sábado, 9 de janeiro de 2010

BABY, LINGUAGEM MODERNA


Crônica


Francisco Miguel de Moura*


Na televisão e no resto da mídia, muito se está usando a palavra baby. Há até uma personagem de “O Profeta” – novela da TV Globo – que é tratada assim e ninguém sabe qual é o verdadeiro nome do personagem. Palavra inglesa que se pronuncia beibe; significa criança de peito, criança de colo, boneca, segundo dicionário de Oswaldo Serpa, editado pelo Ministério da Educação – FENAME, Rio, 1982. A palavra portuguesa genuína é bebê para criança e bebé para boneca, conforme me lembro da língua familiar de minha infância. Tudo bem, até aqui linguagem estrangeira que está sendo substituída pela nossa, via televisão, etc.

Mas eu quero, enfim, contar um pequeno episódio, visto que aqui faço uma crônica para meus leitores. Um dia destes saí, de manhã, com destino ao Mercado Velho. Todas as minhas grifes (lá vai outra palavra inglesa, da moda, na moda do falar de hoje) são vendidas lá, por isto que eu gostaria muito de ver começado e concluído brevemente o Shopping do Cidadão. Se for explicar todas as palavras estranhas a nossa língua, vou terminar não contando o que queria contar. Bem, no Mercado Velho, entrei na loja de uma senhora de média idade, baixa, sorridente, boa vendedora. Olhei as marca de chinelos onde poderia encontrar a minha e encontrei, mas o preço era altíssimo. Discuti uns bons segundos, senão minutos, mas ela não cedia. Segui à frente, fui ver outras lojas. Tudo era mais alto ainda. Volto à primeira loja e vou rediscutir o preço novamente.

- Deixe por 25 reais, é o dinheiro que posso dispor, agora – insisti.

- Não beibe, não posso fazer isto. Garanto-lhe que o produto é genuíno e vendo mais barato, acredite. Que são 27 reais para o senhor?

- É, posso mesmo já ser tratado de beibe, já tenho 73 anos!

- Perdão, meu amigo, não se zangue. Foi um tratamento carinhoso, sem nenhum intuito de ofendê-lo.

Finalmente, acertamos. O par de chinelos ficou por 26. Comprei e paguei, puxando mais conversa com ela, por causa do tratamento. Porém ela começou a contar-me algo semelhante, talvez ainda uma desculpa:

- Um dia destes, eu estava num banco, discutindo um empréstimo e tentando regatear juros e prazos, quando a atendente me tratou assim:

- Não, beibe, o banco não aceita mudar as normas, entende?

Tanto ela como eu entendemos: “O costume do cachimbo faz a boca torta”, como diz o rifão popular. Todos nós, por via do mau costume, já falamos um pouco inglês, língua hoje reconhecida como internacional. Veja, meu leitor, como a palavra baby está substituindo uma bem melhor que possuímos: Domingo de manhã entrei numa banca de revista para passar o olho nas novidades – elas mantém um abrigo fora e, dentro, as prateleiras, onde a gente também pode ficar – quando chegou uma mocinha loira e disse ao atendente:

- Baby, aquelas novidades já chegaram?

Não me lembro por que se interessava: música popular, devedê ou revista sobre modas. Intrigado com o tratamento, deixei-a sair para matar a curiosidade, perguntando ao moço vendedor se era sua namorada, parenta ou mulher, pois o tratamento indicava isto.

- Não, seu Miguel, ela trabalha aqui por perto e vem de vez em quando pegar revistas. É apenas minha cliente.

- Ah, sim.

E saí de lá, intrigado ainda. Como estou saindo desta crônica. Matutando... Neste novo tempo, século XXI, somos todos uns babys, queiramos ou não.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br Membro da IWA – International Writers and Artists Association, Toledo, OH, Estados Unidos.

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