Todos os que nos ferem podem, no máximo, requerer a redução da pena, o perdão ou a misericórdia, nada mais. A serenidade, a misericórdia, o perdão estão com os justos, não procuremos nos falsos, nos que só pensam em si. Os bons são aqueles que nascem com boa índole, recebem boa educação dos pais e parentes, ou por intermédio de alguma casa de caridade ou religião. E por falar em religião, passo a palavra a um jornalista que não queremos revelar o nome: “Concedemos que não haja religião superior às demais. Nem por isso todas se equivalem. Há religiões que são usadas como pretextos para a pregação da violência e a imposição dos seus dogmas. No passado remoto, o cristianismo se comportou assim. Hoje, mais cristãos são mortos do que muçulmanos radicais que se dizem perseguidos”.
Por outro lado, não louvamos nem podemos aceitar nenhum tipo de guerra, pois “a primeira vítima de uma guerra é a verdade”, disparou o mesmo escritor mencionado acima. Religião – este nome significa religar-se a Deus e à natureza. A um Deus único, esse Deus que cria, não mata, nem manda matar, roubar, seqüestrar, traficar, nem alguém viciar-se em algo que altere profundamente o corpo e a alma. O mundo vai mal por causa dos que andam por vias tortuosas, elas só nos levarão ao mal. Os meios não justificam os fins e vice-versa, por mais imperiosos que sejam, necessários, urgentes, principalmente quando esse meio é violento, quando esse fim é a morte. Para o homem, só há dois mundos: o físico e o moral. Num dos mundos, o físico, maltrata-se a natureza, sem saber ou compreender quem está em volta. E a própria natureza vinga quem com ela se mede, ou com ela se desentende. “O castigo tarda, mas não falta”, como dizia minha mãe. O outro mundo é a sociedade, a qual para existir exige a moral. No mundo moral aparecem as personalidades: o cidadão, o pai, a mãe, o filho, a família, o patrão, os governos e estados etc. Tudo isto significa família, sociedade, moral, ética, filosofia, pensamento e religião; os indivíduos terão de adaptar-se, queiram ou não, a algumas normas que os tornam civilizados. E todos, por mais que afirmem não ter religião, essa afirmação já se configura uma religião: a religião da fuga, de revolta, do individualismo – tudo que é contra a vida, a alma, Deus e a natureza.
Alguém poderá perguntar-me o que seja a alma? E eu respondo: A alma de cada um é a união indissolúvel do corpo e do espírito numa só entidade, com tudo o que recebem de graça e, por isto têm o dever de preservar. Deus nos dá a vida, mas não nos dá o direito do suicídio. O suicídio é um crime contra si mesmo, contra a sociedade e contra Deus. Não pensemos que o Deus de alguma religião de verdade manda que os irmãos se matem mutuamente, que se façam guerra indivíduos contra indivíduos, povos contra povos. A guerra é um equívoco do diálogo. Enquanto houver diálogo não haverá guerra.
Falamos nas leis, mas queremos dizer que as verdadeiras são aquelas que respeitam o direito do outro, são aquelas que compreendem e praticam as boas ações correspondentes a cada um dos direitos humanos: a cada direito há uma ação que é mostrada como necessidade. E se o outro não na respeita, deve ser castigado pela falta. O castigo nunca deve ser igual ao crime. Mas para cada crime deve existir um castigo e jamais um prêmio. Nossas leis pecam muito por serem casuísticas. Fazer leis casuísticas é fazê-las em proveito próprio ou de alguém muito próximo do próprio legislador. Quantas das nossas leis não deveriam existir?! Tantas são as leis injustas do nosso Brasil que deveriam ser revogadas! Estou falando da lei, do legislador, jamais dos bons policiais e dos bons juízes. A esses devemos imitar.
Na minha pequena opinião, todos os nossos códigos deveriam ser revogados, a partir do Código Penal, Código Civil e a própria Constituição. Mas, por quem, se os legisladores já lhes penduraram tantas outras leis, decretos, emendas que os desfiguram, pois lhes abrem tantas brechas que ficam como se fossem peneiras de peneirar farinha ou fécula.
A lei, tanto na natureza quanto na sociedade, é uma norma para toda a matéria e a imatéria, quanto para o homem e outros animais. Nada nos desalenta mais do que, anualmente, por ocasião do Natal, do Dia dos Pais e não sei que outras datas, ver-se, a título de prêmios, o governo mandar soltar prisioneiros por alguns dias. As desculpas esfarrapadas são, entre outras, irem ficar com a família. Como? Se o dito cujo preso foi parar no presídio porque feriu sua própria família ou a dos outros? Por onde andava o comportamento? Ah! – exclamam - foram soltos porque tiveram bom comportamento! Bom comportamento de presos ou de quem quer seja não merece prêmio, pois que já é uma obrigação. Pelo que se tem visto e ouvido é que muitos são pombos, mas quando soltos viram corvos e assim como as pombas de Raimundo Correia “não voltam nunca aos seus pombais” (suas celas). E o pior é que saem por aí praticando os mesmos crimes que já praticaram e até outros mais violentos. Liberdade é para quem respeita a liberdade do outro. Exigir direitos pode exigir quem respeita o direito alheio. Quem desrespeita está fora dos princípios; 1- “amar o próximo como a si mesmo”; 2 - “amar a Deus (que é dono de tudo e de todos) sobre todas as coisas”.
Quando eu era adolescente vi e pensava o quanto valia a religião ensinada por meus pais – a Cristã. Mas, como sua história foi negra, que o diga a Inquisição, muitas vezes sentia necessidade de buscar mais conhecimentos, mais sabedoria. Fui avaliando as outras que me apareciam. Terminei por me confirmar nela, por ser a melhor, a mais justa, a mais séria, a mais ligada à natureza do ser humano. A religião católica é de muita liberdade e perdão, desde que não pequemos contra o Espírito Santo. Nós somos o espírito e se espírito não quer o perdão, o que fazer? O episódio dos dois terroristas em Paris não nos deve afastar da justiça e da bondade, não. Eles, os que assassinaram os jornalistas do “Charlie Hebdo”, na França, em Plena Paris, a cidade mãe dos direitos humanos, não quiseram o perdão e preferiram ser mortos. Se eles quisessem o perdão, teriam. Entretanto iriam pagar os crimes na cadeia, presos por ter roubado a vida de tantos. Sou católico, não aceito A PENA DE MORTE, venha de onde viver – mas sou favorável à pena de PRISÃO PERPÉTUA, para quem assassina outro, por gosto e vontade, sabendo que o está fazendo.
Por isto sou Charlie: “Je suis Charlie”. “Tout est pardonné”.
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Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia de Letras do Piauí , da União Brasileira dos Escritores - SP e da Associação Internacional de Escritores e Artistas (Sigla em inglês: IWA), sede em Toledo (OH) - Estados Unidos.
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