quinta-feira, 30 de maio de 2013

MEMÓRIAS DE VIAGEM, O QUE SÃO?

Francisco Miguel de Moura - Escritor*

Memórias, autobiografias e cartas são gêneros literários menores quando comparados com a poesia, o conto, a crônica, a novela e o romance, os gêneros maiores da Literatura. Memórias valiosas, escritas com criatividade são as “Memórias” e “Memórias Inacabadas”, de Humberto de Campos, e as “Memórias do Cárcere”, de Graciliano Ramos. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Memorial de Aires”, não obstante o nome, são dois dos melhores romances do mestre Machado de Assis. E até onde eu sei, Machado não escreveu nenhum livro de memórias. Ao citar essas obras importantes, eu quis chegar justamente ao nome “memorial” dado, hodiernamente, a um tipo de memórias que não chega a ser simplesmente um relato colado a fatos “reais”, por ser também um trabalho da imaginação mais do que arrancado da memória, quando haja realmente o distanciamento da crua realidade, ou o que se poderia chamar de “real”. Mas real mesmo, na Literatura, é a própria ficção, a mentira que o escritor imagina, cria e escreve. Quem mais mente na vida são os escritores e poetas. Como na poesia normalmente não há personagens, dá-se o fenômeno de tomar-se o autor como o personagem de tudo, pensando que o que o poeta escreve se refere a si mesmo e a sua vida, o que não é verdade, nem poderia ser. Se assim fora, transformar-se-ia num simples memorialista. O poeta Luiz Ayrton Santos, no lançamento de seu livro de poesias, “Objeto-Presença”, faz um aviso muito interessante: “Os poetas escrevem para todos, para o mundo, por isto em meu livro não coloquei nenhum poema com oferecimento a ninguém”.

Para poetas e poetisas, agora faço uma observação, que pode vir a ser contestada, como qualquer outra: O homem é mais livre, trabalha com o cérebro e as emoções. Com a mulher-poeta dá-se o contrário: ela faz-se descritiva, esmiúça, é menos filosófica. Cecília Meireles superou esta contradição, fenômeno que não sei explicar. E também não há como torcer a verdade: - As musas da poesia são as mulheres e os homens entre si, o sexo exerce uma influência extraordinária no corpo e na alma, mais a natureza, o céu e a terra, os pecados da carne e a força do espírito, a verdade. Filosofia, amores e amizades são conteúdos quase sempre presentes. Mas, “antes de tudo, o verbo, a palavra”, a forma, o trabalho que também sua e merece ser pago. E para não deixar em mim recolhida a tentação referencial da infância, cometi a loucura, a santa loucura de juntar algumas crônicas escritas há mais de dez anos com outras recentes, ao que acrescentei contos especiais para a obra e dentro do propósito de reconstituir a infância perdida. Construí o livro “O menino quase perdido” arrumando-o ao jeito de o leitor chegar a um final de transfiguração romântico-poética, mesmo que avançando até a primeira fase da adolescência do menino. Assim, o transformei em um memorial. Recebi críticas reconhecendo-o como um ótimo livro de “memória da infância”, mas que ia, além disto, pela qualidade do estilo e pela perfeita transcriação poética do texto. Confesso que escrevi mais sobre o que vi, não vi e/ou não lembrava: o reinventando.  Há uma peça em que converso com minha bisavó Mãe Ana, morta há quase cem anos. Eu não cheguei a conhecer nem minha avó materna. 

Numa peregrinação recente que fizemos, eu e minha mulher, a Jerusalém, visitamos os lugares sagrados (para mim, uma aprendizagem inigualável) e pisamos por onde Jesus andou e sofreu até a morte na cruz, Jesus, o maior sábio que veio ao mundo como Filho de Deus para nos salvar. A viagem também me foi muito divertida. Alguns companheiros propuseram, não sei se seriamente, que eu escrevesse um livro de memórias da viagem. “Desculpem-me, mas não sou escritor de memórias, relatos de viagem, essa coisa toda”, respondi.  E pensei em apontar o Pe. Tony, que também escreve ótimas crônicas na imprensa, mas calei. De qualquer forma, o que ele escreveu, leu, distribuiu e falou em seus belos sermões, tudo isto já vale como memória da viagem (sem a pretensão de que estava escrevendo memórias). Memórias e biografias são escritas por e para os narcisistas. Memórias, nunca mais. De viagem? Deus me livre e guarde. Queria ver tudo e sentir as coisas belas que visitamos, as pessoas, os modos, os costumes. E recomendo a quem está entrando para a bela e “charmosa” área das Letras, que não se meta a começar pela poesia e/ou entrar para as biografias e memórias. Caminho errado. Poesia é o sumo, a súmula de uma das mais belas criações do espírito, na busca de conhecer-se a si mesmo e conhecer o outro, da compreensão do mundo e do eterno. Enquanto existir poesia, a humanidade continuará humana e com possibilidades de crescimento. Somente os tolos fazem “gozação” da poesia e das artes em geral. Para os que a entendem, na viagem recitei o soneto “Contraste”, do Pe. Antônio Tomaz, a pedido do Dr. Tupinambá e do Pe.Tony Batista.
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 *Francisco Miguel de Moura - Escritor brasileiro,  membro da Academia Piauiense de Letras, sócio da International Writers and Artists Association, Toledo, OH, Esados Unidos.

sábado, 25 de maio de 2013

LUTA E LUTO: JOSÉ SEBASTIÃO RIOS DE MOURA

Francisco Miguel de Moura (*)
membro da Academia Piauiense de Letras
Teresina - PI


      Sinto-me pequeno para escrever esta crônica e memória de José Sebastião Rios de Moura, até mesmo pela sugestão do sobrenome, jovem piauiense que foi engolido pelo tempo, após o regime de 1964/1968, da dura repressão a quem fosse contra o governo (os militares haviam tomado conta por um golpe de estado). Pequeno, porque a emoção toma conta da gente, nem que seja forte. Emoção só agora aguçada pela matéria de capa da revista “Cidade Verde”, de 19 de maio de 2013. A história de Sebastião vai virar filme, conforme deseja e saberá fazê-lo o jovem cineasta Duca Rios, sobrinho que tanto sentiu ao saber que o tio tinha sido morto: “Nós, os miúdos, fomos desencorajados a participar do enterro, mas não é difícil imaginar uma cena com minha avó Aracy, baixinha e gordinha, olhos de índia e cabelos ainda não totalmente brancos, apesar dos 70 e tantos, sustentada por duas beatas e mal podendo falar, dona Vanete, minha mãe, com um metro e sessenta de preocupação, patinando por todo o perímetro do velório, e doutor Silvestre, meu pai, sempre à distância, sempre fumando, sempre a conversar com algum amigo que, por coincidência, participava de uma mórbida cerimônia do Jardim da Saudade.”

     Quando José Sebastião voltou ao Brasil, vindo de vários países por onde andou em exílio forçado (para o Governo Militar era um desaparecido), foi trabalhar no Museu de Ciência e Tecnologia de Salvador, BA. Queria voltar a ser apenas um cidadão “invisível”. Porém, em 30 de maio de 1983, foi alvejado, em frente à Farmácia da Vitória (bairro nobre da capital baiana), com três tiros por uma dupla de paletó e chapéu. Após quatro dias de internação, faleceu o artista piauiense. O crime já completa 30 anos sem solução, assim conta a revista “Cidade Verde”. A matéria é bem feita, espetacular, imperdível.

    Agora nos damos conta de quanto perigo nós corremos: estudantes, intelectuais, artistas, trabalhadores, participantes de qualquer movimento que congregasse mais de duas pessoas. Nós que amealhamos alguns tostões para que outros pichassem as paredes da cidade contra a supressão da liberdade e a tirania dos "DOPS" da época. Lembro que ninguém podia sequer ouvir Vandré ou Chico Buarque: a polícia batia à porta. Lembro que por mais de uma vez fui seguido por militares, assim amigos me contaram, lembro que duas vezes fui ao "DOPS", para responder a umas “pegadinhas” que me impressionavam, deixando-me mais nervoso do que sou - isto simplesmente por ser amigo de Benoni Alencar, também bancário como eu, o qual tinha sido preso, após ser encontrado com uma lista de nomes que julgaram ser de comunistas e perturbadores da ordem por eles imposta.

     Ainda pegando a deixa do depoimento de Duca Rios sobre o tio: “Mas a verdade é que cresci com algo entalado na garganta. Afinal, a polícia nada concluíra com relação ao fato e levando-se em conta que tio José havia participado do famigerado MR-8 (Movimento revolucionário de 8 de outubro), e que, embora os que padeceram do exílio político estivessem há muito tempo anistiados, o comando do governo brasileiro ainda pertencia ao melancólico João Baptista Figueiredo e seus generais, almirantes e brigadeiros, não há como não suspeitar de que seu assassinato em frente à Farmácia da Vitória tenha sido um crime político. Quem mandou? Quem matou? Quem se importa? O passado há muito está sob sete palmos de terra” – finaliza o documento do sobrinho de Sebastião Moura. 

     Fico pensando que a “Lei da Anistia” foi tão parcial que nem mereceria ser levada a sério: Julgou e anistiou alguns dos “esquerdistas” (os perdedores) e colocou os militares e “torturadores” numa posição de intocáveis (os ganhadores, nada ditadura), mas que também, automaticamente, se tornariam perdedores, numa democracia). Quando dois brigam, nenhum tem razão, eu creio que é isto que a Constituição diz que "todos são iguais perante".

     Mas o Des. Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, a OAB e outros que lutam realmente pelos direitos humanos estão aí e certamente tentarão revê-la e aprimorá-la, colocando-a dentro dos padrões humanitários. Crimes de tortura e morte de civis em massa são crimes contra a humanidade. A “Comissão da Verdade” deve estar estudando tudo isto com carinho. De qualquer forma, existe uma ameaça pairando no ar: A de apelações para a Corte Penal Internacional. Se os disparates da “Lei da Anistia” forem corrigidos por esses governos do PT, que eu tanto critico, passarei a acreditar que eles, partido e governos, valeram a pena, não obstante a corrupção e criminalidade que tanto vem penalizando o povo brasileiro, nos últimos anos.
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(*) Francisco Miguel de Moura publica artigos no jornal "O DIA", de Teresina -PI, todas as sexta-feiras.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

SEMPRE MÃE -2ª VERSÃO





 Francisco Miguel de Moura*
            para Mª  Mécia








A mãe é mãe no tempo e no espaço
da casa, da família, do amor
Mas isto não lhe basta:
Secretária,
Enfermeira, reza e chora
E ainda faz meizinha.

Na vida e na morte
Há sempre a mãe que consola,
Basta olhar.
O coração fala contrito, não pensa... Ah! solta um grito
A vida é mãe e a mãe vida.
Todamente.

Tu  foste, ó Mécia, e serás a mãe querida,
Tens o coração  feito de "manteiga e pudim”,
Como na canção do Gonzaga.
 
Pois mãe é terra que cria e que recria
Igualmente.
Desde o ninho de Amor até a luz que nasce:
Espírito.
__________________
*Francisco Miguel de Moura, diante de Drummond, reconheço, sou um poeta menor, muito menor mesmo.

domingo, 19 de maio de 2013

MI DOLOR ES MUCHO MAYOR

Francisco Migul de Moura*
Tania Martinez**
 
Mi dolor es mucho mayor
que el dolor del mundo entero:
– Un dolor mudo.
mi dolor es sólo mío,
no puedo repartirlo.
¿Quién me puede ayudar?
¿quién lo puede escuchar?

Mi dolor no brilla, es sólo humo.
Mi dolor duele tanto que me ensordece.
Dolor que viene del alma y rompe el corazón,
después regresa despacio a los adentros.

Mi dolor soy yo, castigo sin pecado,
me muele, me seca, me mutila.
Dolor innombrado
que vive, revive y nunca muere vivo,
que muere y remuere y nunca muerto nace.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro,mora em Teresina, Piauí - Brasil
**Tania Martinez, escritora, pesquisadora, tradutora, mora na Espanha
 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

OBJETO – PRESENÇA: POESIA

Francisco Miguel de Moura*
Escritor            

         Convidado a fazer a apresentação do livro “OBJETO PRESENÇA”, de autoria de Luiz Ayrton Santos Júnior, na Livraria Anchieta, nesta Capital, cujo convite muito me honrou, não levei nenhum discurso escrito e falei simples e francamente como fala um poeta a outro poeta e a seus ilustres convidados. Ainda mais porque, não obstante numa distância considerável, ainda somos parentes pelo seu lado paterno. Já conhecia Luiz Ayrton, claro, mas esse conhecimento também era de um bom tempo: Ele era estudante de Medicina em Recife e eu trabalhava no Banco do Brasil, em Teresina, onde editava a revista Cirandinha.  Ele já escrevia bons poemas, e um dia me visitou em casa, onde trocamos amigável “papo” sobre o assunto que queríamos: Poesia. Em Pernambuco, ele se dispôs a divulgar a revista. E, se me lembro bem, passou a colaborar com poemas para a publicação. Foram poucos, um ou dois, seu interesse maior era divulgá-la, o que fez muito bem, na sua ousadia de jovem.

      Como tenho dito, não faço mais crítica literária – eis a razão deste parágrafo introdutório. Hoje, dedico-me apenas a escrever poemas, artigos e crônicas. Mas não posso deixar de afirmar que o poeta Luiz Ayrton é um senhor poeta. A. Tito Filho tinha razão: “os médicos escrevem bem.” Poeta sem jaça, como Ayrton Júnior, são poucos. Devem ser olhados com carinho. Ele é um poeta de si mesmo, como todos os bons poetas, e escreve para o mundo, razão por que, como ele próprio afirma aos seus convidados, no livro não há sequer uma dedicatória deste ou daquele poema a fulana ou a fulano. 

        Linguagem simples para um poeta forte. E eu digo: o leitor que disser que não entende a mensagem de “OBJETO PRESENÇA” precisa aprender a ler, ou reaprender. Porque, no nosso mundo de tevê e internet, há muita gente que aprendeu a ler na escola, depois esqueceu por falta de treino, de uso da leitura.  São poemas curtos e densos, linguagem trabalhada como está na lição de Drummond: “lutar com a palavra / é a luta mais vã / no entanto, lutamos, mal rompe a manhã”. Também seu trabalho não deixa vestígio, aquele que bem lembrava Olavo Bilac, no famoso poema “Profissão de Fé”.  Outra característica importante que quero apontar é que há uma sensualidade latente em quase todos os seus poemas, por conta talvez da sua profissão de médico, cujas mãos abençoadas parecem sentir mais do que as nossas. Simpatia pela vida, pela criatura humana, amor, em nenhum momento podemos dizer que seja amargo, embora com palavras duras, sérias. O poeta brinca com a vida, porque a vida deve ser sempre alegre, gostosa, a vida é nosso mistério e todo mistério vem de Deus: é divino.  Se assim escrevo, e creio estar certo, não é para apontar nenhum viés religioso na sua poética. Ao contrário, ela é muito mais universal que a de outros que se passam por grandes. Sem preconceitos.  Nele, tudo é poema, desde que haja palavra, e mesmo que não haja palavra fala com os interditos. Poeta inventa, a poesia é a divina satisfação de dizer a verdade que ninguém disse. Poeta originalíssimo, não há como não aplaudi-lo, elevando-o à ordem de grandes poetas da nova geração de poetas brasileiros como Aricy Curvello e Alcides Buss, aquele de Minas, e este de Santa Catarina.  Entre os já falecidos citaria Paulo Leminsky e Torquato Neto. E basta, pois não são tantos dessa categoria.

           Pra dizer mais, só mostrando o poema “PRODUTO”, justamente o que abre o livro:

 “Tenho / mesmo valor / umbigo / padrão adjetivo / mercadoria vendida / diferida // tenho / artigo teoria / registro digno / família / minas / complico esquinas / abrigo terezinas / socialismo // não interesso / ditar métodos / modos modelos / poeta fruto / não só trabalho / sou produto”. (pg. 17).  

      Outro poema muito sentido, que selecionaria para uma novíssima e universal antologia, seria “PULSO CONTIDO”.  Tudo contido, sem sentimentalismo. Infelizmente, não dá pra mostrar mais.  E creio que é o suficiente para que desperte o interesse que todos nós devemos ter pela poesia, em minha opinião, “A EXPRESSÃO MÁXIMA DA BELEZA DA ALMA HUMANA”. 

____________________
*Francisco Miguel de Moura, autor deste artigo, é escritor e membro da Academia Piauiense de Letras (APL), da União Brasileira de Escritores (UE-SP) e da International Writers and Artists Association, com sede em Toledo, OH, Estados Unidos.
          

sábado, 11 de maio de 2013

SEMPRE MÃE -1ª VERSÃO


     Francisco Miguel de Moura*
                  Para Mª  Mécia

A mãe é mãe no tempo e no espaço
da casa, da família, do amor.

Na vida e na morte
há sempre a mãe que consola,
baixa olhar,
sobem até Deus  as bençãos, o pedido 
de joelhos.
Amém!
  
O coração fala contrito, não pensa... Às vezes, um grito
que nunca complica.
A vida é mãe e a mãe, vida.
Todamente.

Tu és e serás a mãe querida,
tens o coração  feito de "manteiga e pudim”,
como na canção de Luiz Gonzaga.
 
Mãe - terra que cria e recria
igualmente.
desde o ninho do Amor até a luz que nasce:
Infinita.
__________________
*Francisco Miguel de Moura, diante de Drummond, reconheço, sou um poeta menor, muito menor mesmo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

DIFERENÇAS ENTRE O HOJE E A HISTÓRIA



 Francisco Miguel de Moura*


A crônica do dia a dia é feita pelo articulista, o jornalista, o cronista. Se estivesse escrevendo poemas, eu poderia muito bem fazer um trocadilho: “A CRÔNICA DO DIA (que se) ADIA”. 
          Entrando bem de cheio nos fatos mais recentes, há alguém que acredite nas versões colocadas a público sobre quem matou a Fernanda Lages? Ou a fez suicidar-se?  O povo aponta, o povo é inteligente, mas não pronuncia o nome ou os nomes. Porque teria que ser através de um cronista, articulista ou jornalista (o anonimato não vale). E quem deles vai morrer por isto?  Poderá morrer no dia seguinte por um tiro pelas costas ou qualquer outra maldade – que ninguém vai saber de onde provém. Os grandes já sabem, Governo, Polícia, Justiça – e todos, como em tácito acordo, calam. Calam porque ninguém quer imolar-se.  Um fato, uma história adiada talvez para séculos e séculos à frente, quando ninguém mais dos de hoje viver.
Assim, torna-se difícil escrever. Até mesmo outro crime muito antigo e semelhante - o ainda lembrado “crime da doméstica”, de 1970 aproximadamente, cujo crime não foi dela (ela é que sofreu o crime). Assassinato feroz, em seu próprio quarto de dormida, tendo-lhe sido rasgados, retalhados seios, boca e sei mais lá que outras partes do corpo. Por quê?
 A história do homem é feita de guerras e mais guerras, de crime e mais crimes – crimes especialmente contra a vida, a liberdade, a saúde, a segurança e o patrimônio público e/ou privado. O Código Penal deveria ser a nossa Constituição como cidadãos do mundo. Mas o nosso Código Penal está tão velho que já não merece fé, pois a sociedade “evoluiu”. Eu diria que, em determinados casos e muitos acontecimentos, a sociedade “involui”. Que adianta a ciência esbaldar-se para curar doenças e prolongar a vida em condições favoráveis, quando se sabe que todo dia se mata, saqueia, seqüestra, incendeia, agora muito mais por causa da droga? Ou por nada.
Mas dizem que ela também é mestra. Karl Marx escreveu que “a única ciência que existe é a História, nela é que as outras vão beber”. Como também dizem os derrotistas que “o que a gente sabe é que com a história não se aprende nada”, pois os erros se repetem milenarmente.   
Mas vamos lá, não sejamos tão derrotistas, sem alguns exemplos dela, do passado. Nosso passado é ocidental, assim vêm aí os Estados Unidos e a França, baseados na crônica de J. R.Guzzo, “Veja” (1º/5/2013), aqui reescrita, para resumir, o que o colunista de VEJA escreveu:
- Lincoln acreditava na superioridade da raça branca, era, portanto, um “escravagista”. E apresenta suas ideais aos 49 anos, em 1858, dois anos antes de eleger-se presidente dos Estados Unidos. Inicia no ano seguinte a guerra contra a separação dos Estados do Sul, que pretendiam manter a escravidão. Resultado: 600.000 mortes, entre 1861 e l865. Nesse tempo, recusou a proposta de paz oferecida pelos Estados americanos do sul, que não queriam mais combater, mas queriam manter a escravidão. “O essencial”, teria dito Lincoln, “não acabar a guerra, porém acabar a escravidão”.  Mudara de pensamento. Veio a morrer assassinado por um “escravagista”, logo após a vitória da sangrenta guerra.
Na França foi  Robespierre, personagem símbolo da Revolução Francesa. Ele comandou o chamado “Governo do Terror”. Até agora ninguém sabe quanta gente mandou para a guilhotina, entre julho de l793 a julho de 1974; fala-se de 40.000 a 50.000 pessoas. Mas, depois disto, ele propôs à Assembléia Nacional a abolição da pena de morte. Contudo foi ele a última cabeça a rolar no instrumento por ele mesmo criado – a guilhotina.
J. R. Guzzo conclui, assim, citando-o integralmente: “Uma das possíveis lições disso tudo é que entre idéia e atos há mais coisas do que sonha a nossa vã filosofia – e que a prudência aconselha a julgar os homens menos pelo que dizem e mais pelo que fazem (...) Atirar primeiro e pensar depois pode acabar dando nisto: Abraham Lincoln vira um sórdido racista, e Robespierre, um campeão dos direitos humanos”. 
   ____________________________***_____________________________
  *Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia Piauiense de Letras e da Associação Internacional de Escritores e Artistas,  Estados Unidos.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

DILMA PISA NO TOMATE E NO POVO TAMBÉM

Francisco Miguel de Moura*
Escritor, membro da Academia 
Piauiense de Letras


O povo somos todos os brasileiros: os que pedem e os que dão, os que pagam impostos e os que gastam mal esses impostos, os que põem os filhos na escola particular porque o ensino público no Brasil está falido. São os que ainda gozam saúde e os doentes (coitados, porque não têm a quem recorrer para curar seus males); povo são as crianças de rua, as que não tem pai nem mãe, as que caem na droga como recurso para viver (ajudando aos maiorais do tráfico). Uma das últimas revistas VEJA traz, na capa, as pernas da Dilma pisando num tomate. Mas, na matéria alimentação, quem sabe muito mais é a mulher comum, que pega na massa todo dia, quando pode comprar. E eu ouvi de uma dona de casa a seguinte pergunta:

    - “Por que ela não pisou logo numa casca de banana? Era mais barata e podia produzir maior efeito”. 

        O que o governo está fazendo não é somente pisar no tomate. É pisar onde não deve, pisar em todas as classes. Cobrar imposto cada vez mais escorchantes, como vimos pelo aumento estrondoso da taxa oficial de juros.  Não importa a redução noutros setores como compra de carro se, em seguida, aumenta o combustível. É remendar a roupa com trapos velhos. Isto não é economia: tirar de um lugar e botar noutro é enrolação. Economia se faz com investimentos maciços em infra-estrutura e não em “bolsa esta/ bolsa aquela”, acomodando um pouco os “pobrezinhos” para o voto que já estão comprando para a próxima eleição. Mas parte do dinheirinho dessas bolsas vai parar na droga, através dos menores (que podem fazer tudo). Assim, o Brasil entra no circuito do tráfico de drogas, o que é amedrontador para qualquer cidadão. O país entra na droga por via indireta.  E continua a política surrada: tirar de um lugar para botar noutro. Baixar os juros disto, aumentar o custo daquilo pela escassez, pelo não incentivo à produção  e (portanto ao emprego), arrecadar mais e mais, não fazer nada de investimentos, não criar empregos. Criar bolsas – inclusive a maldita, que no fundo é uma ajuda ao crime, à nossa maior insegurança: a bolsa ou salário-presidiário. 

       Depois “eles” arrotam que acabaram com a pobreza no Brasil. Se o Brasil ficou mais pobre, todos ficaram mais pobres. Não entendo da economia superior ensinada na Universidade, mas fui funcionário do Banco do Brasil, onde me aposentei, além de ser pai de família.  Dilma bem que devia ser sapiente, já por ser mulher, já por ter formação na área econômica. No fundo, a economia da universidade é a mesma doméstica. A nação é a casa de todos. Há uma arrecadação tal, um lucro tal, um salário tal, mas se não gastar um pouco com a conservação da casa, for apenas consumindo, ao fim de alguns anos – E NO CASO EM QUE ESTAMOS FALANDO JÁ SÃO DEZ - a casa cai. É o que está acontecendo com Brasil. As estatísticas governamentais são mentirosas. O poço fundo, o buraco está secretamente escondido. Porém o que não falta é propaganda na tevê mostrando “as maravilhas”, que não fizeram. Dizem que, antes do PT, Lula e Dilma, só existia aqui racismo e pobreza. Recentemente, quando foi à Europa fobou que vai ajudar a economia deles. Sua afirmação seria ridícula, mas é trágica. Ela quer ajudar também os países como Cuba, Coréia do Norte, Irã, Bolívia, Argentina e não sei mais quem, imitar o que aconteceu na Venezuela: a República bolivariana, do Hugo Chavez.  Nossos recurso, apesar do “pré-sal”, não são o quanto dizem. Mesmo porque gastaram nos últimos dez anos, com coisa sem importância, tanto dinheiro que dava pra ter construído a famosa transposição das águas do São Francisco pelos Estados do Nordeste, especialmente Pernambuco e Ceará. Senão teriam feito o trem bala como prometido em campanha. Senão teria acabado com a pobreza, o analfabetismo e a violência – e tudo isto só cresceu. Salvando o que divulga O IBGE e algumas outras instituições sérias, tudo o que fazem é mentir. Temos crescido, sim, mas como rabo de cavalo: PRA BAIXO.  A classe média arredondou-se em pobres. E os ricos não ficaram tão ricos assim. Porque de onde se tira e não bota, fica o buraco. O buraco está aí.

       Enquanto os “intelectuais” do PT e os aloprados dos sindicatos que com ele se alinham, agora acompanhados do PMDB, que outrora foi um partido tão sério, e por um monte de outros partidinhos - todos só sonham em locupletar-se dos cofres públicos. Tanto já fizeram que agora o Poder Legislativo se volta contra o Poder Judiciário, simplesmente porque este julgou decentemente os membros da quadrilha do “mensalão”.

          Uma pergunta sempre me cutuca a mente há muito tempo: Por que nunca mexeram como o Lula?  O futuro vai dizer, certamente porque a verdade histórica demora, mas não falha. É como a Justiça.
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*Francisco Miguel de Moura, autor deste artigo é escritor e membro da Academia Piauiense de Letras. E-mail: franciscomigueldemoura@gmail.com
                                                                                                             

quarta-feira, 1 de maio de 2013

FRANCISCO MIGUEL – POLIVALENTE ESCRITOR NACIONAL

 João Borges Caminha*




Encontrei-o pela primeira vez e seguidamente o conheci na Agência Centro do Banco do Brasil, Rua Álvaro Mendes, nesta Capital, em julho de 1966. Ambos funcionários de carreira dessa magna Instituição; ele admitido (parece-me) no final da década de 50 do século passado, removido de Salvador (BA) e eu da cidade Campo Maior (PI).

Quanto a nossa gênese familiar e telúrica, logo verificamos que temos estreitas correlações, uma vez que o Prof. Chico Miguel nasceu no antigo Jenipapeiro, hoje cidade de Francisco Santos, e eu no lugar Furta-lhe a Volta, do velho povoado Buriti, agora município de Ipiranga do Piauí, os dois pertencentes à Micro-Região de Picos e Meso-Região do Nordeste Piauiense.

Quanto à origem genética, ele diz que pertence ao tronco dos BORGES DE MOURA ou MOURA BORGES; eu, aos BORGES CAMINHA, com certa pertinência com a estirpe de Pero Vaz de Caminha, mas, de tão diversificada, engloba uns e outros como MOURA, MACEDO, MENDES e tantos outros.  Calcule-se o tamanho da linhagem ou estirpe!...

Só não se sabia ainda que CHICO MIGUEL é um personagem polivalente no desempenho de diversas atividades. No vetusto Jenipapeiro foi desde pastor de cabras, jumentos e muares e agricultor a mestre-escola, antes de ser bacharel em Letras, professor e escritor na Capital e por onde esteve.

Admirável, também, é a sua carreira de intelectual e escritor vitorioso, competente, talentoso e perseverante. A duração de suas obras, além de se igualar à de sua longa vida telúrica, continuará eterna na ordem universal.  De estilo simples, porque não rebuscado, preciso, escorreito e criativo. Atrai e conduz o leitor por uma leitura inteligivelmente agradável. Sobre as obras do seu saber, de tão numerosas, não bem a quantidade delas, se 31 livros ou mais. Só se pesquisar muito, a contar de “AREIAS”, em 1966 até “O MENINO QUASE PERDIDO”, de 2009. Só em nossa biblioteca são treze livros autografados. Isto tudo, sem se falar na produção literária que escreveu e publicou nos jornais revistas nacionais (Teresina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais) e no estrangeiro “Diário dos Açores” (na Ilha do mesmo nome) e “Primeiro de Janeiro”, de Porto, Portugal; “Lea” e “Clarim”, da Espanha; “Poemezia – Notizie”, da Itália: e “Jalons”, na França.

Receba, ó Francisco Miguel de Moura (que é sem favor o Francisco I), os nossos cumprimentos por sua intensa e valorosa produção literária, que, apesar de não ser o atual chefe espiritual da Igreja Católica Romana, é sem favor, o Papa entre os intelectuais, poetas e cultores das letras nacionais. Obrigado, também, pela inserção de Nota da sua eleva cepa, em 7 de setembro d 1996, lançada na contracapa de nossa monografia alcunhada de “UM EXEMPLO ÀS NOVAS GERAÇÕES” e pela publicação de artigo no jornal “O Dia”, de 16.03.2013, na página 6, sobre “IPIRANGA DO PIAUI: RECORDAÇÕES DA CIDADE DO CAMPO”, livro de minha autoria, o qual me deixou deveras envaidecido e lisonjeado.                 

                      (Este artigo publicado no jornal “O DIA”, de 13 de abril de 2013).
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*Joao Borges Caminha, autor deste artigo, é advogado, professor aposentado (UFPI) e historiador, mora em Teresina, PI.

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