segunda-feira, 24 de março de 2025

 


NÊNIA PARA PATRIARCA

            Francisco Miguel de Moura*

 

Meu mor amigo Patriarca,

Você também foi feliz

Assim creio e admiro

Como o tempo que passou,

Como a vida que se vive

Uma só, apenas, vez.

Que grande amigo fiel

No pensar e no dizer!

Nunca tive igual a ele

E creio que não terei.

Ah! Quanta boa saudade

Da nossa grande amizade!

E hoje vivo à procura

Daquela idade menina

Entrando na adolescência

Meu Deus, é belo lembrar

Sem dizer tudo o que penso

E sem saber do que falo

Nem do que tanto falamos!...

Patriarca, meu irmão,

Guardo-te dentro da alma,

Quanto no meu coração.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

sexta-feira, 21 de março de 2025

 


SER POETA

   (Homenagem a Coelho Neto, no Dia da Poesia),

                   Francisco Miguel de Moura*

 

Ser poeta é andar por sobre um fio

de acrobata, é imolar-se por prazer,

não vacilar jamais contra seu ser,

e no poema escorrer-se como um rio.

 

É não ceder à letra por desvio

e, assim, matar certezas sem alarde,

sepultando os desejos que mais tarde

ou bem mais cedo explodirão sem brio.

 

Ser poeta é ser deus e, por tão pouco,

deixar que o chamem de profeta ou louco...

É ter, sem vaidade, a alma sem hímen.

 

É tudo isto e mais:  Ao tempo impune,

gozando das delícias que Amor une,

ir sofrendo as paixões que nos redimem.

 

______________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, batalha por todos os seus direitos, inclusive os autorais. Isto, porque cumpre todos os seus deveres.

 

 

 

 

segunda-feira, 17 de março de 2025

 

                     OEIRAS, TERESINA, PARNAÍBA

                                                                                                     

                                                         


                  
Francisco Miguel de Moura*

 

Qual o destino do Piauí? Qual o destino de suas três cidades mais históricas?    Acho simpática a idéia da criação do estado do Gurguéia, mas não com esse nome.  Por que não Piauí do Sul? Vergonha do nome que sempre tiveram os povos de lá, onde fica o rio Piauí, acidente geográfico que deu o nome a nosso estado?

Oeiras foi a primeira capital do Piauí e, à época da sua fundação (1717), uma das mais modernas cidades do Brasil. Todas as grandes cabeças da província e as melhores famílias vindas de Portugal moravam lá. Tem tradição, tem artistas, músicos como Possidônio Queiroz, romancistas como O.G. Rego de Carvalho e Expedito Rego, tem historiadores como Dagoberto Carvalho. Não, Oeiras ficar pertencendo ao Gurguéia, pra mim, é um absurdo. Se ao menos fosse para ser a capital do novo estado! Onde fica o brio dos oeirenses? Não, isto não me entra. Nem pela inteligência nem pelo sentimento. Uma reavaliação dos limites do novo estado deve ser feita já e já.

Teresina, fundada em 1852, é uma saga de D. Pedro II como integrador e civilizador do Império – arrojado projeto de construção de uma cidade nova para ser capital do Piauí, em lugar aberto ao desenvolvimento da navegação e dos transportes. Saraiva, Conselheiro do Império e amigo da Rainha, escolheu o local: Nem Amarante nem Parnaíba; fixou-se no sítio próximo ao hoje bairro Poty Velho, construindo a Vila Nova do Poty, imediatamente rebatizada de Teresina, bela e faceira, à margem direita do Parnaíba. Do outro lado ficava Timon (à época, com outro nome), onde, segundo as más línguas, morava amásia do fundador. Bem traçada, bem cuidada para a época, cresceu como cidade imperial, embora hoje tenha pouco do seu passado, destruído pela sanha do capital e da modernidade.  Teresina tem poucos célebres escritores: Abdias Neves, político, poeta e o primeiro romancista da cidade; Lucídio Freitas, poeta, fundador da Academia Piauiense de Letras, hoje conhecida como “Casa de Lucídio Freitas”; e Mário Faustino, Torquato Neto, H. Dobal, três grandes poetas. Em Teresina, fervilham os novos poetas e prosadores, nem todos aqui nascidos. Teresina, qual é o seu destino?

De Parnaíba, nem sei se falo de forma a agradar seu povo, sensível e cônscio da sua importância, tendo sido, em determinada época da nossa história, a real capital do Piauí, em virtude de sua indústria, seu comércio, seu desenvolvimento. Somente cidades com grande tradição têm um escritor do estofo de Assis Brasil, mas há muitos outros no passado e no presente. Como não posso citar todos, vale lembrar Alcenor Candeira – o verdadeiro poeta da cidade, o melhor e o mais moderno, além do Diego Mendes Sousa, da novíssima geração. Culta e civilizada, quis ser a capital, mas o Saraiva não deixou. Será que pensa em ser capital do novo Piauí, quando o Gurguéia conseguir sua independência?  Parnaíba tem o mar – por extensão chamamos todas as nossas praias de Parnaíba (desde Luís Correia até o limite com o Ceará). Parnaíba tem Pedra do Sal, Lagoa do Portinho e o Delta. Falta o porto, ninguém consegue dizer o porquê. O Aeroporto Internacional de Paranaíba ainda é uma brincadeira que  precisa ser levada a sério, mas pode ser se houver uma abertura maior para nossas praias com grandes empreendimentos paieiros. Vale mais o porto. Fique em qualquer parte do litoral piauiense, terá sempre a direção de Parnaíba. A cidade precisa da linha férrea (desativada, por quê?), para sair do seu isolamento. Precisa de ousadia, coragem dos seus administradores e políticos, como os seus antepassados fizeram ao lançar o primeiro grito da Independência (19-10-1822). Aí os parnaibanos poderão traçar novos destinos.

Porém, sendo capital do Piauí ou não, a Parnaíba será sempre grande e querida dos piauienses, como Teresina e Oeiras o são – ambas a seu modo.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta e romancista, membro da Academia Piauiense de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Associação Internacional de Escritores e Artistas, esta com sede em Toledo, Ohio, Estados Unidos.

 

 

sábado, 8 de março de 2025

 


PARA A MULHER

                    Francisco Miguel de Moura*

 

Ela tem a beleza dos meus dias

E muito mais de tudo o que não vejo,

Tem o quanto não tenho, mas desejo,

E assim desmancha as nossas nostalgias.

 

Desde a manhã à noite, sem desvios,

Com tanto amor a tanto nos embarga

Lá no porão do sangue onde se alarga

Como se fosse um rio entre dois rios.

 

E bem maior, se é longa a travessia

No casamento ou fora... Quem diria?!

Ela sofre o ciúme e o amor que cala,

 

Mas, na vida, não deixa de ser forte,

Vence a dor, o desprezo, vence a morte,

Desde que é sempre o coração quem fala.

  _________

                                    Teresina, 08/03/2025

     *Francisco Miguel de Moura , poeta brasileiro.

 

 

domingo, 2 de março de 2025

 


                                        A JOIA RARA (Livro Inédito) 

Autor:

          Francisco  Miguel  de  Moura  nasceu  em  16.06.1933, em Francisco Santos, município  do Estado do Piauí. Começa  a  fazer  poesia   aos  14  anos, apesar  de  seu   primeiro livro só  ser  publicado  depois  dos  trinta. Tem  três  dezenas  de  livros  publicados, colabora  em  jornais  e  revistas  do  Brasil  e  do exterior  como, por  exemplo, Das  artes  das  letras  e  Diário  dos  Açores, de  Portugal; Clarín  e  Lea, da  Espanha   e  Jalons, da  França.  Foi  premiado  em  vários  gêneros  literários (poesia, conto,  romance  e  crônica). Francisco  Miguel  de  Moura  tem   a  arte  como  paixão, faz  da  palavra  seu  trabalho  e  seu  brinquedo, gosta  da  natureza  como  se fosse  quase  uma   religião sem  dogmas. Segundo  o  autor,  a   partir  de  Universo  das  águas (1979), elogiado   por  Carlos  Drummond  de  Andrade, foi  quando  se  encontrou  originalmente, longe  das   influências  maiores  como  a  do  próprio  Drummnod.

Tradutora:

Divaneide Maria Oliveira Carvalho nasceu no dia 25 de março de 1968, em Teresina (Estado de  Piauí). Graduada em Língua Portuguesa  pela  Universidade  Federal do  Piauí (UFPI). Tem  pós-graduação em  Língua  Portuguesa. Estudou  espanhol  no Brasil  e  em  Barcelona  (Espanha). Faz  tradução de  trabalhos  literários  e  jurídicos  em  espanhol. Publicou  Sensações (poesia, 2003), Ulisses  entre o  amor  e a  morte, de O.G. Rego de  Carvalho (tradução, 2004) e  As  estações, de H. Dobal (tradução  de poesias, 2009). Selecionou, organizou   e  traduziu  Testemunho,  antologia  poética  do  poeta  Francisco  Miguel  de  Moura. Este   trabalho  é   uma  homenagem  aos  30( trinta)  anos  da  edição  de  Universo  das  Águas.

Autor:

Francisco  Miguel  de  Moura  nació  en  16.06.1933, en  Francisco  Santos, municipio  del  Estado  de  Piauí. Comienza  a  hacer  poesía  a   los   14  años, a  pesar  de  su  primer  libro  sólo  ser   publicado  después  de  los   treinta. Tiene  tres  decenas  de  libros  publicados, colabora  en  periódicos  y  revistas  de  Brasil  y del  exterior  como,  por  ejemplo,  De  los  artes  de  las  letras y  Diario  de  Azores, de  Portugal; Clarín  y  Lea, de  España  y  Jalons, de  Francia. Fue  premiado  en  varios  géneros  literarios (poesía, cuento, ficción  y  crónica). Francisco  Miguel  de  Moura  tiene  el  arte  como  pasión, hace  de  la  palabra  su  trabajo  y  su  juguete,  le  gusta  la  naturaleza  como  si  fuese  casi  una  religión  sin  dogmas. Según  el  autor, a   partir  de  Universo  de  las   aguas (1979), elogiado  por  Carlos  Drummond  de  Andrade,  fue   cuando  se  encontró  originalmente, lejos  de  las  influencias  mayores  como  a  del  propio  Drummond.

Traductora:

          Divaneide  Maria  Oliveira   Carvalho  nació  el  25  de  marzo de 1968, en  Teresina (Estado de Piauí). Graduada  en  Lengua  Portuguesa  por  la  Universidad  Federal  de  Piauí (UFPI). Tiene   posgrado   en   Lengua  Portuguesa. Estudió  español   en  Brasil y  en  Barcelona (España). Hace  traducción  de  trabajos  literarios  y  jurídicos  en  español. Publicó   Sensaciones  (poesía, 2003), Ulises  entre  el  amor  y  la  muerte, de O. G. Rego de Carvalho (traducción, 2004)  y  Las   estaciones, de H. Dobal (traducción de poesías, 2009).  Seleccionó, organizó  y  tradujo  Testimonio, antología  poética  del  poeta  Francisco  Miguel  de Moura . Este  trabajo es  un homenaje a  los 30 (treinta)  años  de  la  edición  de  Universo de  las  Aguas.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025


 

                           A CULPA, DE QUEM É?

 

                       Francisco Miguel de Moura*

 

            Dentro da pátria, somos soberanos para fazer o que é bom, agir como cidadãos, dentro das leis, a principal é a Constituição do País. Abaixo disto, tudo é tirania, maldade, desumanidade. E quem é cruel, desumano, inimigo da obediência às leis, não pode ser bom cidadão. Cidadão é quem preza a terra, a tradição, a família, a pátria, os irmãos que tiveram a sorte de possuir bens e os deserdados da fortuna. E a todos respeitar.  Cabe citar o Mestre Rui Barbosa, quando define:

             A pátria não é ninguém, são todos e cada um tem no seio dela o mesmo direito à palavra, à associação. (...) Não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo. É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade.”

             E mais ainda: Quando se obedece a lei maior, a da Constituição Federal, entra-se numa situação de Ditadura. E ainda, segundo o Mestre Rui Barbosa:

            “A pior ditadura é a do a do Judiciário.”.         

Mas, também quando o povo joga lixo nas ruas e reclama da sujeira, desobedece às leis de trânsito e reclama do mau trânsito, reclama dos maus políticos e vota mal ou não vota, de quem é a culpa?

Quando trapaceia nos negócios e fica a pregar falsa moral, quando não liga sequer pra horário de nada, seja o vigia do prédio ou o prefeito, o governador, o presidente – de quem é a culpa? Por outro lado, que prefeito é aquele que não cuida da limpeza e da beleza de sua cidade?  Que prefeito é aquele que só vive na fazenda, não atende aos que o procuram, só quando se trata do seu próprio interesse? Que enriquece rapidamente e vive viajando a negócios “de mentirinha”, pois o que faz é turismo, passeio, gastos pessoais com dinheiro público?  Que exorbita na cobrança dos impostos? Que não cuida da tradição da cidade, de sua história, de sua cultura? Governante que não cuida da educação, saúde e segurança não merece respeito.  

O povo tem o poder de criticar, e a melhor crítica que se faz é eleger os bons, os que deram certo como administrador do bem público, e não votar nos que traem sua confiança com projetos mirabolantes na campanha e quando tomam o poder enriquecem-se por meios ilícitos, traficando, burlando e açambarcando os cofres públicos através de contabilidade fraudulenta, etc. Mentindo e falseando. Dizem entre si que é para agradar o povo. Que povo é esse, então? 

 Também a culpa é do povo quando este dá mau exemplo aos políticos – porque também pode acontecer que o exemplo venha de baixo. Povo desse feitio não tem honra para criticar.  Mancomunado com os ilusionistas da fé pública, povo assim não merece nunca ser elogiado.  Procurar o jeitinho em lugar da lei e da ética, insinuando a burocracia a ser desonesta, a administração a ser condescendente, aos políticos a tratarem a coisa pública como se sua fosse – de quem é a culpa? A culpa é também dos políticos, dos juristas, dos parlamentares quando fazem leis casuísticas porque alguém da sua laia vai ser beneficiado. E eles também são povo porque do seio do povo vieram.

Mas, estamos falando de que povo? Do povo brasileiro, em primeiro lugar. Somos preguiçosos, queremos o mais fácil. Temos defeitos malditos de origem, razão por que temos que trabalhar dobrado para tirar a diferença de séculos. Só assim construiremos uma pátria democrática, livre, justa e moralmente aceitável perante as nações civilizadas.

_________________

*Francisco Miguel de Moura – Membro da Academia Piauiense de Letras, prosador e poeta, e-mail:franciscomigueldemoura@gmail.com.br

 

 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025


 

O MAU LEITOR

                       Francisco Miguel de Moura*

 

Poesia é uma cousa muito ingrata,

só o poeta que é bom não renuncia.

Porém o mau leitor desaprecia

E esbraveja gritando: “Coisa chata!”

 

Se o poeta se estende, sem bravata,

Como a água que cai dentro da pia,

O leitor logo invade uma outra via,

E, o que era sonoridade, desbarata.

 

Pois quer discurso, história ou teoria,

Quer exemplo, uma história morta ou fria,

Fingindo-se orador... E grita e cora.

 

Perde a letra e o som do que retrata

pra receber aplausos, quando mata

o melhor do poema. E se devora!

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 *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

 

DESESPERO

  (Homenagem a Fernando Pessoa)  

           Francisco Miguel de Moura.*   

                                  
Deixem-me respirar completamente,
Depois de sorver a vida e seus finitos,
Deixem-me vagar a passos, vulgarmente,
Por todas as cidades, vilas e distritos.

Deixo a vocês, todos vocês canalhas,
Lixo, gosma, sujos, sarros e detritos
Do que vivi, sonhei, amei perdidamente.

Não quero ver meus nomes mal escritos,
Nem palavras ouvir que sejam gritos.

Deixem-me voar, saltando e não bonito,
Vão-se todos da praia onde eu me espraio
Ouvindo a música dos surdos e a palavra
dos proscritos.

Grito de dor, de medo... Ou silício de paz?
Irei soltar tribalmente onde ninguém me ouça,
Pois juro que ao universo pouco ligo
Como quem é capaz de ouvir besouros
Roendo o teto, sem perder o juízo.

A eternidade inteira, inteiramente nu,
Na escuridão que é luz dos homens mansos,
Ficarei completamente ignorante (e ignorado)
do presente, do passado e do futuro.

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 *Francisco Miguel de Moura, autor, poeta brasileiro.

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