quinta-feira, 11 de julho de 2024

 


 DESCAMINHOS

           Francisco Miguel de Moura*                

                   I

Veredas entre galhos e frondosas

árvores cheias de vozes pipilantes,

entre urtigas e o som das alpercatas,

os pés pisando agudos carrapichos...

Meus caminhos se foram sem um elo.

                   II

Outros caminhos piso muito estranhos

e negros como as noites sem luar,

entregues aos lanceiros e aos ladrões,

onde pássaros são tristes pesadelos.

                   III.

Entradas longas de doer na vista,

branco nenhum. É o suplicante asfalto,

placas velhas, não dizem porque vão,

entre curvas sem tempo pra chegada.

São pertos e são longes, muito longe,

mais que o tempo que temos para amar.

                      IV

Sem sentir, sem soar, parado o ar...

Arre, um pretume dentro, tão sisudo

e a sonolenta vontade de chegar!

                         V

Chegar onde? Nem mais placas se vê,

que os mutantes mandaram arrancar.

 Arre, estradas sem luz! Como acordar?

                         VI

Caminhos meus, se foram aos novelos

da vida. Tanta noite e sons malditos

perdidos, no meu peito, sem os gritos

desta alma que se morre por perdê-los.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

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