Não gostaria de escrever sobre nenhuma tragédia natural ou humana. Entretanto, pelas descrições que temos dos astrônomos, o Universo inteiro é feito de tragédias. Algum pensador também já disse que a história humana é a história de suas guerras. Meu gosto de poeta é admirar o espetáculo da natureza e os espetáculos do mundo humano, em suas belezas, de longe ou de perto. Mesmo assim, não vejo como não referir realidades e saberes que afetaram e afetam o homem e vice-versa. Não vejo como não referenciar o sofrimento do povo japonês, na tragédia dos violentos tremores da terra e tsunamis deste começo de 2011, causada pelos abalos sísmicos que ocorrem no interior do planeta Terra. Que povo contido, calmo, organizado, civilizado, num quadro tão agonizante!
Mas, pelo menos neste momento, precisamos refletir que nós, a Terra, somos apenas um entre outros tantos planetas e corpos celestes em redor da estrela dominante, nosso bendito Sol. Nosso universo é o da Via Láctea, interligado a outros, imensos, de forma que o pequeno, o mínimo, o ínfimo não será visto nem sentido pelas grandes tragédias comuns que ocorrem na movimentação desse colosso. Vida é movimento, visível ou invisível, medível ou não. Sem movimento não há vida, não há nada, e nada é perfeito. O que é a perfeição? Sabemos ao menos quantos universos existem? “Este bicho tão pequeno”, como diria Camões, não é um ser necessário ao Universo, nem ao menos à Terra. Nós somos um acidente (ou incidente) feliz, pelo menos até agora, nesse todo. E por falar em acidente e incidente, seja do tipo nuclear ou não, ousamos tentar um distinção entre as duas palavras, tão usadas quando acontecem fatos incomuns, aproximando as duas realidades. Acidente, segundo o Aurélio, “é um acontecimento casual, fortuito, imprevisto”. Os três maiores acidentes nucleares da história foram Hiroxima e Nagazaki, (Japão), 1945; Chernobil (Rússia, Ucrânia), 26 de abril de 1986; e este (Fukushima (Japão, novamente), no norte do país, neste 2011, cuja dimensão ainda não sabemos. Não menosprezemos Hiroshima, foi o primeiro “acidente” ou “incidente” nuclear da história, as bombas sobre Hiroshima e Nagazaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente. Foi um “incidente” na II Guerra Mundial: Os Estados Unidos, propositalmente, fizeram o primeiro teste nuclear fora dos seus laboratórios, para ganharem a guerra – tragédia humana para os japoneses – cujos efeitos danosos, materiais e espirituais, ainda hoje são sentidos. No segundo, houve descuido, imperícia ou incompetência dos russos. No terceiro, conjugaram-se as forças da natureza (abalos sísmicos) e as mesmas forças da natureza manipuladas pela ciência humana (as usinas atômicas e seus vazamentos). A palavra incidente, segundo Aurélio, significa “circunstância acidental, episódio, aventura, peripécia.”
Será que esses acidentes / incidentes influíram / influem no aquecimento do Planeta, na destruição da camada de ozônio? Certamente. Quando se fala em Universo, tudo que acontece influi. E como se não bastassem os acidentes (ou incidentes), o homem continua a mexer indefinidamente na terra, arrancar dela tudo o que podem e produzir detritos maléficos criando o que ele mesmo não sabe criar nem pode destruir: tralhas que perdurarão milhares, talvez milhões de anos para serem absorvidas pela natureza, gazes e fumaças empestando o ambiente de vivência humana.
Creio que ainda há tempo de os governos e as cabeças pensantes (os cientistas) enveredarem pelo terreno da criação de energia limpa, energia do sol e dos ventos. Paz à Terra!
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras, da União Brasileira de Escritores-SP e da International Writers and Artist Association (IWA), Estados Unidos.
2 comentários:
Ainda bem que escreveu meu amigo, pois nunca li algo tão claro quanto a esse texto.
Muito obrigada. Imprimi para ler novamente e novamente...
Gosto da maneira clara que escreve.
Tenha um lindo fim de semana!
Beijos
Querida Amiga,
Obrigado pelas observações sobre meus textos, sempre elogiosas. Generosidade de sua parte.
NOTA: Creio que depois que você copiou eu verifiquei um erro. O lugar, estado, ou cidade, onde estão os reatores nucleares japoneses tem o nome de FUKUSHIMA, segundo os jornalistas, e não Takashima. Concerte meu erro, na sua cópia, por favor.
Abraço caloroso
Francisco Miguel de Moura
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