Por causa de uma carta-circular, anexa a outra de 04-06-2016, dando-me parabéns por meu aniversário, ambas de autoria da Profª. Terezinka Pereira, dos Estados Unidos, faço esta réplica. Ela responde aos sócios da IWA (International Writers And Artists Association) e a seus correspondentes, a quatro perguntas que lhe fazem: 1) Porque Deus permite o sofrimento? 2) Como ter uma vida familiar feliz? 3) Onde estão os mortos? 4) Por que Deus permite o sofrimento? No documento, questiona Deus e Jesus Cristo, entre outros questionamentos.
Política, futebol e religião são indiscutíveis, entretanto não podemos deixar em branco as perguntas e respostas das quais dependem nossa vida física, moral e espiritual. Até que achei interessante, se for verdadeira, uma frase do escritor Charles Baudelaire: “Deus é o único ser que, para reinar, não precisa existir”. E é por aqui que começamos: Será mesmo que Deus não é necessário, não precisa existir?
Deus, como grande parte das religiões deístas, especialmente, as monoteístas, não foi criado pelo homem nem por ninguém, porque ele sempre existiu e existirá para sempre. É um mistério? É. Porém o homem não é capaz de desvendar tamanho mistério, até nem os menores, haja vista a ciência quando se aflige para conseguir um remédio que venha a debelar as epidemias. Se Deus não existe, nada existe, nem a Terra nem outros mundos que enxergamos (mal) daqui de onde estamos. Assim não existimos nós nem o pensamento. E por que então ficam pessoas pensando que estão pensando, vivas como se estivessem vivendo, se foi o filósofo Platão que declarou no seu tempo que “A realidade é o pensamento”? Então, existiria o pensamento sem o homem, a natureza, a comida, a água, sem a sociedade e suas organizações milenares como a família? Estas são algumas das perguntas que lanço agora para meus leitores. E passo, da mesma forma, a contestar o pensamento de nosso poeta Humberto Del Maestro de que “é mais fácil explicar a um cego de nascença, o que é o luar, do que a um descrente quem é Deus”. Explicar não podemos, nem mostrar-lhe o céu nem Deus, nem a alma, nem ele a si próprio. Mas ele sabe, desde que tenha consciência, não seja um débil mental completo, ele sabe que existe. E por que existe? E por que é cego, não enxerga os caminhos como lhe dizem os outros que tem a visão completa? Os mistérios continuam. Tudo é mistério. Mas precisamos acreditar em alguma coisa. Essa coisa já é seu Deus, um superior, porque iguais são o próximo, iguais e diferentes, que ele reconhece mesmo sendo cego e não possa ver os espelhos. O problema maior seria um cego, surdo e mudo explicar a outra cego que seja ao mesmo tempo cego, surdo e mudo qualquer coisa que não pudesse tocar. Tocar é sensação, sensibilidade. É algo que está acima de nós, chega à poesia, a todas as artes, à beleza e à bondade. Deus é a bondade e a beleza, e tudo isto chega ao espírito, à alma.
A escritora Teresinka Pereira não acredita em Jesus também, diz que ele não havia morrido na cruz nem ressuscitou, segundo pesquisas históricas recentes - não afirmando quais pesquisas, nem se são fidedignas. Ora, que eu saiba, até hoje, seriamente, nenhum pesquisador ou historiador contestou a vida de Jesus e sua morte. Tudo o que ele pregava já era da lei de Moisés e dos profetas. Nunca foram contestados os seus milagres e sua doutrina a respeito do amor e das boas ações. E mesmo que Jesus não fosse o filho enviado por Deus para salvar os homens, nós, os irmãos, seria um profeta como os dos tempos antigos e um santo como os que assim são considerados hoje pela Igreja Católica Apostólica. Eis aí uma opção para os que não acreditam em Jesus como Deus ou uma das três pessoas da Trindade, junto com o Pai e o Espírito Santo, formando um só Deus. Porque Deus é um. Não somente Jesus é filho de Deus, nós também somos uma espécie de partícula infinitamente pequena de Deus. Não experimente nos ver por nenhum meio mecânico, elétrico ou eletrônico. Nós existimos e pronto.
E sobre a família? Feliz é aquela que é composta por pessoas que se amam e se suportam, com a finalidade de prolongar a célula que tece a humanidade, dentro dos princípios históricos, morais e inteligíveis da sociedade. É aquela que pratica a humanidade, na vida comum e, por exemplo, nos hospitais, nas casas saúde, nos orfanatos, nos presídios, nos degredos. Um por todos e todos por um, isto é a família, no meu pequeno entendimento. Esqueci os cemitérios, lá também se pratica a humanidade: a honra aos mortos. À pergunta: - Para onde eles vão? Eu diria apenas: Perguntem a Deus. Para os que não acreditam em Deus, defendo a liberdade de pensar que ali tudo se acaba. Para nós outros, que acreditamos na eternidade do tempo, se “Deus é duração” como disse Ascendino Leite, é no tempo eterno que enxergamos Deus. Se alguém tem explicações melhores para as perguntas formuladas por minha amiga Teresinka Pereira, da IWA, entidade da qual faço parte como sócio, tem toda a liberdade de expressar-se da forma que pensa.
Quanto à permissão de Deus para existir o sofrimento humano, só tenho a resposta num soneto feito há muito tempo, onde digo que ele arrependeu-se dessa permissão, criando depois um paraíso sem dor, na alegria e desfrute da glória celeste para os justos e/ou perdoados. Leitores, não me peçam mais explicações - repito como minha interlocutora epistolar Teresinka Pereira - porque não tenho outras. Posso dizer apenas que sou feliz, tenho uma família feliz, somos felizes com os defeitos que temos, mas com a liberdade de expressão e o dever de ouvir o outro. E é por aí que decidimos: com amor, porque só o amor nos leva ao céu.
(Publicado no jornal O DIA, Teresina, Piauí, 02 de julho de 2016)
(Publicado no jornal O DIA, Teresina, Piauí, 02 de julho de 2016)
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*Francisco Miguel de Moura, poeta, crítico literário, romancista, contista e cronista, mora em Teresina, PI. Email: franciscomigueldemoura@gmail.com
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