Esta história conta com dois personagens interessantíssimos: José e Raimundo.
Na década de 1950, a cidade de Picos – Piauí era um lugar pacato, os habitantes se conheciam muito bem e viviam numa harmonia de paraíso. Fatos também importantes aconteciam ali.
Lá morava certo garoto de aproximadamente 10 anos de idade, o qual tinha o costume de estar sempre presente aos velórios da cidade. Não perdia um, sequer.
Essa assiduidade, os leitores nem podem imaginar seu real objetivo.
Naquela época não havia funerária na cidade, tão somente alguns fabricantes de caixões mortuários, e esses eram conhecidos como “papa-defuntos”.
Mas, fazendo uma retrospectiva ao visitante nos velórios, seu nome era José, garoto esperto e muito comunicativo, às vezes, sem receber pagamentos, saía voluntariamente avisando aos quatro cantos a notícia do falecimento de alguém. A cidade era muito pequena e, com isso, facilitava esse seu trabalho.
As notícias corriam muito rápidas, igual a pólvora quando ateada fogo.
Esse garoto morava na Rua da Cruz, a hoje Rua do Cruzeiro. Por que Rua da Cruz? Segundo o livro das “Anotações de Ozildo Albano”, página 180, D. Otaviano colocou a Cruz, em 1913, para que os Maçons não entrassem em Picos.
Na citada rua, casa nº. 206, morava um senhor já de idade, conhecido por todos com o nome de Raimundo, casado com Dona Maria. A profissão dele era de carpinteiro, e para quebrar o estigma de que “casa de ferreiro, espeto de pau”, o Sr. Raimundo, na qualidade de carpinteiro, fabricou o seu próprio caixão, bem fornido, resistente, porém sem nenhum acabamento. Seus amigos, que lhe visitavam, sempre lhe diziam que, quem tem seu próprio caixão pronto e o fica vendo todos os dias, teria vida longa.
O garoto José, muito curioso, já tinha perguntado a história do caixão. Alguns lhe diziam: “tire o cabelo da venta” que você talvez nem veja o velório do Sr. Raimundo, de tanto que ele vai viver.
Falo agora do costume do garoto José: Nessa vizinhança, quando falecia alguém, não faltava café e diversas guloseimas, e era aí que o menino José se banqueteava; enquanto alguns choravam, ele se fartava no velório, com uma boa quantidade de bolinhos.
Certa manhã, o Velho Raimundo bateu as botas, morreu, e, adivinhem quem foi o primeiro a anunciar o acontecimento? O garoto José, pois morava na mesma rua e próximo à casa do falecido. Como, por falta de médico, a população era quem comprovava se a pessoa havia falecido ou não, após constatar que o Raimundo havia morrido, fizeram o velório e, após 24 horas, levaram o corpo à Igrejinha do Coração de Jesus para as últimas recomendações.
Havia muita gente acompanhando o enterro, pois o falecido era muito querido dos picoenses.
A caminho do Cemitério São Pedro de Alcântara, faltando aproximadamente uns 100 metros para a entrada no Campo Santo, a tampa do caixão se abriu. As pessoas que conduziam o féretro correram e lá ficou somente o suposto defunto, o qual perguntava:
- Para onde estão me levando?
Não ficou um pé de cristão, a cidade virou uma polvorosa, acho que ainda hoje corre gente pelo caminho de volta e por outros caminhos de meu Deus.
Quanto ao garoto José, como de costume, sempre era quem carregava a Cruz à frente do funeral, não se sabe até hoje que fim levou a Cruz.
Depois desse episódio, José não mais aparecia mais nos velórios, e o tal caixão ficou por bastante tempo em um corredor, na parte superior da casa de Raimundo Renascido, para quem quisesse ver.
_____________________
* UMA OBSERVAÇÃO: O Autor desta história fantástica, sobre uma tragédia que não aconteceu, escritor e cordelista, cujo nome completo é José Osvaldo Lavor de Lima, mora em Picos (PI), e é membro da Academia de Letras da Região de Picos – ALERP. Do conto acima não escreveu nenhum cordel, mas entre suas obras estão 3 cordéis: “Paraíso Artificial”, “Fazenda Curralinho”, “Vida e Obra de Fontes Ibiapina”, e dois livros titulados de “Poesia & Política” e “Poesia & Políticos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário