Francisco Miguel de Moura
Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras
Li o livro de José Sólon de Souza de uma pitada só. Digo pitada porque literatura pra mim é um vício. Já havia lido partes na internet. Mas não me tirou, em nada, o gosto da leitura em papel, na “boneca”, pronta para a edição. Trata-se de “Você, meu orgulho”. Que título inteligente, hem? E aí me aprofundo na leitura, indo e voltando, a meditar, e sinto que Sólon é um filósofo que a medicina emprestou à literatura. São cada tiradas de pensamento bem simples que, no entanto, nos tiram o fôlego. Por exemplo: “A quem não quiser morrer, vou ensinar a receita: ame intensamente, verdadeiramente e incondicionalmente! Pois só assim você estará para sempre presente na aura dos anjos, no plano metafísico do ser, responsável pela memória que, carinhosamente, lhe imortalizará, no coração da pessoa ou pessoas amadas”.
Isto é poesia. Isto é sentimento de verdade e de ciência, de um conhecedor profundo da alma humana. Como grande médico, não poderia ser de outra forma. O coração de Sólon de Souza esboroa de bondade, que é sabedoria, que é glória, que é poder, sem precisar de posto político. Que Deus o conserve por muito tempo.
Seu estilo é um misto de popular e clássico, denota que tem pressa, mas permanece com a clareza e a correção necessárias ao bom leitor. Ao mesmo tempo, tem atitudes firmes para narrar o que sabe (e muito sabe) e o que sente. Sensível à maioria dos erros, maldades, desprezo pela coisa pública, especialmente na área de saúde. Resoluto, quer fazer tudo sem perder tempo, porque tem uma alma grande e nobre, nobreza que chega primeiramente aos pequenos e pobres, quando se dispõe a compor poesia e música, numa linguagem muito descontraída, arte em que comunica com muito prazer e sabedoria.
Como disse noutra parte, repetindo o Prof. A. Tito Filho, os médicos costumam escrever bem, por isto há muitos escritores médicos – o que é bom para a cultura literária. Há muitos acadêmicos médicos, poetas médicos, até romancistas e contistas, porque a arte é uma das formas mais altas de transmissão dos sentimentos. E quem mais conhece o sofrimento, a dor, a alegria do que eles?
Este livro é um manancial de vida dentro sua história de vida, focando, sem reservas, a criança, o adolescente, o estudante, as dificuldades por que passou (embora vindo de família bem situada) e, depois, as grandes dúvidas na escolha de sua carreira, profissão, terminando por seguir a medicina, esse sacerdócio.
Escrever memória não é tão fácil quanto se pensa, mesmo porque é uma espécie literária para a qual não há nenhum modelo estético. Só deve escrever este tipo de literatura, no meu entendimento, quem tem algo importante para contar. E José Sólon de Souza possui. O livro divide-se em duas partes: a primeira são suas empolgantes memórias; a segunda, apresentando textos normalmente musicados ou por musicar no futuro, os quais podem ainda não ser sorvidos, entendidos e gostados pelos ouvintes de hoje, mas certamente escreve para o amanhã.
Também, para o amanhã são suas memórias. Dotado de uma fabulosa memória, Sólon tem também uma vocação forte para a história, nota-se aqui, no seu “Você, meu orgulho”. Digo, sem medo de erro, que seu livro será da maior importância para o historiador de Jaicós, pois essa cidade, que tem uma tradição invejável, não pode evolar-se na poeira tempo: tem que ser escrita.
Não é de bom tom antecipar ao leitor trechos de livro em comento. É que o leitor prefere saber na origem. Entre o que eu penso e a interpretação do leitor vai uma distância enorme. E sei que os interessados em memória e história vão ler o livro de José Sólon de Souza. Mas não posso dispensar de conferir sua reflexão ao tratar da mulher, mostrando seu pensar e sentir em relação a essa criatura divina que se encarna, objetivamente, na mãe, na esposa (ou amante) e na filha. Ele escreveu: “Confesso, com muito orgulho, que a meu ver, toda mulher já nasce divina. (...) Quem nunca se ajoelhou diante de sua musa não sabe a que veio”. E conta um caso de repentino apaixonamento seu por uma dama, mas não vou recontá-lo, pois é melhor que o leitor o sinta no seu próprio discurso. Foi, segundo ele, quando se sentiu em verdadeiro “estado de graça”.
Poeta na vida (atual), médico sempre, amigo de verdade, peço que “não esgotes jamais a fonte da tua poesia” e “cria o teu ritmo a cada momento e criarás o mundo”, nas palavras do imenso poeta Ronald de Carvalho, e por este caminho viverás e amarás eternamente. E eu, seu amigo e prefaciador, fico satisfeito em ocupar um lugar dentro do que ele chama de seu orgulho. José Sólon de Souza é médico, especialista em urologia, com consultório em Picos e em Jaicós. Também é escritor e poeta, músico e interpretador de suas próprias músicas, todas no estilo mais ou menos popular em letra e ritmo. Possui muitas comendas, muitos títulos, e agora tudo o que quer é criar e difundir cultura. Para tanto inaugurou recentemente um Centro Cultural e Comercial em Jaicós, quando houve lançamento de livros, shows e palestras durante uma semana.
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