quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O DIA DA CONSCIÊNCIA BRASILEIRA

    Francisco Miguel de Moura-Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras

       Todos os dias devem ser dias da nossa consciência. Consciência quer dizer: pensar com a ciência (saber, sabedoria), sentir com a ciência e agir com ela. Entre nós, foi criado o Dia da Consciência Negra. Daqui a pouco teremos o Dia da Consciência Branca, da Consciência Amarela, da Consciência Indígena. E saindo das cores da pele, o Dia da Consciência Gay, da Consciência Atéia, da Consciência dos Presidiários, dos Drogados, das Prostitutas, dos Deficientes, dos Feios... O Dia da Consciência Política!...  Este último é muito difícil. Mas não custa nada perguntar: – E como é que fica a nossa Constituição Federal, que, nos seus primeiros artigos, diz claramente que “todos somos iguais perante a lei?” E diz também que é proibido qualquer preconceito?

        Sabe-se que sempre existiram preconceitos, aqui e alhures. Não é privilégio do Brasil.  O que não deve existir é discriminação desta ou daquela pessoa, desta ou daquela classe, desta ou daquela diferença. Todos somos diferentes por natureza. Foi Deus ou a Natureza que assim nos fez. Não vamos mudar isto com uma lei escrita. Uma lei gravada na consciência dos brasileiros é que deve existir, que seja contra a imoralidade, todas as imoralidades. Se não mudarmos interiormente, depois em comportamento social e ética, vão-se estabelecendo as discriminações. Por que a sociedade brasileira colonial e escravista, herdada de Portugal, demorou muito para mudar, aprofundou o fosso contra o negro, não como cor, mas por causa do estrato social.  Não sou contra a comemoração do Zumbi dos Palmares, desde que essa lembrança e essa festa não descambem para o contrassenso. Velejando pela internete, no site http://www.renascerbrasil.com.br  encontro o texto do folheto “Renascer Brasil”, cap. 5, assinado por Valvim M. Dutra, onde, didaticamente ele tenta esclarecer o preconceito e, por conta disto, é claro, as discriminações que dele provêm. Ele explica: “Os preconceitos podem ser divididos em dois segmentos: um, maléfico à sociedade e outro, benéfico. O segmento maléfico é constituído de preconceitos que resultam em injustiças e que são baseados unicamente nas aparências e na empatia. Já o segmento benéfico é constituído de preconceitos que estabelecem a prudência e são baseados em estatísticas reais, nos ensinamentos de Deus ou no instinto humano de auto-proteção. Em geral, os preconceitos benéficos são contra doenças contagiosas, imoralidades, comportamentos degradantes, pessoas violentas, drogados, bêbados, más companhias, etc.”

      Na verdade, são sábias as observações dessa didática do Sr. Valvim M. Dutra. Porém, se completadas com o pensamento de Lino Resende, também colhido na internete, artigo de 21 de março de 2007, ficaria tudo mais claro e compreensível para o propósito desta matéria. Traduzindo a discussão que se instalou no Brasil recentemente, de modo especial a que se refere às quotas em universidades, ponto nevrálgico, de um lado há a afirmação do negro; do outro, a negação das pessoas de outra cor. “O problema, entretanto, não se restringirá ao acesso do negro à universidade, mas a uma questão maior: o próprio preconceito racial, que existe e se disfarça como qualquer um deles”. Daí que a discriminação não vai atingir apenas o negro; ela é abrangente ao pobre, ao nordestino, aos diferenciados no sexo e, no fim de contas, atinge os brancos que nada tiveram a ver com o colonizador escravista e hoje se encontram numa posição social às vezes inferior à do negro. Não será através de leis casuísticas que combateremos os preconceitos, sejam sociais, raciais, sexuais ou outros, mas com muita educação, numa ação conjugada de todas as forças vivas do país: família, escola, trabalho, cidadania, política (no bom sentido). Este é o caminho para o Brasil civilizado.
            
___________        
P.S. - Velejando pela Internet, veja meus blogs:

2 comentários:

Antonio José Rodrigues disse...

Sempre defendi o mesmo ponto de vista, Chico. As políticas atuais são apenas sobreposições de segregações. Abraços

Wilma Rejane disse...

Sr. Miguel,

Que bela crônica!

Veja só, a consciência precisa ter data comemorativa para ser lembrada e vivida. Deveras, se somos todos iguais por quê a separação: "Dia da consciência negra"?

Tomara que não acatem seu argumento como sugestão para criação do dia : Da consciência branca,Gay e outras coisas...

Seu blog está muito agradável de se ler.

Da nora, que o admira.

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