sexta-feira, 17 de junho de 2011

UM POETA EM SUA PRAIA - CRÔNICA

                                 

 Francisco Miguel de Moura*


Possuímos uma casa em Amarração, praia de Luís Correia, norte do Piauí, durante cerca de 20 anos. Naquele tempo, a gente viajava nos começos e fins de mês, sem contar as temporadas de julho e janeiro, quando ficávamos curtindo, todo o mês, a linda, limpa e mansa praia de Amarração. Depois, nossas idas foram rareando, a idade avançava, muitas outras coisas aconteciam... E como as despesas de manutenção da casa iam sempre a crescer, resolvemos vendê-la. Esperava-se, também, um desenvolvimento mais acelerado da região, que não aconteceu: porto, estradas, urbanização da cidade e das praias, nada vinha. Tudo continuava no mesmo ponto estacionário: o abastecimento de água, a inconstância da eletricidade, os canais de tevê sem sinal... Por algum tempo, demos costas à nossa praia, como se estivéssemos cansados dela.

Mas, um dia destes, meu filho Júnior convida a irmos passar a Semana Santa lá, na praia. Uma maneira de as famílias ficarem juntas, gozando suas delícias, agora já urbanizada recentemente, à maneira das demais que conhecemos: Fortaleza, São Luís, Salvador. Ele encarregou-se de arranjar os alojamentos: um apartamento na Colônia de Férias da OAB e um chalé na Colônia de Férias do Sindicato dos Bancários. Não dava pra ficar todos juntos, num prédio. Numa manhã tranqüila, saímos. E, logo de cara, enfrentamos os percalços do trânsito, numa manhã de grande chuva.  Dirigindo devagar, parando o carro onde alguém desejava fazer uma necessidade ou tirar uma foto: ele, Miguel Junior, dirigia o seu “Renault”, onde se acomodavam Ana, Tainá, Tairine e Jéssica; e eu dirigindo o meu “possante" Clio, com Mécia e Mecinha – por coincidência ambos os veículos comprados recentemente na Via Paris.

Graças a Deus, não houve nem acidente nem incidente, chegamos na hora e dia aprazados, em paz. Almoçávamos juntos e juntos fazíamos a última refeição do dia. Por isto esta crônica nem devia existir: Se nada acontece, nada se conta. Mas, não. De acordo com o que penso ser um incidente, houve um. Um incidente coincidente. Foi na hora das fotografias.  Tiraram-se tantas fotos nessa viagem quanto na de um rei ou de uma rainha da Inglaterra. Encheram o computador. Passam-se horas para que sejam apreciadas todas. Eu sempre digo que não quero ver fotos minhas dos anos 1980 para cá, fico com as dos anos  1970 e seguintes, para trás. Não é necessário ser bonito, a beleza só é fundamental porque tem seu fundamento na plástica e esta não se mantém fora do tempo – que pouco dura. Assim, mesmo os feios – eu sou um deles – se comprazem na juventude, na frescura da mocidade e em parte da madureza, quando tudo é verde, alegre e tem graça, por isto é que os sorrisos merecem lugar especial. A beleza, no sentido em que Vinícius usou a frase, rouba muito do frescor da mocidade. Beleza sem saúde e mocidade não é fundamental. Nunca me enganei.

A permanência em Amarração, na Semana Santa, foi ótima, mesmo estando eu sofrendo de uma depressão que não me deixa em paz. Para espairecer, saímos na noite, por insistência do Júnior, para ver praia, o calçamento, as construções que a contornam, sentir a beleza da lua, o gosto da brisa trazendo os fluídos do mar. Ele nos foi mostrando as paisagens, desde a parte ocidental onde ficará o porto até o oriente onde fica a praia do Coqueiro, foi nos mostrando os encantos da terra, depois o trabalho de Deus e do último governador. E por onde a gente ia, a máquina fotográfica trabalhando...  Sentamos num daqueles bancos normais de toda praia, como o de Copacabana onde sentou Drummond e foi fotografado, cuja imagem deu origem ao monumento, na bela cidade do Rio de Janeiro. Assim, quando menos eu esperava, lá me perpetuavam em foto, quase na mesma posição do Drummond, sentado num banco, de costas para o mar.

- Tirei uma foto sua, pai, como aquela de Drummond.

- Mas eu não sou Drummond, eu sou o “Chico Miguel, o poeta do Piauí”, como escreveu o escritor, médico e filósofo Eduardo Maffei, um dos maiores amantes de Teresina e quem primeiro fez uma reportagem sobre a Pedra do Sal, publicada pela revista “O Cruzeiro”.

Não poderia esquecer, aqui, também o inolvidável cronista de Teresina, mestre A.Tito Filho, que me dizia: “Você é o Drummond do Piauí”. Se escreveu nalguma lugar, não sei. Mas vale lembrar a frase agora, uma bela ocasião para comemorar a poesia. Por isto, embora gostando do elogio, continuo a dizer que “sou muito eu, respeito o mestre, mas sou diferente”.
http://cirandinhapiaui.blogspot.comhttp:/abodegadocamelo.blogspot.com 
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, poeta e cronista, mora em Teresina, Piauí.

7 comentários:

Gisa disse...

Deliciosos momentos em família como esses são sempre para serem lembrados. Adoro a tua escrita, fui capaz de te ver na fotografia à Drummond, mas sempre como Chico Miguel.
Um grande bj por ontem, data do teu aniversário. Muita saúde, paz e amor de todos que te cercam.Desculpa não ter escrito ontem, no dia de fato, mas estava defendendo uma dissertação de mestrado. Fui aprovada com A e alguns dizeres elogiosos por parte da banca e estou feliz...
Um grande bj querido poeta, para Mércia também.

CHIICO MIGUEL disse...

Querida Amiga,
fico muito sensibilizado por suas gentileza, sei que contêm o que o coração humano e generoso, mesmo de longe, me deseja. Obrigado pela lembrança e pelas leituras, você sempre a primeira que me vem e me comenta. Mécia também manda abraços
Mil felicidade pra você, parabens pela aprovaão no curso de mestrado.
Torço pelo seu sucesso na profissão, na vida e na arte.
Mil abraços e beijos
Chico Miguel de Moura

Clotildes disse...

Oi, poeta!
Concordo plenamente. Eu também não aprecio muito a mania atual de tantas fotos. Às vezes me parece que hoje em dia tirar fotos é mais importante do que estar presente no lugar naquele momento e senti-lo, apreciá-lo. Também concordo com relação à sua alusão a Drummond, a singularidade de cada um de nós é o que existe de mais maravilhoso e apreciavél neste mundão. Imagine em se trantando de poetas!!!...

Edilson Pantoja disse...

Olá, Chico! O sentido de tua crônica vai além, muito além das referências à praia, ao passeio, às fotos. É do existir que falam, amigo. Não é? E aí não dá para traduzir ou comentar a mais. Basta-me dizer que, de algum modo, sei do que falas. E como sinto, na crônica, o poeta. Poeta do Piauí e de outras plagas!
Abraço!

Lua Nova disse...

Estava revendo alguns comentários em meu blog e encontrei um seu o que me deixou surpresa e feliz. Um comentário lindo! Quero agradecer e dizer que espro que vc apareça mais pois sua presença enriquece meu espaço.
Seu texto é primoroso e a foto sensacional: o mestre poeta do Piauí. O progresso é necessário mas nos arrebata a simplicidade e a calma necessárias a alma. Pior, nos faz esquecer de que somos parte da natureza.
Meu caro poeta, deixo aqui meu carinho e o convite sincero para que apareça com mais assiduidade.
Beijoka.

CHIICO MIGUEL disse...

Meus caros visitantes Pantoja e Lua Nova, é uma satisfação ter vocês como leitores,pelos menos esporadicamente. Passei por seus blogs e deixei minha marca de pois de alguma postagem. Nessas visitas tenho aprendido nunca. O intercâmbio seá sempre saudave,
abraços
chico miguel de moura.

CHIICO MIGUEL disse...

PANTOJA e LUA NOVA,
Caros comentaristas, desculpem os erros do meu comentário acima: Nas visitas a seus blogs tenho aprendido como nunca. O intercâmbio será sempre saudável. Muito obrigado por tudo, é uma honra tê-los como visitas.
Creio que vocês compreendem a pressas e às vezes o cansaço.
ABRAÇOS A AMBOS

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