terça-feira, 20 de julho de 2010

LEITURA: DO PAPIRO Á INTERNETE

Francisco Miguel de Moura 
Escritor, membro da Academia 
Piauiense de Letras
     


Desde a invenção do papiro e do papel até a internet, todos nós que escrevemos somos mais conhecedores do mundo e do outro. Somos mais sábios. O que não sei é se seríamos humanos quando escrevemos sobre desumanidades e as divulgamos, embora na maior parte das vezes elas nós venham por criação do homem e suas próprias mãos. Não seria melhor calar? Por isto serei breve.
           
Uma amiga muito boa e ingênua me diz: “Faço o bem e não quero saber a quem, mesmo aos assassinos e criminosos de qualquer espécie; são todos filhos de Deus e nossos irmãos”. Fui obrigado a confirmar, em parte: Sim, todos somos filhos de Deus, mas os maus desistem dessa paternidade e dessa irmandade. Fazer o quê?  Liberdade de escolha deles! Já os astros, estrelas, buracos negros e “tsunamis” são obras da natureza, criação divina. Mas, e a internete, criada pelo homem? O que previram os que a idealizaram? Dominar o mundo?  Na rede mundial de informações há de tudo, basta clicar no “google”. Da mesma forma que encontramos tudo quanto à ciência já construiu para o bem da humanidade, todas as informações possíveis e as que ainda julgamos impossíveis, também se encontram lá as mil uma maldades ou como fazê-las: as bombas caseiras e as que podem destruir uma cidade, por exemplo. 

Por outro lado, há muita arte e literatura na internete. E literatura, como seu nome indica, serve principalmente pra ser lida, e é muito gostoso ler. Segundo os psicólogos e psicanalistas, também é o melhor remédio para alimentar e/ou conservar a memória, o espírito, o bom humor. É utilidade e prazer. E por que não lemos hoje como antigamente?  Acredita-se que não há ainda uma pesquisa séria e abrangente sobre a questão: leitura na internet X leitura no livro de papel. Os jovens, afinados com a internet, seu mundo obsessivamente maravilhoso, ainda não disseram de suas leituras de livro/papel; e se já leram livros completos na telinha e no papel. Falo em romance, porque nesse gênero a literatura encontra seu apogeu. O bom romance traz o sumo do humanismo. Exemplos de obras que poderiam ser testadas: “Crime e Castigo”, de Dostoiévski; “Ana Karenina”, de Tolstoi, todos os livros de Balzac e Flaubert.  Qual a leitura que mais lhes agradou? E se é gostoso. Quanto tempo gastam numa e noutra leitura. Quantas anotações fizeram. O que resultou da leitura, além da conversas de porta de clube ou de livrarias, de que este é bom, mas aquele ruim? .O grande romance traz conhecimentos novos sobre o ser humano, sobre ser gente. Escrever também é um passatempo muito bom e é escrevendo que se aprende a pensar bem. Por que cada leitura não merece uma resenha com suas opiniões?  Dessa pesquisa seriam excluídos os chamados paradidáticos, lidos na escola por obrigação. 
Andamos a zero neste tipo de pesquisa, por isto sugiro que alguém se habilite.  Neste ponto, concordo com a escritora Teresinka Pereira, presidente da IWA – Associação Internacional de Escritores e Artistas, Estados Unidos, O trecho é de um artigo sobre um livro de Glenda Maier: “Foi uma delícia poder ler suas crônicas no papel de um livro. Estou ficando tão cansada de ler a tela da internet! E não há olho que agüente. Agora só leio livro de papel. Suas crônicas são muito interessantes, atraem o leitor da primeira à última linha. Eu aprecio a sinceridade posta nelas”. Mas, em seguida, transcrevo também palavras da autora do livro: “Artesã que sou do meu próprio destino, escolhi uma rota e, no momento incerto, chegarei ao porto. Abandonarei, em segurança o velho barco e seguirei, voando, em direção às estrelas.”

Escrevamos as nossas impressões sobre a vida, as gentes e as cousas. É muito importante para nossa afirmação como pessoas. Quem escreve, lê três vezes. E pensa três vezes, ou até mais. Pensar não é só pensar: É ler, escrever, participar. São verbos muito humanos.
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