segunda-feira, 30 de maio de 2011

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - “POR UMA LÍNGUA PIOR?”



 Francisco Miguel de Moura*


Um tiro recente sobre a nobre língua portuguesa assustou os amantes das obras de Camões, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Rui Barbosa, Drummond, Olavo Bilac, Gonçalves Dias e tantos outros grandes autores, os quais devem estar tremendo em suas sepulturas. Trata-se da consagração da ignorância distribuída pelo Programa Nacional do Livro Didático, por todas as escolas do ensino fundamental do Brasil, através do livro “Por uma vida melhor”, de Heloísa Campos, da série "Viver, Aprender". E não foi a primeira vez que o Ministério da Educação bateu fofo, sob a batuta do PT. Enumeremos alguns outros recentes: A fraude do Enem, em 2009, quando foram roubadas provas dentro da gráfica responsável pela confecção dos testes; no ano seguinte, os erros na impressão das provas; a denúncia de fraudes no Prouni, com estudantes beneficiados pelo programa, os quais não se enquadravam nos limites de renda; o episódio da sobra de vagas, principalmente no caso das bolsas parciais e no programa de educação à distância, o que demonstraria uma falha administrativa, são os apontados pela revista “ISTO É”, desta semana (25.5.2011). Além disto, é notório que as entidades internacionais de fomento não se cansam de advertir sobre o grande gargalo do desenvolvimento do Brasil: o baixo nível da educação – tudo isto para resumir a miséria a que foi relegado o futuro da juventude brasileira.
Foi um susto, pois é insensata e inaceitável a autorização e distribuição de um livro que trata mal a língua portuguesa, ainda mais porque sua presença abrangerá toda a rede de escolas do ensino fundamental, com finalidade didática, isto é, para ser um instrumento de aprendizado, onde a fala errada do povo é lecionada como português correto. Sinto muito, orientadores do MEC, que vocês considerem corretas as expressões como “Nós pega o peixe”, “os menino pega o peixe” e outras semelhantes, ensinando às crianças como dignas de serem faladas e escritas. Dessa forma, os meninos não pegarão jamais o peixe.  Ao contrário, vão, sim, pisar na bola, como a autora, quando forem redigir uma carta ou ofício, quando forem fazer um concurso, quando... Em tudo. As línguas têm sua variante familiar, doméstica, que não precisa ser ensinada, e o seu padrão normal, oficial ou clássico, como o queiramos chamar, que deve ser o ensinado na escola, pois não se elevará jamais o padrão educacional do povo, nivelando-o por baixo. Quem estudou Lingüística, matéria nova, no curso superior, sabe que é ciência, é experimento. Mas, na escola fundamental, estuda-se mesmo é gramática e leitura dos bons autores, para uso durante toda a vida. Os defensores do erro são certamente pseudos intelectuais ou políticos frustrados, travestidos de cientistas, que apostam na ignorância do povo, para terem votos e consciências compradas para sua eleição, ou para a aquisição de seus altos empregos burocráticos. Se há falta de escolas, vamos criar mais; se há deficiências na educação, vamos supri-las... O certo e o errado são distintos como a água e o fogo, senão dois mais dois seriam cinco, e valem enquanto permanecem os princípios em que se arrimam. Não importa a letra da canção. Assim devem ser os livros da escola.  É preciso compreender que todas as nações têm seus símbolos sagrados: a bandeira, o hino, a língua... E o direito à comunicação oral e escrita pela língua oficial é sagrado, faz parte da cidadania. Um erro gramatical é um erro contra todos que falam aquele idioma. Napoleão Mendes de Almeida, famoso gramático de várias gerações de brasileiros, escreveu: “A língua é a mais viva expressão da nacionalidade; saber escrever a própria língua faz parte dos deveres cívicos”. E o povo somos todos nós, não apenas os pobres incultos, e estes têm de ser incluídos não somente através dos direitos ao trabalho, à justiça, à saúde, à segurança, mas também através do direito à educação. “Por uma vida melhor”, livro de HC, distribuído às escolas, deveria ter o título de “Por uma língua pior”, não acham, leitores? Nós, professores e escritores, vivemos criticando a TV Globo, por causa de alguns erros de pronúncia que por ela circula. Pronúncia é fala. Mas, agora, esta não. “Verba volant, scripta manent”. A sacralização de erros didáticos, na escrita e, por extensão na arte e em documentos, é demais!
Não temos nada contra quem escreve e publica livros errados, polêmicos, sei lá.  O direito à liberdade de opinião é de todos. Cada um responderá perante a polícia e a justiça, por seus pecados. Mas, o MEC, órgão oficial, que tem a obrigação de cuidar bem e da melhor maneira possível do setor educação, não pode ser poupado. O caso é indefensável, por mais que alguém queira forçar a barra. Os governantes destes últimos anos, depois do governo Fernando Henrique Cardoso, precisam acordar, ou aprender, que o povo não é somente o pobre, o sindicalizado ou, sem generalizar, quem tem ficha no PT. O povo são todos, ricos e pobres, brancos, pretos e amarelos, japoneses, alemães, polacos, católicos, evangélicos, budistas ou judeus, eleitores do partido A e do partido B. Entender os princípios que norteiam a nação brasileira é o começo da integração.  Em seguida, é só estudar, trabalhar, amar e viver a cidadania a que tem direito.

http://cirandinhapiaui.blogspot.com 
________________
*Francisco Miguel de Moura,escritor e membro da Academia Piauiense de Letras.

3 comentários:

Rosemildo Sales Furtado disse...

Olá amigo! Estava passeando, quando de repente avistei o teu lindo espaço. Daí, não me contive, invadi, gostei, e não resisti em dizer que estou ficando, pois aqui é o lugar ideal para um bom aprendizado.

Lamentavelmente, esta é a realidade do momento, assisti na televisão algo sobre o assunto. O Brasil está como caranguejo, ou seja, andando para trás.

Abraços e um bom dia pra ti e para os teus.

Furtado.

CHIICO MIGUEL disse...

Rio de Janeiro, 24, junho, 2011

Meu amigo Miguel de Moura:

Irretocável seu artigo “MEC- POR UMA LÍNGUA PIOR”. Perfeito. Meus parabéns.

A ignorância e a má-fé apossaram-se do MEC.
Recentemente, tiveram o atrevimento de censurar Monteiro Lobato. Logo Lobato, o gênio a quem o Brasil tanto deve.

Agora, incluíram no Programa Nacional do Livro Didático esse “Por uma Vida Melhor”, que não passa de uma apologia ao analfabetismo. Livro editado pela Editora Global, aliada a uma tal de ONG Ação Educativa, que vendeu ao MEC meio milhão de exemplares. Há algo de podre nessa história. Qual o critério de escolha da obra? Quanto o MEC pagou por esses exemplares? Quem autorizou essa compra?

O Ministro (?) da Educação já se manifestou publicamente, dizendo que quem for contra o livro tem “viés fascista”. Imagina, quanto cinismo, deturpando a semântica da palavra. Fascista é ele, que utiliza dinheiro público para fazer apologia ao analfabetismo. Ele, sim, fascista assumido, que usa a coisa pública como privada (vale a cacofonia). E pior, um arrogante que se julga dono do estado.

Essa venda merece uma investigação séria. Que já devia ter sido tomada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Mas, cadê essas instituições? Espera-se delas, agora, o mesmo empenho que costumam ter quando atuam contra certas minorias.

Sem mais,
meu abraço
José Ribamar Garcia.

CHIICO MIGUEL disse...

Rio de Janeiro, 24, junho, 2011

Meu amigo Miguel de Moura:

Irretocável seu artigo “MEC- POR UMA LÍNGUA PIOR”. Perfeito. Meus parabéns.

A ignorância e a má-fé apossaram-se do MEC.
Recentemente, tiveram o atrevimento de censurar Monteiro Lobato. Logo Lobato, o gênio a quem o Brasil tanto deve.

Agora, incluíram no Programa Nacional do Livro Didático esse “Por uma Vida Melhor”, que não passa de uma apologia ao analfabetismo. Livro editado pela Editora Global, aliada a uma tal de ONG Ação Educativa, que vendeu ao MEC meio milhão de exemplares. Há algo de podre nessa história. Qual o critério de escolha da obra? Quanto o MEC pagou por esses exemplares? Quem autorizou essa compra?

O Ministro (?) da Educação já se manifestou publicamente, dizendo que quem for contra o livro tem “viés fascista”. Imagina, quanto cinismo, deturpando a semântica da palavra. Fascista é ele, que utiliza dinheiro público para fazer apologia ao analfabetismo. Ele, sim, fascista assumido, que usa a coisa pública como privada (vale a cacofonia). E pior, um arrogante que se julga dono do estado.

Essa venda merece uma investigação séria. Que já devia ter sido tomada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Mas, cadê essas instituições? Espera-se delas, agora, o mesmo empenho que costumam ter quando atuam contra certas minorias.

Sem mais,
meu abraço
José Ribamar Garcia.

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