Escritor, Membro da Academia
Piauiense de Letras
Já que vamos falar sobre literatura, que venha em primeiro lugar a definição mais concisa e correta, sempre dita nos cursos de Letras, aquela do Prof. Soares Amora: “Arte literária é, verdadeiramente, a ficção, a criação de uma supra-realidade com os dados profundos, singulares da intuição do artista”.
Há muitos anos, por aqui, ninguém sabia o que era Literatura de modo geral, muito menos Literatura Piauiense, não obstante, João Pinheiro, membro da Academia Piauiense de Letras haver publicado em 1937, pela Imprensa Oficial, o mais antigo manual de Literatura Piauiense. Penso que os estudos mais atualizados começaram com a Faculdade Católica de Filosofia (FAFI), da qual fui aluno.
Herculano Morais, nos anos 1975 e 1976, publicou dois livros cujos títulos se reportam à matéria: A Nova Literatura Piauiense, 1975, quando o CLIP via nascer seu primeiro crítico e historiador. Mas era ainda uma crítica literária voltada para os novos, e não para o geral como são as obras historiográficas. Mas Herculano Morais gostou, os professores e leitores também. E por eles incentivado, já em 1976, editava a Visão Histórica da Literatura Piauiense, aqui, sim, uma história, a qual teve logo uma 2ª edição em 1982, e continuou acrescendo-a com suas pesquisas e fazendo mais e mais edições.
A Fundação Mons. Chaves entidade que tem feito bom trabalho no sentido de editar obas históricas e obras recentes, em 1994 resolveu reeditar o livro Literatura Piauiense, de João Pinheiro, já àquela altura, com 57 anos da primeira edição. Para esta segunda edição, ela, a Mons. Chaves me encomendou uma atualização, que resultou no Posfácio à Literatura Piauiense, de João Pinheiro. Eu o fiz, sim, como proposto: informando o que houve em Literatura no Piauí, depois de João Pinheiro, usando inclusive o seu método, para distanciar-me do que julguei necessário. A “atualização” saiu em anexo, claro que no final da obra, integrando-a.
Depois disto, em matéria de Literatura Piauiense, como história, tudo parecia parado. Eis senão quando, em 2001, sob a égide do Professor Raimundo Nonato Monteiro de Santana, então Presidente da Academia Piauiense de Letras, com suporte econômico do Banco do Nordeste, saiu a 1ª ed. de Literatura do Piauí, pelo Plano Editorial da Academia Piauiense de Letras.
Este ano, já passados 14 anos daquela 1ª edição de Literatura do Piauí, a Universidade Federal aprovou-a para nova edição e realmente agora saiu esta 2ª ed. do livro, bastante revista e aumentada com novos dados jamais colocados por outros historiadores.
Agora resta uma explicação: por que Literatura do Piauí e não Literatura Piauiense? É que não gosto de imitar nem repetir nome de livros – nem literatura de ninguém, seja a própria, seja a história, a biografia, o texto. No meu entendimento, o novo nome elastece o significado. Pode abarcar os que nasceram aqui e vivem fora; os que não nasceram aqui e aqui vêm viver; e até aqueles que, não sendo da terra nem morando aqui, conseguem escrever sobre a terra: seus modos de sentir, falar e dizer.
Há uma turminha por aí que diz só existir a Literatura Brasileira. As regionais não. Mas desse mesmo grupo a que me refiro já saiu o “Dicionário Piauiês”, contemplando os ditos e falares que melhor expressam nossa gente, nossa paisagem, nossos costumes. E eu, que me julgo coerente, digo: “Literatura Piauiense é o conjunto da poesia, da ficção e do teatro (este, enquanto não representado) feitos no Piauí ou não, por piauienses natos ou não, glosando temas, modos de ser e costumes piauienses, seu folclore, seu ser social, enfim, o registro de emoções em nosso subdialeto ou no nordestino”. Após esta definição, no parágrafo seguinte, eu acrescento: “Dialeto aqui não é o dos lingüistas e gramáticos, porém o que registra o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa: S. m. Variedade regional ou social de uma língua”.
Estamos em 2015 e veio a 2ª edição de minha Literatura do Piauí, com 387 p., pela EDUFPI, de minha autoria, edição revista, ampliada e atualizada, desde Ovídio Saraiva, nosso primeiro poeta, até os escritores da última geração, sem medo de me colocar no texto do livro, porém tudo apoiado em expressões dos outros, especialmente do historiador Herculano Morais. Feio seria deixar-me de fora, por falsa modéstia, que eu não tenho. Sei que sou poeta, romancista, contista, cronista e crítico de literatura e de artes. Por isto, como ficar de fora? Se alguém depois quiser escrever uma história da Literatura do Piauí sem referir-se a meu nome e minha obra, o problema não é meu: será de quem a compulsar, notando e anotando a falha. Enfim, esta obra Literatura do Piauí, que apresentamos na Universidade e na Academia Piauiense de Letras, salvo melhor juízo, é hoje o que há de mais completo no gênero. Sei que amanhã, como tudo, será superado e reescrito por novas gerações. Mas isto não é demérito, como não foi o acréscimo posfacial que fiz à obra de João Pinheiro, como as referencias a mais e as atualizações feitas por Herculano Morais, ao longo de sua carreira de jornalista, crítico e historiador. Colocamos o CLIP, aí, por nós criado e vivido: Francisco Miguel, Herculano Morais e primoroso poeta Hardi Filho, entidade nascida nos anos 1960, já sofrendo as intempéries da Revolução dos Militares de 1964. Em 2017, o CLIP completará 50, tempo suficiente para estudar e escrever a sua história, a nossa história. E nos meus livros e nos do Herculano Morais ele ficou registrado, com todo amor e verdade.
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