OEIRAS,
TERESINA, PARNAÍBA
Francisco Miguel de Moura*
Qual o destino do Piauí? Qual o destino de suas três
cidades mais históricas? Acho simpática a idéia da criação do estado
do Gurguéia, mas não com esse nome. Por
que não Piauí do Sul? Vergonha do nome que sempre tiveram os povos de lá, onde
fica o rio Piauí, acidente geográfico que deu o nome a nosso estado?
Oeiras foi a primeira capital do Piauí e, à época da
sua fundação (1717), uma das mais modernas cidades do Brasil. Todas as grandes
cabeças da província e as melhores famílias vindas de Portugal moravam lá. Tem
tradição, tem artistas, músicos como Possidônio Queiroz, romancistas como O.G.
Rego de Carvalho e Expedito Rego, tem historiadores como Dagoberto Carvalho.
Não, Oeiras ficar pertencendo ao Gurguéia, pra mim, é um absurdo. Se ao menos
fosse para ser a capital do novo estado! Onde fica o brio dos oeirenses? Não,
isto não me entra. Nem pela inteligência nem pelo sentimento. Uma reavaliação
dos limites do novo estado deve ser feita já e já.
Teresina, fundada em 1852, é uma saga de D. Pedro II
como integrador e civilizador do Império – arrojado projeto de construção de
uma cidade nova para ser capital do Piauí, em lugar aberto ao desenvolvimento
da navegação e dos transportes. Saraiva, Conselheiro do Império e amigo da
Rainha, escolheu o local: Nem Amarante nem Parnaíba; fixou-se no sítio próximo
ao hoje bairro Poty Velho, construindo a Vila Nova do Poty, imediatamente rebatizada
de Teresina, bela e faceira, à margem direita do Parnaíba. Do outro lado ficava
Timon (à época, com outro nome), onde, segundo as más línguas, morava amásia do
fundador. Bem traçada, bem cuidada para a época, cresceu como cidade imperial,
embora hoje tenha pouco do seu passado, destruído pela sanha do capital e da
modernidade. Teresina tem poucos
célebres escritores: Abdias Neves, político, poeta e o primeiro romancista da
cidade; Lucídio Freitas, poeta, fundador da Academia Piauiense de Letras, hoje
conhecida como “Casa de Lucídio Freitas”; e Mário Faustino, Torquato Neto, H.
Dobal, três grandes poetas. Em Teresina, fervilham os novos poetas e
prosadores, nem todos aqui nascidos. Teresina, qual é o seu destino?
De Parnaíba, nem sei se falo de forma a agradar seu
povo, sensível e cônscio da sua importância, tendo sido, em determinada época
da nossa história, a real capital do Piauí, em virtude de sua indústria, seu
comércio, seu desenvolvimento. Somente cidades com grande tradição têm um
escritor do estofo de Assis Brasil, mas há muitos outros no passado e no
presente. Como não posso citar todos, vale lembrar Alcenor Candeira – o verdadeiro
poeta da cidade, o melhor e o mais moderno, além do Diego Mendes Sousa, da
novíssima geração. Culta e civilizada, quis ser a capital, mas o Saraiva não deixou.
Será que pensa em ser capital do novo Piauí, quando o Gurguéia conseguir sua
independência? Parnaíba tem o mar – por
extensão chamamos todas as nossas praias de Parnaíba (desde Luís Correia até o
limite com o Ceará). Parnaíba tem Pedra do Sal, Lagoa do Portinho e o Delta.
Falta o porto, ninguém consegue dizer o porquê. O Aeroporto Internacional de Paranaíba
ainda é uma brincadeira que precisa ser
levada a sério, mas pode ser se houver uma abertura maior para nossas praias
com grandes empreendimentos paieiros. Vale mais o porto. Fique em qualquer
parte do litoral piauiense, terá sempre a direção de Parnaíba. A cidade precisa
da linha férrea (desativada, por quê?), para sair do seu isolamento. Precisa de
ousadia, coragem dos seus administradores e políticos, como os seus
antepassados fizeram ao lançar o primeiro grito da Independência (19-10-1822).
Aí os parnaibanos poderão traçar novos destinos.
Porém, sendo capital do Piauí ou não, a Parnaíba será
sempre grande e querida dos piauienses, como Teresina e Oeiras o são – ambas a
seu modo.
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*Francisco Miguel de Moura, poeta e romancista, membro da Academia
Piauiense de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Associação
Internacional de Escritores e Artistas, esta com sede em Toledo, Ohio, Estados
Unidos.
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