domingo, 19 de agosto de 2012

SENTIMENTO PRESO


Francisco Miguel de Moura*
 



Um sentir puro e preso - tortura
Marcada nos primeiros dias
De alguém que apenas nascia
Entre trancos e barrancos, o futuro
De olhos fixos nos braços,
Pedindo calor de peito e mãos,
Desgarrado dos primeiros tatos
Olhos feridos no segundo teto,
Em novas mãos e outros braços...

Calar pra sempre, quem condenaria?

Mas se um ferrão plantou-se noite e dia,
No fundo de dois corações?

E o que dizer, então? Num poema
Que ninguém vai ler nem ver?
Numa palavra só, balbuciada
Em vão, que ninguém quer saber?

Há culpa sem perdão? Não há.
Mas dúvida e covardia, sim.
E a indecisão imprecisa, fria
Da paixão a rolar e morder-se,
A-mor-da(n)çando sem guia?

Um sentir puro e preso tortura
Dois entes: o ser e a criatura.


________________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta e crítico literário, porém mais poeta que crítico, escreveu quatro romances, todos já publicados: Os estigmas, Laços de poder, Ternura e D.Xicote, além de outros de contos e crônicas. Já recebeu vários prêmios nacionais e internacionais.

2 comentários:

Gisa disse...

Dor e amor presos na palavra.
Lindo querido amigo.
Um grande beijo em teu coração.

CHIICO MIGUEL disse...

Linda Gisa,

Sua leitura me agrada,você compreendeu um sentimento verdadeiramente real que nao posso expor objetivamente. E mais me agrada e alegra saber que você está se sentindo melhor de saúde.
Mil abaços e um beijo do poeta
Chico Miguel de Moura

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