Escritor, membro da Academia
Piauiense de Letras
No meu tempo de menino, a mãe era sagrada, santa, intocável. Motivo de briga das crianças e jovens nas ruas, fosse na festa social (baile), fosse nas festas de igreja, pois chamar o outro de “filho da puta” - desculpe-me, leitor, a grosseria da palavra - era um ofensa tamanha que mereceria juras de morte ao moleque atrevido. Casos de surras e ferimentos aconteciam.
Se comparados os costumes de ontem aos de hoje, digamos do início do século XX ao começo deste, vemos tantas diferenças que nos fazem tremer. No povoado “Rodeador”, hoje cidade de Santo Antônio de Lisboa – PI, quando eu era menino, houve um crime horrível: Uma “filha de criação”, talvez adolescente, assassinou seus pais a machadadas (na verdade, batendo na cabeça de cada um com uma “mão de pilão)”. Causou profundo abalo à comunidade. No entanto, só muitos anos depois do acontecido foi que tomei conhecimento.
Não dá para explicar, numa simples crônica, as palavras usadas e desusadas, na comparação do ontem com o hoje. De “filho legítimo”, nunca se ouviu falar em crimes semelhantes àquele. Hoje, basta abrir o aparelho de tevê, ou a “internete” e terá notícias de montão, ditas com frieza de sentimentos sobre filhos abandonados pelas mães, de mães que matam filhos e vice-versa, de filhos que matam pais e vice-versa. Por quê? Atribuo muitos crimes de hoje à desestruturação familiar. Não me canso de dizer, meus leitores, que, de modo geral, essa instituição está doente. E a doença é grave, não posso saber se já de morte. Mas a família de vez quando vai para o hospital, quando não para o hospício. Os pais são os culpados de hoje. Quando se quer xingar a mãe, diz-se apenas: “Filho da mãe!...” Quem acompanhou meu raciocínio lingüístico e social sabe por que não preciso explicar mais. Mas, “filhos da mãe”, nos grandes centros, significam “bandidos”. Nem é preciso lembrar que entre a violência de hoje e a tranqüilidade de ontem, aconteceu o desquite, o divórcio, a liberdade sexual – esta bem mais recente - com a descoberta dos anticoncepcionais. E as mulheres receberam sua alforria. Sim, mas, em contrapartida, a vergonha para os que possuíram mãe e sabem como mãe era sagrada, santa, ficou na lembrança e foi para a história. Precisava tudo isto? Vergonha também para a família, que vem se despedaçando rapidamente. Uma instituição como a família, tão antiga quanto a civilização, não pode acabar sem mais nem menos, sem violência, sem paixão.
Referindo-se à pátria, ao hino nacional, que alguns acham feio, mas eu considero um dos mais belos do mundo, há referência à maternidade da pátria, misturando assim patriotismo e família: “Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil”. O escritor José Ribamar Garcia escreveu um romance cujo título é tirado do hino: “FILHOS DA MÃE GENTIL”. Trata dos corruptos deste país, de políticos a empregados que não têm nenhuma regra de conduta. Por que a moral e a ética morreram. Não me perguntem se elas ressuscitarão. Quando analisei o livro de Ribamar Garcia não fiz referência ao título: Estava mais preocupado com a estrutura do romance, pois que sou um crítico literário. Nestas linhas devo fazer a afirmação de que é um romance de cunho universal. No conjunto é uma obra daquelas que chamaria imperecível. É seu melhor romance. Lá ele não trata do assunto mãe, mas do Brasil atual e de seus filhos corruptos.
De tudo, minha observação especial é a de que os homens, do passado ao presente momento, foram melhorando, abrandando-se no governo “da moral e dos bons costumes”. A mulher não deveria ser escrava ou uma meia-pessoa. E daí partiram para os bons sentimentos, tanto que hoje é fácil ver-se o homem cuidando dos filhos com carinho, diferente de antigamente, ajudando a companheira na tarefa ingrata. Foi uma compensação ao afrouxamento das regras estabelecidas pela sociedade “só para as mulheres”, donde surgiu a modinha popular que dizia: “A mulher deve casar, meu irmão, mas o homem, não”. Mulher casada era casada mesmo, mas o homem casado era livre para tudo. Hoje, pai tem filhos, sim, e sofre por isto. As leis obrigam-no a sustentá-los, a se tornarem adultos, mesmo que seus rebentos habitem com a mãe. E há uma das nossas leis que, não cumpridas, levam os pais à cadeia – a da pensão alimentícia. Da cadeia, salvam-se apenas os ricos. O dinheiro é a mola-mestra de nossa sociedade depravada. Assim, a supremacia do homem acabou-se e a “cornice” também deixou de ser um labéu. Mas tradição é tradição: - A mãe é quase sempre agregadora e os pais quase sempre dispersivos, diferenças naturais que a sociedade não conseguiu removê-las.
Assim, nosso dever é dar parabéns a todas as mulheres que têm filhos, sejam mães gentis ou não, neste 2º domingo de maio. Elas fazem por merecer. E parabéns por todos os seus ganhos no evolver da sociedade.
______________________
Nota: Crônica-ensaio onde focalizo as mães (no dia das mães), os pais e os filhos, embora sob um ponto vista saudosista e, às vezes, irônico, abrangendo assim a família brasileira da atualidade.
4 comentários:
Bom dia Poeta! Chico Miguel!
Quanto mais te leio,mais te admiro,mais te respeito.
Obrigada por compartilhar tua sabedoria, tua inteligência, teu carinho, com esse texto maravilhoso.
Um abraço e mais uma vez obrigada em nome de todas as mães...
veraportella
Olá Chico Miguel! Passando para te cumprimentar e apreciar esta bela, profunda e verdadeira crônica. Lembrei-me da minha querida e inesquecível mãe, a quem agradeço os puxões de orelha, os castigos, as palmadas e, principalmente, a dedicação e o grande amor a mim dedicado, responsáveis por me tornar o homem que hoje sou.
Aproveito para enviar meu beijo e parabenizar todas as MÃES do mundo.
Abraços,
Furtado.
Bom Dia Amigo Poeta.
Sou sua seguidora a algum tempo ,
mais confesso hoje cheguei através
da Verinha.
Agradeço pela linda postagem desejo um feliz dia das mães.
Eu não tenho mais a minha rainha
mais amor verdadeiro não morre nunca perpetua -se eternamente.
Abraços e carinho no seu coração.
Evanir.
Evanir,
É verdade, amor quando é verdeiramente sincero, e o dos filhos para os pais e vice-versa normalmente são, não se acaba nem a gente esquece. Minha mãe morreu faz muito tempo, mas faço poemas e rezo por ela,com muito carinho.
Obrigado pela visita. A Verinha Portella é uma amiga, um amor de pessoa e poeta, nós nos visitamos sempre com abraços e beijos,o mesmo para você de agora em diante.
Chico Miguel
Postar um comentário