sexta-feira, 14 de novembro de 2025

 


JURACI – SONETO

              Francisco Miguel de Moura*

 

Juraste a mim? A ti?... Sonhar errei,

num espaço de tempo tão pequeno,

pois que eu pisava simples, num terreno,

onde teu pai, somente, era o teu rei.

 

Na manhã calma, eu era o professor,

havia outros alunos, tão presentes,

que tudo viram, não como inocentes,

brilhar um raio forte... Era do amor...

 

Num minuto, tremeu o que era mão,

preparando o que em nós seria um beijo...

Manhã de sol... Um belo acontecer!

 

Mas, de repente, param... Como não!?

Abriu-se, em nim, no pobre coração

A cicatriz do que não pôde ser pôde ser

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

terça-feira, 11 de novembro de 2025


 

DESENCONTROS

    

        francisco miguel de moura*

 

 

um dia era um natal sem menino

uma vez era um menino sem natal

agora - homem sem menino

                                      natal!

 

triste desencontro encontrado

em palavras

de sombras e noites de lembranças

 

era um natal sem vinho sem sino

era outra vez um natal não

                                   divino!

 

  • Poeta brasileiro, mora em Teresina, Piauí.
  • Email: franciscomigueldemoura@gmail.com
  • Acessem os blogues: cirandinhapiauí.blogspot.com e
  • abodegadocamelo.blogspot.com.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

 

O QUE MORRE

           Francisco Miguel de Moura*

   

Casa e caminhos morrem desamados,

esquecidos, na solidão do Além.

Os segredos falecem de guardados,

e amores morrem quando morre alguém.

 

O porto morre, a onda se esvazia,

e o sonho esvai-se quando acorrentado,

e treva nasce do morrer do dia.

Vão-se o rico, o feliz e o desgraçado.

 

Nada é perene, pois quem nasce vibra

somente um instante para a queda enorme,

eis que essa lei fatal tudo equilibra.

 

Morrem lembranças, fruto do passado,

e o presente e o futuro quando dorme

o homem sem fé, sem luz, abandonado.

 

___________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

 

 

terça-feira, 28 de outubro de 2025

 


A CASA E O POETA

 

 

             Francisco Miguel de Moura*

 

 

A casa do poeta  tem por via

a fala dos irmãos com outro irmão;

de uma vida coberta de  paixão,

as confissões: tristeza ou alegria.

 

É um menino pequeno (como não?)

no que quis e jamais pôde alcançar,

que  sofre  tantas  vezes  por amar,

quantas vezes num choro sem razão.

 

De medo, treme à vista do vizinho,

pois no quintal dos fundos grita e freme

um diabo nu, barrando o seu caminho.

 

Diante de Deus e de Nossa Senhora,

pede conformação para quem geme...

E não terá sua casa onde não mora.

                   

 

_________________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina, Piauí.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

 


DÚVIDA

 

         Francisco Miguel de Moura

 

 

Oh mistério! Não creio... Sou obtuso.

É, muitas vezes me recuso a crer

que se tenha nascido pra morrer.

Será determinismo o que recuso?

 

A própria vida às vezes eu acuso,

porque me faz gozar, me faz sofrer...

E é mais triste que possa parecer

o sofrer do inocente... Estou confuso!

 

Se Deus existe, tudo me faz crer

que seu orgulho sádico é tão forte

que só nos cria para o seu prazer.

 

Mas outras vezes penso d’outra sorte:

– Um velho Deus, coitado, a padecer,

arrependido por ter feito a morte.

 

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

 


A DEUSA NUA

 

          Francisco Miguel de Moura*

 

 

Vi uma deusa solitária e nua,

a correr pelas praias. Seu segredo

era o silêncio. Eu quase senti medo

daquela cor de prata, cor de lua.

 

Corri para apanhá-la, ainda era cedo!

Com vergonha de mim, vindo da rua

tão faminto e cansado. E ela recua...

“Se deusa for”, gritei, “vou ficar quedo”.

 

E ela correu de novo... E, atrás, perdido,

desesperado, eu, louco e comovido,

queria o mel dos lábios cor de beijos.

 

Cego e surdo, ante aquela formosura,

seio pulsante, o’ estranha criatura... 

Caí morrendo a morte dos desejos.

 

 

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*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025


 PARA A MULHER

                    Francisco Miguel de Moura*


Ela tem a beleza dos meus dias

E muito mais de tudo o que não vejo,

Tem o quanto não tenho, mas desejo,

E assim desmancha as nossas nostalgias.


Desde a manhã à noite, sem desvios,

Com tanto amor a tanto nos embarga

Lá no porão do sangue onde se alarga

Como se fosse um rio entre dois rios.


E bem maior, se é longa a travessia

No casamento ou fora... Quem diria?!

Ela sofre o ciúme e o amor que cala,


Mas, na vida, não deixa de ser forte,

Vence a dor, o desprezo, vence a morte,

Desde que é sempre o coração quem fala.

  _________

                                 Teresina, 08/03/2025

     *Poeta brasileiro. mora em Teresina-PI


sexta-feira, 17 de outubro de 2025

 

QUERENÇAS

               Francisco Miguel de Moura*

 

Quero ter a vaidade dos caminhos:

dão passagem, mas pouco dão abrigo.

Quero ter o orgulho do tufão,

Quero ter a tristeza do jazigo.

 

Quero sentir da tarde a lassidão

e a solidão da noite no deserto,

das pobrezinhas flores – o perfume,

como as nuvens – ficar no céu aberto.

 

Quero ter emoções de amor secreto,

sentir como se sente uma paixão,

pra cantar glórias e chorar amores.

 

Quero viver do ideal concreto,

quero arrancar de mim o coração,

incapaz de conter todas as dores.

 

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*Francisco Miguel de Moura, poeta do universo.

Este é meu primeiro soneto (“Areias”, 1966)

 

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