sábado, 30 de março de 2024


 

POEMA INCONCLUSO        

 

                        Francisco Miguel de Moura*

 

Um poema estornado da garganta,

que não seja meloso acima dos afetos.

Poema do meu querer concreto,

       do meu querer absurdo.

E que nenhum leitor, por mais astuto

possa mostrá-lo além do branco e preto.

Que seja assim um poema absoluto

e simples como a flor sem cor, sem nome,

que fenece perdida, ao fim da tarde.

Que todas as línguas vivam meu poema,

escondido de mim, alheio, sem razão,

universal no sangue e na desgraça...

Que a alma não sinta, não possa retê-lo,

quer ande ventos, nuvens, tempestades,

por incultos caminhos e veredas.

 

Esse poema procuro a vida inteira,

por meus buracos negros e galáxias.

                  --------------

  *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.


 

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...