terça-feira, 9 de agosto de 2022

 

À LUZ DE UMA ILUSÃO

             Francisco Miguel de Moura*


Na cata de piolho, o caminho

que vai entre o catado e catador,

dos dedos ao cérebro, é modelo

e luz, quase, talvez, amor.

 

Catar é dedilhar os sentimentos

e paz, e paz até o sonha azul...

 

Catar feijão, meu caro João Cabral

é menos nobre, apenas duas mãos

sobre caroços, sem leveza... Não!

 

Catar palavras, ai! Doçura, não,

quando o dicionário as desconhece

e a mão do catador vai de per si

e se torna produto, muito ingrato        

por alçar dor contra o momento... Não!

 

De todas as catas, prefiro a da infância,

quando o cabelo do catado suavemente,

sente as mãos da moçoila tão macias

planando a luz de uma ilusão fugaz

              que não passa

                   nem passará jamais.

__________________
    
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.                     

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