A
DUPLA FACE HUMANA
Francisco Miguel de Moura, ESCRITOR
Hipócrates,
o pai da medicina, na Grécia (460-377) a.C. com os quatro tipos de
personalidade, baseado na prevalência de certas substâncias integrantes do
corpo, os conhecidos humores sanguíneoS, fleumático, bilioso (ou colérico) e
melancólico, deu início aos estudos do que hoje chamamos de personalidade. Nos tempos modernos, foram pioneiros nesses estudos
os filósofos John Locke e Rousseau, respectivamente da Inglaterra e da França,
séculos XVII e XVIII; o primeiro afirmava que a criança nasce vazia, tudo daí
por diante seria adquirido pela experiência; sua teoria foi, de certa forma, secundada
por Jean Jacques Rousseau, que criou o conceito do “bom selvagem”, inspirado
nos índios da recém descoberta América, pelo que o homem nasce bom por
natureza, depois é que se educa ou se corrompe. Considera-se, entretanto, que o
primeiro cientista moderno a estudar com seriedade a contradição natureza x
aquisição social, no séc. XIX, foi o inglês Francis Galton. Com base em estudo
de irmãos gêmeos, ele quis mostrar – foi o seu pecado maior – que a
inteligência e o talento da elite da inglesa do seu tempo passariam de pai para
filho, indefinidamente. Mas por todo o século XX vários estudiosos tentaram, em
seus inúmeros escritos, passar a idéia de que todas as aquisições da
personalidade humana são devidas ao ambiente, uma espécie de reação aos
horrores do nazi-facismo da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini, além
do medo do preconceito e do racismo.
Com a descoberta do
DNA em 1953, por James Watson e Francis Crick, e a divulgação do Projeto Genoma
Humano, em 2000, parece que tudo mudará de repente. Mas não é bem assim. A
cultura racista, eugenista, as teorias sociológicas e filosóficas, como o
marxismo e o existencialismo, deixaram marcas profundas na cultura do mundo
contemporâneo.
Não resta dúvida de
que, no séc. XX, neste começo de milênio, o maior conhecimento científico se
deu na biologia e na genética, melhorando as técnicas médicas. Avanço espetacular. Hoje se sabe tudo do homem pelo DNA: quem é o
pai da criança, os índices de inteligência, religiosidade, sociabilidade do
nascituro e ainda mais: quais as probabilidades de nascer um gay, uma criança
tendente aos vícios (tabagismo, álcool e outras drogas), como também se aquele
homem em projeto pode vir a ser um criminoso ou um psicótico, um psicopata ou
um diabético, ter possibilidades de adquirir um câncer ou de adoecer do
coração. No fim de contas, são apenas
tendências. Na esteira desse conhecimento, afirmam a pequena influência dos
pais e da escola, em favor da sociedade e das heranças genéticas na formação da
personalidade. Mas os pesquisadores advertem-nos que a quantificação ou
percentagem genética não é nunca um determinismo.
Esses estudos e as
considerações podem ser enfeixados na conclusão de que têm um pouco de certezas
e outro tanto de erros ou exageros. O que se pode dizer é que a natureza humana
não existe como um ser distinto e cientificamente identificável. Existe o homem
com duas faces: a herdada e a adquirida, as quais se misturam, se temperam.
Degradam-se no rumo do que se convencionou chamar de o Mal ou se sublimam no
sentido do que se chama o Bem. O homem convive com um e com outro, como convive
com a vida e a morte, numa simbiose que, por vezes parece bem natural. Mas
existem também as exceções: os santos e os facínoras. Por isto é que o homem mente a si e aos
outros, justo por não saber ainda quem é, se anjo ou demônio, se mortal ou
imortal, sempre nessa dicotomia que o faz crescer, decrescer, ou dando
meias-voltas sem encontrar um caminho.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em
Teresina, Pi. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com
Um comentário:
Acabei de ler seu texto, muito informativo e instrutivo. Uma excelente contribuição à vulgarização do Congecimento. Meus parabéns
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