma paulista de pele clara e cabelos negros que eu achava linda, elegante, meiga e fascinante.

Nessa época, eu não tinha ainda uma noção do grau de parentesco que relacionava o meu pai com o seu “tio” Breno, e muito menos com outro próximo do meu avô, que era tratado pelo meu pai apenas pelo prenome “Celso”, e que parecia não morar no Rio, eis que não me lembro de ter tido a oportunidade de conhecê-lo.

Com o correr do tempo nos afastamos pouco a pouco da família do tio Breno, que era o único elo de ligação que havia entre nós e as origens do meu avô piauiense, e terminou falecendo aos 58 anos, em 1957 – um ano depois que eu havia feito a primeira tentativa (por curiosidade) de deixar o Rio, com os seus encantos e as suas seduções.

Agora, intrigado com essas reminiscências, resolvi pesquisar com o objetivo de melhor esclarecer a minha genealogia piauiense, e tive a satisfação de encontrar no Dicionário Biográfico Virtual de Escritores Piauienses a inscrição dos nomes dos meus tios Celso e Breno Pinheiro, e também do meu avô-xará, todos irmãos e filhos do Tenente-coronel João José Pinheiro e Raimunda Lina Pinheiro”, cobertos de qualificações e referências elogiosas que muito me emocionaram.

Diante disso, resolvi resenhar esses fatos e passá-los às suas mãos, na expectativa de que você compartilhe da minha alegria com essas descobertas, que acabaram por nos aproximar mais ainda. Abraços fraternos do seu amigo de sempre,
Lauro

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Carta publicada com autorização do destinatário, Nildomar Silveira, membro da Academia Piauiense de Letras, pois que se trata de documento literário sobre os Pinheiros que ocuparam cadeiras na APL: João, Breno, Celso (pai) e Celso(filho).

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