Francisco Miguel de Moura*
No dia 18 de junho de 2009, o Supremo Tribunal Federal aboliu o ato legal de 1969 que exigia dos jornalistas a posse de uma formação universitário em jornalismo, "obrigando-os a pertencer a uma associação ou colégio profissional para poder desempenhar o ofício", informou a SIP e os jornais noticiaram.
Abolir a formação universitária, para mim e para muitos brasileiros direta ou indiretamente prejudicados é praticamente um contrassenso. No dia 15 de agosto de 1984, numa conferência sobre “A língua portuguesa, flexibilidade e modernidade”, pronunciada no Gabinete Português de Leitura, em Salvador, eu ia além e propunha, entre outros itens, o seguinte: - Obrigatoriedade de curso superior para os que têm parte na redação ou veiculação de notícia nos órgãos de imprensa, rádio e televisão. Em outras palavras, eu dizia que não apenas aos jornalistas profissionais, mas também a quem quer que redigisse notícias, informações, editais, organizasse programas de rádio, tevê, etc. deveria ser exigido o Curso Superior, a fim de que estivessem preparados para a redação com elegância, fluência, clareza e conhecimento da língua, ou seja, com consciência do seu trabalho.
Naturalmente, quando o governo criou os Cursos Superiores de Jornalismo foi para dar oportunidade a quem desejasse ser jornalista ou exercesse a função de redator nas repartições, empresas pudessem praticar a escrita com consciência e sabedoria para que os leitores e/ou ouvintes recebessem um texto de qualidade. Para um ato deste, por uma Corte de Justiça tão elevada, penso que seria necessário um estudo intelectual e de campo em torno da validade e da necessidade dos cursos existentes, consultando, por que não? a população leitora, os professores e alunos, os jornalistas e empresas. Porque falar e escrever corretamente a própria língua não é uma brincadeira que se possa fazer ou deixar de fazê-la, mas uma obrigação, um dever cívico. Se no Brasil de hoje nos deparamos com cada barbarismo, cada aleijão entre falantes e escreventes letrados, mesmo os que fizeram cursos de graduação e pós-graduação – como ficariam as novas gerações sem curso superior? E o que será do jornal, da revista, do rádio, da tevê e da internet, dos atos oficiais, etc. com esses profissionais “feitos a facão”, como diz a franqueza do nosso caboclo?
Nunca se sabe que interesse corre por baixo de uma decisão inusitadamente apressada. Mas podem pensar: “Aí tem coisa!” Será que os “filhinhos de papai” não estão querendo agarrar os melhores lugares da imprensa, sem cursar escola nenhuma? Se a coisa pega, daqui a pouco teremos médicos sem curso de medicina, advogados, desembargadores, juízes sem cursos de direito, professores sem licenciatura na sua matéria etc. Uma verdadeira revolução ao contrário. Não! Sem escola, sem estudo, nenhum país progredirá. Não importa se a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) expressou sua satisfação pela decisão do STF. É o que se poderia esperar dela. Já Roberval Renard, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa, do jornal americano “San Antonio Express News” não concordou, justo porque “trabalho por um jornalismo cada vez mais profissional e responsável”, disse.
De bom grado, minha consciência não suporta inconsistências. O Brasil não vai bem. E ver o poder da justiça cair na onda geral dos legisladores, que vão fazendo, a seu bel prazer, leis e mais leis casuísticas, é triste. Parece-me que o monstro devorador que é o Poder, em qualquer parte, com qualquer nome, quer atacar o chamado 4º poder, o mais livre, para fazer estragos em nossa tão frágil democracia.
____________________
*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da
Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piauí.
E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
Abolir a formação universitária, para mim e para muitos brasileiros direta ou indiretamente prejudicados é praticamente um contrassenso. No dia 15 de agosto de 1984, numa conferência sobre “A língua portuguesa, flexibilidade e modernidade”, pronunciada no Gabinete Português de Leitura, em Salvador, eu ia além e propunha, entre outros itens, o seguinte: - Obrigatoriedade de curso superior para os que têm parte na redação ou veiculação de notícia nos órgãos de imprensa, rádio e televisão. Em outras palavras, eu dizia que não apenas aos jornalistas profissionais, mas também a quem quer que redigisse notícias, informações, editais, organizasse programas de rádio, tevê, etc. deveria ser exigido o Curso Superior, a fim de que estivessem preparados para a redação com elegância, fluência, clareza e conhecimento da língua, ou seja, com consciência do seu trabalho.
Naturalmente, quando o governo criou os Cursos Superiores de Jornalismo foi para dar oportunidade a quem desejasse ser jornalista ou exercesse a função de redator nas repartições, empresas pudessem praticar a escrita com consciência e sabedoria para que os leitores e/ou ouvintes recebessem um texto de qualidade. Para um ato deste, por uma Corte de Justiça tão elevada, penso que seria necessário um estudo intelectual e de campo em torno da validade e da necessidade dos cursos existentes, consultando, por que não? a população leitora, os professores e alunos, os jornalistas e empresas. Porque falar e escrever corretamente a própria língua não é uma brincadeira que se possa fazer ou deixar de fazê-la, mas uma obrigação, um dever cívico. Se no Brasil de hoje nos deparamos com cada barbarismo, cada aleijão entre falantes e escreventes letrados, mesmo os que fizeram cursos de graduação e pós-graduação – como ficariam as novas gerações sem curso superior? E o que será do jornal, da revista, do rádio, da tevê e da internet, dos atos oficiais, etc. com esses profissionais “feitos a facão”, como diz a franqueza do nosso caboclo?
Nunca se sabe que interesse corre por baixo de uma decisão inusitadamente apressada. Mas podem pensar: “Aí tem coisa!” Será que os “filhinhos de papai” não estão querendo agarrar os melhores lugares da imprensa, sem cursar escola nenhuma? Se a coisa pega, daqui a pouco teremos médicos sem curso de medicina, advogados, desembargadores, juízes sem cursos de direito, professores sem licenciatura na sua matéria etc. Uma verdadeira revolução ao contrário. Não! Sem escola, sem estudo, nenhum país progredirá. Não importa se a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) expressou sua satisfação pela decisão do STF. É o que se poderia esperar dela. Já Roberval Renard, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa, do jornal americano “San Antonio Express News” não concordou, justo porque “trabalho por um jornalismo cada vez mais profissional e responsável”, disse.
De bom grado, minha consciência não suporta inconsistências. O Brasil não vai bem. E ver o poder da justiça cair na onda geral dos legisladores, que vão fazendo, a seu bel prazer, leis e mais leis casuísticas, é triste. Parece-me que o monstro devorador que é o Poder, em qualquer parte, com qualquer nome, quer atacar o chamado 4º poder, o mais livre, para fazer estragos em nossa tão frágil democracia.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da
Academia Piauiense de Letras, mora em Teresina, Piauí.
E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
5 comentários:
Olá.
Concordo com o que escreveu. Informação é algo muito sério e precioso, não pode ser delegada a qualquer pessoa. E ainda é necessário, para saber usá-la da forma mais ética, frequentar a Universidade.
Lamento que as pessoas responsáveis por aprovar leis não pensem desta forma.
Abraços.
PS: Sou eu, a moça da palestra que você fez na UESPI.
Eu gosto do seu Blog, sim. Tenho 21 anos e curso História na UESPI.
Na palestra que você fez, a pedido da professora Márcia, para os alunos do curso de Letras, eu também estava lá. Sou a pessoa que não fez perguntas, mas que deu o exemplo do conto da Lygia F. Telles e você autografou meu livro, deixando e-mail e telefone. Não lembra? ;-))
Abraços.
Lembrar eu lembro, não sei se reconhecerei vendo novamente em lugar não esperado. É que tenho uma
deficiência na memória visual com relação a rostos - chama-se prosopagnosia, um nome feio, mas a deficiência não é tanto assim. Se você viesse acompanhando há tempo meus blogs você lembraria de minha explicação.
Gostei do seu jeito moreno, calado,
mas que demonstra inteligência e grande interesse em aprender.
Com já falei sobre seu blogue antes, agora vou te mandar um poema esclarecedor sobre o que digo, pois peço que quando me encontrar, diga, se apresente, por favor.
PROSOPAGNÓSICO
Não quero que me tenha como um pobre
Cheio de empáfia, longe, em devaneio.
Vejo tudo em você: cabelo e seio,
Orelha e brinco e a vestimenta nobre.
Foi ontem nosso abraço e a despedida,
Quando eu jurei guardar suas feições,
E um minuto depois, sem condições,
Não mais lembrava a face comovida.
Minha imaginação, que escreve e cria,
Tão sem dificuldade, quem diria,
Me esconde os traços de quem tanto gosto!
Isto explica por que minha carteira
Traz de frente sua foto de alma inteira:
Que eternamente eu possa ver seu rosto.
francisco miguel de moura
Lembrar eu lembro, não sei se reconhecerei vendo novamente em lugar não esperado. É que tenho uma
deficiência na memória visual com relação a rostos - chama-se prosopagnosia, um nome feio, mas a deficiência não é tanto assim. Se você viesse acompanhando há tempo meus blogs você lembraria de minha explicação.
Gostei do seu jeito moreno, calado,
mas que demonstra inteligência e grande interesse em aprender.
Com já falei sobre seu blogue antes, agora vou te mandar um poema esclarecedor sobre o que digo, pois peço que quando me encontrar, diga, se apresente, por favor.
PROSOPAGNÓSICO
Não quero que me tenha como um pobre
Cheio de empáfia, longe, em devaneio.
Vejo tudo em você: cabelo e seio,
Orelha e brinco e a vestimenta nobre.
Foi ontem nosso abraço e a despedida,
Quando eu jurei guardar suas feições,
E um minuto depois, sem condições,
Não mais lembrava a face comovida.
Minha imaginação, que escreve e cria,
Tão sem dificuldade, quem diria,
Me esconde os traços de quem tanto gosto!
Isto explica por que minha carteira
Traz de frente sua foto de alma inteira:
Que eternamente eu possa ver seu rosto.
francisco miguel de moura
Lembrar eu lembro, não sei se reconhecerei vendo novamente em lugar não esperado. É que tenho uma
deficiência na memória visual com relação a rostos - chama-se prosopagnosia, um nome feio, mas a deficiência não é tanto assim. Se você viesse acompanhando há tempo meus blogs você lembraria de minha explicação.
Gostei do seu jeito moreno, calado,
mas que demonstra inteligência e grande interesse em aprender.
Com já falei sobre seu blogue antes, agora vou te mandar um poema esclarecedor sobre o que digo, pois peço que quando me encontrar, diga, se apresente, por favor.
PROSOPAGNÓSICO
Não quero que me tenha como um pobre
Cheio de empáfia, longe, em devaneio.
Vejo tudo em você: cabelo e seio,
Orelha e brinco e a vestimenta nobre.
Foi ontem nosso abraço e a despedida,
Quando eu jurei guardar suas feições,
E um minuto depois, sem condições,
Não mais lembrava a face comovida.
Minha imaginação, que escreve e cria,
Tão sem dificuldade, quem diria,
Me esconde os traços de quem tanto gosto!
Isto explica por que minha carteira
Traz de frente sua foto de alma inteira:
Que eternamente eu possa ver seu rosto.
francisco miguel de moura
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