Francisco Miguel de Moura*
“Jamais
me sentirei feliz se, em o sendo, possa tornar os outros invejosos” –
começo com esta frase de Ascendino Leite, grande escritor brasileiro, nascido
na Paraíba em 21-6-1915, falecido em João Pessoa há alguns anos. Ele morou
muito tempo no Rio, por força de sua profissão de jornalista, e é autor de um
dos mais belos e imensos diários de memória entre os brasileiros.
Compara-se-lhe aos grandes memorialistas franceses, ou aos mais evidentes da
atualidade de qualquer parte do mundo.
Parece-me que, em poucas palavras, ele
sentenciou muito do nosso tempo, não somente em literatura e homens de letras.
Que não devemos invejar nada de ninguém: beleza, saúde, riqueza, poder são
cinzas. A vida exige tão pouco para que sejamos felizes! Nós é que a complicamos,
baralhados nas coisas que nós mesmos fazemos e depois não sabemos com elas
lidar. Comer, beber, ler, dormir, sonhar, eis tudo, em resumo, o que seria necessário
para uma vida feliz. Como complemento, uma família grande e unida, bem
estruturada faz um bem danado de bom. Melhor do que muito dinheiro no banco e
nas financeiras, melhor que muitos títulos. Aqui falamos de títulos de papel,
zinco, bronze, ou o que for. Essa história de que quem tem mais coisas
materiais, bens que enferrujam, possa ser mais feliz, é pura balela apregoada
pela sociedade edonista e consumista que vivemos. E por falar em títulos, só há um título onde
cabe o coração e alma de quem dá ou oferece: É o livro, é um título para quem faz,
para quem recebe, para quem nele foi citado ou não, desde que o tenha lido e
incorporado ao coração, à alma, ao espírito. Como diz Ascendino Leite, em suas
memórias, “só o livro, na sua pequenês, é
capaz de abranger o infinito”.
Mas, quando abrimos a maioria das redes de TV, vemos,
a cada dia, a cada hora, o fausto do que possuem os artistas, os homens ricos,
as mulheres poderosas, um monte de tolices. Digam-me mais: Por que é que os que
adoram o futebol, não apenas gostam? Idolatria. Que vale um craque da bola que
chega às várias Copas do Mundo? Aos trinta,
trinta e poucos anos são substituídos por outros garotos, que vão ganhar
prêmios e mais prêmios, troféus e tudo mais. Por que gostam de vender montes de
troféus, prêmios, camisas disto e daquilo e entulhar novamente os guarda-roupas
(ou guarda lembranças) dos apaixonados? Tudo muda, tudo fica por aí, para o
museu (que poucos apreciam) ou para o cupim. Se o colecionador faz aquilo é
para invejar os que não participaram dos momentos importantes que eles
representam e assim sendo tornam os outros invejosos. E as atrizes, mulheres
bonitas e ricas, “poderosas”, que aparecem todo dia na tevê, dentro de poucos anos
ficarão velhas e feias, esquecidas dos fãs, não importa quantos vestidos, os
mais belos e os mais encantadores, tenham o seu guarda-roupa, com troféus dos
filmes e novelas que fizeram, dos prêmios ganhos, etc. Boa parte termina no
asilo de velhos e abandonados. Felizes são as que produziram e filhos e filhas,
as que têm família numerosa e acabam seus dias junto dos parentes - dos que
lhes sejam mais afeiçoados.
Lembrando que o escritor Ascendino Leite teve uma vida
morigerada, trabalhou no eixo Rio/São Paulo, mas, aposentado voltou para os
seus familiares, na Paraíba. Muito fez e reuniu em livros – uma espécie de “desaforismos”
em série – tanto critica quanto elogia o homem moderno, os escritores artistas,
os políticos de ontem e de hoje, embora não gostasse de fazer da política um
prato diário. Para uns poucos são “aforismos” - “desaforismos”, para outros. Na
mesma singeleza de linguagem, o que significa muito para o nosso tempo, estes
já do livro “Aforismos da Precisão”, Idéia, João Pessoa, 2003, apresentamos
frases suas. E também posso incluir frases minhas e de outros autores. Por que
não? Há um ditado popular que nos lembra as coisas que comentamos, em anedotas,
que podem ser sérias: “Dinheiro, riqueza
e sexo, só são falados pelos exibidores, justamente porque estão lhes
faltando”. E é vero, se não é,
deveria ser. Por que eu hei sair por aí dizendo que tenho muito dinheiro? Por
que motivo iria sair propalando minha macheza e potência sexual? Dinheiro e sexo andam sempre encobertos. Como
verdade ou como mentira.
Ainda uma frase de Ascendino Leite: “A história do homem nos mostra que as vidas irredutíveis ou sem
mistério são sempre vidas solitárias”, como eu diria que são as vidas de Hussefa
e Mulalá, nas quais faltam confiança em si e amor aos outros. Esses sempre se
saem mal na história.
Agora, meto o meu bedelho sobre essas filosofias,
pensamentos em frases e fases, quando uma pessoa diz que não fala em política
nem em políticos; não vota em nem participa. De duas, uma: ou essa pessoa vive
num país onde não há democracia – é governado por ditadores - ou tem medo até
de si mesma. O medo de ambos (ditadores e de si mesmo) lhes acerca sempre. Daí,
como poeta, afiguro que vivemos num país sem direção nem governo – como os dois
mencionados – governos que são gente fictícia. Daqueles que só desgovernam a si
e aos outros. Não tenho medo. Meu medo é
dos homens que tem medo de agir bem, nas horas de paz, pois esses mesmos homens
serão covardes na hora da batalha. E para terminar, lembro da frase de um radialista
piauiense, falecido, cujo nome não me vem à memória, que dizia alto e bom som: “Eu não tenho medo do doido, eu tenho medo
da doidice do doido”. Se essa é a nossa hora-fase, faço-a minha a frase do
divertido jornalista.
Nota: esta crônica foi publicada no jornal "O Dia", 9-4-2016, pg. 6 (Opinião), com o título de "Ases e Frases, enquanto o trem não vem" - Retificamo-lo aqui. O correto é o que titula esta página.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, na internet, jornais e livros. Procure inclusive nos "sebos".
Nota: esta crônica foi publicada no jornal "O Dia", 9-4-2016, pg. 6 (Opinião), com o título de "Ases e Frases, enquanto o trem não vem" - Retificamo-lo aqui. O correto é o que titula esta página.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, na internet, jornais e livros. Procure inclusive nos "sebos".
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