MODERNISMO
& VANGUARDA
Desde
o primeiro ao último estudo do livro de Paulo Nunes, cujo título encima este
trabalho, é um repositório de comentários sobre temas e livros que devem ser
lidos, meditados, discutidos e, como ele próprio fez, comentados na rua, nas
instituições literárias, no jornal, ou onde mais haja tempo e condição. Creio que
é esta a razão do livro.
Antes de entrar nalguns detalhes, quero dizer que Paulo Nunes escreve bem, correntemente bem, coerentemente bem. Portanto, dá gosto lê-lo, mesmo que não o aprovemos em algum ponto, em algum ponto ou ponto vírgula. Seria elogio dizer que um professor escreve bem, sabe escrever? Talvez não, se com isto quiséssemos apenas referir à gramática. Mas nós falamos aqui de estilo. E aí já é literatura, crítica literária. M. Paulo Nunes é realmente um crítico de verdade, de peso, de confiança, desde quando se refere aos clássicos da nossa ou de outras literaturas até quando comenta os piauienses.
Dito
o geral, agora passemos às miudezas.
Gostei
de encontrar um capítulo de "Autores
e Temas Piauienses", o penúltimo do livro, com os seguintes
artigos: "Lucídio Freitas",
"A Poesia Popular de João Ferry", "Uma Página Esquecida de Da Costa
e Silva", "Ginásio Frei Henrique", "Memória da Faculdade de
Filosofia", "Poetas Piauienses", "História da Educação no
Piauí", "Clodoaldo Freitas", "A Literatura Piauiense e a
Crítica Nacional" e
"Despedidas". São 10 artigos que o absolvem da pecha de não
tentar familiarizar-se com a juventude escritora de sua terra.
No sexto artigo da série,
cita H. Dobal e Hardi Filho entre os poetas consagrados e, entre os novos,
Carvalho Neto, Cinéas Santos, Graça Vilhena e Marleide Lins. Eu, apesar de não
vir em nenhum dos grupos, considero um balanço razoável e uma crítica
importante ao livro "Baião de Todos", de cuja antologia participei com alguns
poemas, por convite do editor. A falta de citação, "não importando em nenhum desapreço", conforme referiu M.
Paulo Nunes, claramente representa a escolha de gosto do crítico e sua
independência, o que é, sem dúvida, louvável.
Com
relação a outro artigo, "A
Literatura Piauiense e a Crítica Nacional", quando essa matéria saiu
no jornal tive a oportunidade de referenciá-la, mas não fui bem entendido ou
não me fiz entender, razão por que seria extemporâneo estender-me aqui, exceto
que o considero uma grande peça crítica.
Já “Uma Página Esquecida de Da Costa e
Silva" tem sabor todo especial. É através de M. Paulo Nunes que a
Academia Piauiense de Letras toma conhecimento e adquire o texto do discurso de
Da Costa e Silva ao assumir sua cadeira na "Casa de Lucídio Freitas",
em janeiro de 1923, no qual faz o elogio de seu patrono, o Pe. Leopoldo Damasceno
Ferreira. Embora o escritor Cristino Castelo Branco houvesse escrito que o
discurso de Da Costa e Silva tinha sido publicado na “Revista da Academia”,
no ano seguinte, na verdade houve uma suposição da parte do informante, pois
ali nem alhures a peça oratória foi encontrada. Por isto vinha causando espécie
aos pesquisadores, historiadores e acadêmicos em geral. A crítica é também para
essas descobertas, esses achados bibliográficos.
Na verdade,
não sinto nenhuma melancolia em falar da literatura do Piauí, do Brasil ou de
qualquer lugar. Na literatura, o que importa é a obra, como ela é (se boa,
forte, vigorosa, segura, nova, inovadora, etc. etc.). Não importa o lugar onde
ela foi produzida. Isto de chamar literatura daqui ou dali é apenas uma forma
didática de arrumar umas coisas para distinguir outras. Literatura é
literatura, é a obra bem escrita, criativa, transmissora de emoções,
conhecimentos expressivos e qualidade linguística. Portanto, também boa para
ser lida. Agora, para nós outros que não somos críticos alinhados ao estruturalismo,
que somos críticos ainda considerados impressionistas – que eu teimo, porém, em
denominar de expressionistas – penso que a vida do autor deve ter algum interesse
porque ela se reflete inelutavelmente na obra. Aí a crítica se completa. É ler
e sentir a obra, escolher e tentar decifrá-la, encaminhando o leitor para sua
leitura produtiva. E como encaminhá-lo? Entregando-lhe alguns trechos considerados
mais expressivos, indicando caminhos de leitura, ou seja, o texto. Primeiramente
o texto, é claro. Mas também o contexto (dentre o qual a vida do autor é o mais
importante). E só a integração texto-contexto pode ajudar o crítico a resolver como
escreverá seu metatexto, seu “intertexto”, seu “intratexto”. Registre-se que estas duas últimas palavras são
novas na crítica.
Manoel
Paulo Nunes faz interessante a crítica didática, em texto vivo, apaixonado,
cheio de observações e notas (que podem ser biográficas ou não). Para mim, uma
crítica expressionista. Por isto mesmo
desperta o gosto da leitura. E não seria este o primeiro dever do crítico?
Por todas essas razões, "MODERNISMO & VANGUARDA", de M. Paulo Nunes, é um livro que deveria estar em todas as bibliotecas do Estado e do país.
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Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador piauiense, mora em Teresina-PI
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