PEQUENA HISTÓRIA
DE UM GRANDE CONSELHO
I PARTE
Francisco
Miguel de Moura*
Não existe história escrita sem a
participação dos sentimentos e das crenças de quem escreve. Não há uma história
fria. Uns mais outros menos, cada um de
nós deixa a marca pessoal em tudo o que faz. Como diria Drummond, «de tudo fica
um pouco».
A história é o estudo e o registro de problemas e
acontecimentos da vida e da sociedade, tomados em bloco e interpretados à luz de documentos e criações
humanas. Dados e sucedidos em espaços e tempos diferentes, os relatos da
história mostram apenas uma reconstrução do passado, por mais objetividade que
consiga o historiador, por mais que se aproxime da ciência.
Com
esta orientação muito pessoal, pretendo levantar uma pequena e modesta história
do Conselho Estadual de Cultura do Piauí,
aproveitando ainda a frescura dos documentos existentes e prevendo sua
extinção, no futuro, como costuma acontecer.
Creio
que já podemos dividir o seu pouco tempo de vida para uma instituição, em três fases, as quais chamaria de burocrática, solene e democrática.
1. BUROCRÁTICA
A
primeira fase alcançaria naturalmente desde sua fundação pelo Decreto nº 631,
de 12 de outubro de 1965, assinado pelo Governador Petrônio Portela Nunes e seu
Secretário da Educação e Cultura, Paulo da Silva Ferraz, até a assunção da Secretaria da Cultura pelo
Prof. Manoel Paulo Nunes, em 26 de maio de 1982, ainda no Governo do Dr.
Lucídio Portela.
Não
há muito o que relatar sobre essa fase. O mais antigo livro de atas encontrado
é de 5 de janeiro de 1970, conforme termo de abertura sem assinatura e a
primeira ata do CEC é de 2 de fevereiro do mesmo ano, em cuja sede provisória,
na Rua Gal. Osório, 1976-N, esteve reunido, em sessão ordinária, às onze horas,
«estando presentes os seguintes
Conselheiros: - Des. Simplício de Sousa
Mendes - Presidente, Dr. Celso Barros Coelho, Dr. João Nonon Fontes de Moura
Ibiapina, Capitão Aurino Nunes Filho,
Dr. Manuel Felício Pinto e Jornalista Deoclécio Dantas. O Exmo. Sr.
Presidente do Conselho dá início aos trabalhos do dia, propondo aos membros do
Conselho que seja acrescentado, na lei que estipula o Prêmio Cultura do ano,
também o gênero poesia, sendo analisado e pesquisado pelos Conselheiros. A
proposta foi aceita, não havendo impedimento. O Exmo. Sr. Presidente recebeu um
livro sobre a grande figura das letras no Brasil - Câmara Cascudo, doado à
biblioteca que brevemente será instalada neste Conselho; de acordo com o Plano de Cultura do ano em
curso, está programada uma palestra semanal, pela Rádio Clube de Teresina, por
um dos membros deste Conselho, debatendo sobre um tema da atualidade, de cunho
educativo cultural etc. O Presidente dá por encerrada a presente sessão. Eu,
Maria Elza Dias Rego, Secretária Substituta, lavrei e assinei a presente ata.»
A
transcrição reflete o que devia acontecer no desenrolar das poucas sessões que
se realizavam (não houve nenhuma reunião nos anos de 1972 e 1973) - o que me dá
razão para a classificação adotada. Mas o Conselho passava, já ali, às ações
externas, através do programa de rádio. Era uma espécie de consciência de sua
importância, sem dúvida, daí porque carregava no seu tom burocrático. Quem
ficou com a incumbência de fazer a palestra semanal, na Rádio Clube de Teresina,
foi o Conselheiro, Prof. A. Tito Filho, por muito tempo, onde, com variado
cardápio noticioso e crítico, revia erros gramaticais de diversos tipos e
diversas publicações, mas também atingia a literatura e os escritores,
especialmente os novos. Eu e O. G. Rego
de Carvalho fomos uma das suas vítimas, com infundadas afirmações que atingiam
a dúvida sobre autoria do livro «Linguagem e Comunicação em O. G. Rego de
Carvalho”, dúvida que foi devidamente esclarecida, conforme manifesto de
maio de 1972, distribuído e publicado em todos os jornais da época, assinado
por vinte e dois dos intelectuais e escritores mais atuantes, entre os quais
alguns membros do Conselho, como era o caso de Fontes Ibiapina.
Não
obstante a declaração final, referida ata não foi assinada nem pela Secretária
nem pelo Presidente. Até às fls.15, tudo o que se vê de assinatura é um rubrica
no alto das páginas de rosto, à esquerda, indicando ser da Secretária do
Conselho, Ceres Maria Paz Pinho, que permanece até o termo de posse do Prof. José
de Arimathéa Tito Filho, em 16 de março de 1971, nomeado que fora pelo
Governador João Clímaco d'Almeida, depois da morte do Des. Simplício de Sousa
Mendes, em 2.1.71. Durante a vacância da
Presidência, ocupou-a o Conselheiro Vice-Presidente, poeta Luiz Lopes Sobrinho.
Em 27 de agosto de 1974, data da nomeação do novo Conselho,
já no Governo Alberto Silva, nota-se a presença de outras pessoas como membros
do CEC: Emília Castelo Branco do Carvalho, Maria Amélia Azevedo Ribeiro,
Armando Madeira Basto - este posteriormente se tornaria Presidente (9.9.74)
- renovados os mandatos de José de
Arimathéa Tito Filho, Luiz Lopes Sobrinho, Noé Mendes de Oliveira, João Nonon
Fontes de Moura Ibiapina, Deoclécio Dantas Ferreira.
Durante
todo esse tempo, no período em que considero a fase burocrática, de que tratava Conselho? Compra de livros, auxílio à
publicação de autores individuais, posse de um ou outro conselheiro,
comunicação de atos do Governo e da Secretaria de Cultura, de visitas oficiais,
mortes, solenidades, discursos (até um de comemoração do VI aniversário da
Revolução de 31 de Março) etc. etc. Não foi possível detectar outras formas de
atuação do Conselho, muito embora constasse no Decreto nº 631, de 12 de outubro de 1965, art. 2º -
«O Conselho Estadual de Cultura tem por finalidade: a) estudo e proposição de
programas relacionados com a defesa do patrimônio cultural do Estado; b)
promoção e defesa da cultura e aperfeiçoamento cultural do povo piauiense.»
Também
sobre o Concurso de Literatura, instituído pela Lei 2.208, de 17.11.61, a cargo
do CEC, conforme art. 5, do citado decreto, não tivemos notícia de sua
execução, apesar da cobrança que o poeta Hardi Filho e outros faziam pela
imprensa.
O
acontecimento mais importante foi a aprovação do Plano Editorial do Estado, na
reunião do CEC, em 30.9.74, já então sob a
Presidência do jornalista Armando Madeira Basto. No seu início, o Plano Editorial foi dirigido por Comissão que
funcionava diretamente ligada ao Governo do Estado (Decreto nº 1416, de 17.1.72),
não tendo a participação do Conselho Estadual de Cultura (que não estava
funcionando plenamente, como vimos atrás), conforme consta da primeira obra,
«Lira Sertaneja» de Hermínio Castelo Branco, editada em 10 de setembro de 1972. Contando com as boas graças do Governador
Alberto Silva, o Plano Editorial, nessa sua primeira fase, editou muitas obras
de literatura e história. Referido Plano dá origem ao Projeto Petrônio Portela,
depois de passar por um período estacionário de alguns anos. Também nessa época saiu a revista «Presença»
(Nº 1, maio/74) que, embora prevista na Estatuto do Conselho Estadual de
Cultura, continuou a ser organizada e editada sob os auspícios da Secretaria da
Cultura, por muito tempo.
O
primeiro presidente do Conselho foi, certamente, o Prof. José Camilo da
Silveira Filho. Na pg. 2 do Estatuto e
Regimento do CEC, impressos na Imprensa Oficial, em maio de 1967, consta a
seguinte mensagem comprobatória:
«O Governador
Petrônio Portela Nunes ao dispor sobre o funcionamento do Conselho Estadual de
Cultura, preencheu uma importante lacuna na vida cultural do nosso Estado.
O novel organismo já
está em funcionamento, registrando, em seu favor, o lançamento de importantes
obras para o conhecimento da nossa vida, destacando o livro de mestre Odilon
Nunes, Pesquisas para a História do
Piauí.
Da leitura dos
documentos em anexo, constata-se o alto significado da tarefa confiada àquele
organismo, cujo desenvolvimento constitui objetivo inadiável da política
cultural do Governo do Estado. José Camilo Filho -
Presidente.»
Não
há como contestar que o CEC já naquele mês de maio de 1967 existia legalmente,
embora não se saiba como nem onde funcionava, mesmo que precariamente, pois não
encontramos atas nem outros papéis que o denunciassem, exceto a Portaria CEC
4/67, de 6 de novembro de 1967, nomeando Sônia Maria Setúbal da Cunha e Silva
para o cargo de Escrevente Auxiliar, assinado pelo Presidente, José Camilo da
Silveira Filho.
Já
em 1969, encontramos os documentos que passamos relatar:
a) «Portaria nº 1/69. O Presidente do Conselho
Estadual de Cultura, no uso de suas atribuições legais, etc. RESOLVE designar a funcionária SÔNIA MARIA SETÚBAL DA
CUNHA E SILVA para a função de Secretária Geral Administrativa, com os
vencimentos de Ncr$150,00 (cento e cinqüenta cruzeiros novos), retroagindo os
efeitos da presente portaria a partir do dia 2 de janeiro do corrente ano, data
em que a referida funcionária (passou) a
servir como Secretária, neste Conselho. Comunique-se e cumpra-se.» Portaria assinada
pelo Des. Simplício de Sousa Mendes, mas não datada.
b)
Registro de termos de compromisso dos funcionários servidores do Conselho, assinados pelos seventuários Expedito José
Mota Tavares, Gilda Conceição Rocha Portela, Maria Laura Soares Castelo Branco,
Luísa Alves de Moura, Carlos Alberto Fernandes de Sousa, Maria das Graças
Rodrigues dos Santos e Sônia Maria Setúbal da Cunha e Silva, e pelo Des. Simplício de Sousa Mendes, que,
além de Presidente do Conselho Estadual de Cultura, era também Presidente da
Academia Piauiense de Letras.
Em
16 de março de 1971, o Prof. José de Arimathéa Tito Filho, sendo, à época,
Presidente da Academia Piauiense de Letras, assume a Presidência do Conselho
Estadual de Cultura.
2. SOLENE
Com
a criação da Secretaria da Cultura (Lei 3.262, de 6.12.73) e sua estruturação
no ano seguinte (Lei Delegada 115, de 2.4.74), colocando o Conselho Estadual de
Cultura como um órgão da administração direta, como que o CEC se transforma em
departamento daquela Secretaria. Se por um lado, tirou-lhe algumas iniciativa,
por outro entrosou-o com órgãos como o de Departamento do Patrimônio Natural e
Cultural. Foi quando o Conselho trabalhou intensamente, apreciando matérias
enviadas por esse departamento, dando seus pareceres sobre os tombamentos de
prédios públicos e particulares considerados históricos e de importância
cultural.
Entretanto,
creio eu, a criação de três cargos de suplentes (Lei Delegada nº 160, de
15.7.82), justamente na administração Paulo Nunes, na Secretaria da Cultura,
foi providencial. Foram nomeados pelo Governador o escritor Francisco Miguel de
Moura e os funcionários da Secretaria da Cultura, mas também ligados aos meios
culturais, Luís Gonzaga Brandão de Carvalho,
advogado, e José Aírton Gonçalves Gomes,
bibliotecário, que assumiram no dia 7 de outubro de l982, em sessão
extraordinária, no auditório do Museu do Piauí. A solenidade contou com a
presença do próprio Secretário de Cultura, Manoel Paulo Nunes, do Prof. José
Pires Gayoso de Almendra Freitas - Presidente do Conselho Estadual de Educação,
representando também o Secretário da Educação, e dos seguintes conselheiros do
Conselho Estadual de Cultura: Prof.
Benjamin do Rego Monteiro Neto, Presidente, Dr. Zenon Rocha, Prof. Leopoldo Portela Barbosa, Prof. Noé
Mendes de Oliveira e Profa. Walda Neiva de Moura Leite. Num belo discurso, além
de fazer a apresentação dos suplentes,
com seus cargos e ocupações no seio da cultura piauiense, o Secretário,
Prof. Paulo Nunes, justificou a necessidade da criação daqueles cargos, para
que, com sua convocação, o Conselho pudesse reunir-se e funcionar. Referia-se à
ausência, por motivos diversos, dos membros titulares às sessões do CEC,
conforme verificado nas atas daquele ano e dos anteriores.
A
segunda fase do Conselho começa, então, pelo meio da administração do Prof.
Benjamin do Rego Monteiro Neto, que exerceria aquele e mais dois mandatos na
Presidência da entidade. Para concordar com a minha classificação, basta olhar
a lista dos Conselheiros da época: Benjamin do Rego Monteiro Netos, José Camilo
da Silveira Filho, Zenon Rocha, Leopoldo Portela, Maria Amélia Azevedo Ribeiro,
Luiz Lopes Sobrinho e Noé Mendes de Oliveira. Eu fiz parte da primeira gestão
do Prof. Benjamin do Rego Monteiro Neto (e na seguinte, como Conselheiro, posse
em 30.1.87) e, modéstia à parte, sou fonte viva do que escrevo. Fiz parte, sim,
como Suplente de Conselheiro, e, de vez em quando, ou melhor, constantemente
era convocado. Fui indicado pelo Prof. Paulo Nunes, criador dos Suplentes, com
o intuito de dinamizar o Conselho, quando era Secretário de Cultura (de 26.5.82
a 15.3.83).
É
exatamente nessa fase que começa o esforço do Conselho para sair do ovo, da
fase burocrática. Quer trazer a revista «Presença» para ser organizada pelo
CEC, procura entrosar-se com os demais
Conselhos Estaduais e com outras entidades de escritores e artistas. Lembro
agora da solenidade de 21.7.83, festa do lançamento do livro «Inventário
Precoce», poemas de Dalila Teles Veras, convidada pelo Prof. Benjamin do Rego
Monteiro Neto, na sede do Conselho, contando com a presença de muitos
intelectuais da terra. Sendo portuguesa da Ilha da Madeira e residente em São
Paulo, Dalila tinha (e tem), no entanto, uma grande identidade com o Piauí,
pois é casada com o advogado e também escritor piauiense, Valdecírio Teles
Veras. Na oportunidade, eu fiz um
discurso que era também um estudo crítico do livro apresentado.
Compulsando
as atas da época, pode-se observar a procura de entrosamento com a Secretaria
de Cultura, no intuito de organizar calendário de atividades culturais e mesmo
de dar subsídios à formulação dos programas culturais anuais a serem
desenvolvidos pelos diversos departamentos daquela Secretaria. Indo aos
exemplos concretos: é o próprio Secretário de Cultura, Prof. Paulo Nunes, quem
informa ao Conselho a realização de Congresso de Escritores do Norte e
Nordeste, pela Associação dos Escritores (no caso seria a UBE-PI), com apoio da
Secretaria, durante cujo evento foi lançada a nova edição «Antologia de Da
Costa e Silva», com a presença do festejado e ilustre embaixador, Alberto da
Costa e Silva, filho do poeta; o Conselheiro Prof. Noé Mendes insiste na
elaboração do calendário de eventos e na contribuição que cada membro do
Conselho pode prestar à elaboração do Plano Cultural do Estado, além de
comunicar sua participação em congresso acontecido no Espírito Santo (Vitória),
promovido por procuradores e membros do Serviço Jurídico das Instituições do
Ensino Superior (COSJUB), destacando um concerto de violino e piano por um
casal de polacos e o discurso da Dra. Shirley de Sousa Drummond Louro,
especialmente pela recitação que fez do poema «Estatuto do Homem», de Thiago de
Mello, considerado por Tristão de Athayde, não só um monumento de beleza
poética mas igualmente de afirmação da dignidade do homem (sessão de
14.10.82); durante a reunião de 28 de
outubro de 1982 foi distribuído o trabalho Diretrizes para a
Operacionalização da Política Cultural do MEC, a fim de que subsidiasse o
Plano Cultural. Foi quando eu, como Suplente convocado, «examinando
rapidamente o referido trabalho”, disse a respeito do item B: “Interação das diferentes culturas”, que «não existe
reciprocidade de relações culturais entre o Piauí e outros Estados, observando
que recebemos escritores e conferencistas, a maioria com ajuda da Secretaria da
Cultura, e nós piauienses não nos propomos a obter igual tratamento, deixando
de levar pessoalmente os nossos escritores, nossa literatura, artes e nossas
pesquisas aos outros centros, com apoio das instituições culturais oficiais,
tendo o Conselho de Cultura como um promotor e divulgador do nosso trabalho
fora do Estado.» Em seguida, falei sobre meu trabalho de editor da revista Cirandinha,
frisando não ter recebido nenhuma ajuda oficial e que, mesmo assim, realizei um
concurso de poesias, de âmbito nacional, com a participação de mais de 300
concorrentes, a cujos vencedores entregaria os prêmios brevemente. O
Prof. Benjamin justificou suas faltas anteriores, porque esteve presente no
Encontro de Vitória, acima mencionado, e noutro em Salvador, Bahia.
Aproveitando observação que fiz, propõe a abertura de um «stand» no Aeroporto
para colocação de livros editados pelo Projeto Petrônio Portela e tentará fazer
o mesmo junto às livrarias locais.
Como
falei acima, o Plano Editorial do Estado agora passou a ter outro nome e ser
regido por outra lei. Era o Projeto Petrônio Portela (Decreto 5.678, de 6.1,84,
baixado pelo então Governador Hugo Napoleão). Embora continuasse sem a
participação do Conselho Estadual de Cultura, pois era dirigido pela Fundação
Cultural do Piauí, o Projeto Petrônio Portela acolheu, muitas vezes, em seu
Conselho Editorial nomes de Conselheiros do CEC. O caso mais digno de nota é o
do Prof. Benjamin do Rego Monteiro Neto, ao tempo em que era Presidente do CEC,
porque às vezes polêmico em seus pareceres. Ele foi chamado várias vezes a
participar e participou da seleção de algumas obras submetidas ao Projeto para
edição. Era assim que, não obstante não participar diretamente, o Conselho Estadual
de Cultura jamais deixou de tomar conhecimento e de opinar sobre o Projeto e as
obras publicadas.
Com essa
mostra, penso ter firmado minha classificação, muito mais pelo otimismo da
época que pela elite que compunha o colegiado do CEC. É verdade que o que
direcionava o Conselho era a pontualidade, severidade e firmeza do Prof.
Benjamin do Rego Monteiro Neto, o Presidente do período, na condução das
sessões e no leque de ações desenvolvidas a partir dali.
Porque
acredito que todos fazem história, não somente as personalidades e os líderes,
coerentemente registro o serviço das duas secretárias: a que mais tempo serviu,
funcionária da Fundação Cultural cedida ao CEC, Leila Maria de Almeida Veloso;
e, durante pouco tempo, em 1984, a
poetisa e professora Gildes Silveira, que também secretariou o Colegiado.
3. DEMOCRÁTICA
A
terceira parte e atual eu chamaria de democrática,
ou popular, mas no melhor sentido desta palavra, fazendo contraste com o solene
da fase anterior. Há outra razão. É que, não obstante, no primeiro regimento
interno do Conselho já constar a representação de várias áreas da cultura
através dos seus membros, ou seja, o princípio da diversificação do saber e
especialidade de cada Conselheiro, somente, com o advento da Constituição
Estadual de 5 de outubro de l989, as reivindicações populares tiveram vez. Dada
a importância dessa lei maior e a rapidez com que todas as leis são reformadas
hoje, não resisto ao desejo de transcrever a parte primeira do Cap. IV, da
referida Constituição Estadual:
«Art. 229 - O Estado
garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes
da cultura nacional e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais estaduais.
Parágrafo 1º - As
manifestações das culturas populares terão proteção especial do Estado e dos
Municípios.
Parágrafo 2º
- O Poder Público, com a
colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural, por
meio de inventários, registros, vigilância, tombamento, desapropriação e de
outras formas de acautelamento e preservação.
Art. 230 - Os colegiados normativos e consultivos de
caráter permanente que participem das decisões do Poder Público Estadual sobre
cultura terão seus membros indicados da seguinte forma: a) um terço pelo Poder
Executivo; b) um terço pelo Poder Legislativo; c) um terço pelas entidades
representativas dos produtores culturais.»
Coincidentemente,
o Prof. Paulo Nunes, agora não mais como Secretário de Cultura mas Presidente
do CEC, foi quem deu posse aos novos membros do Conselho nomeado após as normas
da Carta Constitucional do Piauí acima transcrita. O Colegiado passou a ser
formado pelos seguintes Conselheiros, sendo Governador Antônio de Almendra
Freitas Neto, Ato de 26.12.91, posse em 13.1.92: Titulares: Francisco Aci Gomes
Campelo, Cinéas das Chagas Santos, Diva Maria Freire Figueiredo, Helena Conde
Medeiros, José Eduardo Pereira Filho, José Itamar Guimarães Silva, Manoel Paulo
Nunes, Maria Clarice de Souza Gomes e Maria Gomes Figueiredo dos Reis.
Suplentes (posse em 2.7.92): Amaury Teixeira Nunes, Valderi Ulisses Duarte e
Laurenice França de Noronha Pessoa. Posteriormente, com a interrupção dos
mandatos dos Conselheiros Cinéas das Chagas Santos e Helena Conde Medeiros, as
vagas foram preenchidas (Atos de 14.1.93 e 10.3.93) por Cristina Maria Miranda
de Sousa Pinheiro Correia e Pedro Ferrer Mendes de Freitas, empossados,
respectivamente em 28.1.93 e 18.3.93.
Hoje,
o Conselho Estadual de Cultura contém representação das principais entidades
culturais organizadas e atuantes, e isto reflete nas indicações do próprio
Governador do Estado e nas eleições do Poder Legislativo. Vejamos a composição
do Conselho atual, cujos mandatos se extinguem
a 29.6.99.
Por
indicação do Governador: Pedro Ferrer Mendes de
Freitas, Cristina Maria Miranda de Sousa e Francisco Pereira da Silva
Filho; por eleição pela Assembléia Legislativa: Francisco Miguel de Moura, José
Itamar Guimarães Silva e José Mauro Barbosa Ribeiro; por indicação das
Entidades Culturais: Manoel Paulo Nunes
(Academia Piauiense de Letras); Wellington da Silva Sampaio (Sindicato dos
Artistas de Teatro) e Diva Maria Freire Figueiredo (pelo Instituto dos
Arquitetos do Brasil - IAB). Suplentes:
Amaury Teixeira Nunes, Ana Clélia Barradas Correia e Francisca Maria Soares Mendes (Ato de 14.4.97
e posse em 24.4.97).
É
difícil escrever a história atual, simplesmente porque o presente não pode ser
julgado pelo presente. Mas, com uma olhada mais ou menos superficial sobre o
que aconteceu nos últimos tempos no Conselho Estadual de Cultura, podemos dizer
que a sua continuidade é necessária. É fato que, com a nova política nacional
de globalização, as formas de fazer cultura estão mudando, pois mudanças na
economia atingem a todos indistintamente. Aos poucos foram sendo esvaziadas as
Secretarias de Cultura e Fundações Culturais. Aqui, também. As transformações
acontecidas especialmente no atual Governo, culminando com a troca do nome da Fundação Cultural do Piauí para
Fundação Estadual de Cultura e do Desporto do Piauí, com privilégio para o
esporte e evidente perda para os outros setores, foram motivos de crítica
sincera e fundada por parte do atual Presidente, apoiado no pensamento da
maioria dos Conselheiros - tudo no sentido de evitar um recesso nas atividades
culturais.
No
mandato anterior, contando com a dinâmica liderança e atuação do Conselheiro
Cinéas Santos e a sempre disponível
disposição do Presidente, Prof. Paulo Nunes,
o CEC participou de programas e cursos pelos diversos e mais importantes
municípios do Estado, comandados pela Fundação Cultural, levando artes, teatro
e literatura, sob forma bem didática e informativa.
No
mandato atual, como no anterior, o CEC esteve bem entrosado com as ações que se
referem à defesa do Patrimônio, através da Conselheira Diva Maria Freire
Figueiredo, representante do IPHAN, no Piauí, e de conselheiros outros como
Pedro Ferrer Mendes de Freitas, sempre vigilante com relação a Oeiras. Os
Conselheiros de per si e o Conselho como um todo sempre estiveram de olhos
abertos para o setor, basta abrir os
livros de atas desses dois períodos.
Exemplo recente: mal chegou ao Conselho a notícia de que o centro
histórico de Oeiras, cidade que é «Monumento Nacional», iria ser asfaltado por
constituir-se seu asfaltamento em «fator
determinante de progresso», segundo seus defensores, promoveu-se uma reunião (sessão de 26 de
março de 1998), presidida pelo Prof.
Paulo Nunes, com a presença dos Conselheiros
Pedro Ferrer Mendes de Freitas, Francisco Miguel de Moura, Diva Maria Freire
Figueiredo, Ana Cléia Barradas Coreia, Francisca Maria Soares Mendes, presentes
o Secretário de Segurança Pública, Sr. Juarez Piauyense de Freitas Tapety, representante da Prefeitura de
Oeiras; Susana Lago Mello Soares, da Procuradoria da União do Piauí; Maria Carmen Cavalcanti de Almeida, da
Curadoria do Meio Ambiente; Demócrito Chagas Barreto, representante do
Presidente da FUNDEC; Rogério Newton de Carvalho, da Defensoria Pública do
Estado do Piauí; Moisés Reis, Deputado
Estadual; Mauro Tapety, Benedito Rubens e a jornalista Tânia Martins, do «Meio
Norte», para tratar exclusivamente do assunto. Destaquemos trechos do ofício nº
19/98 - CEC, de 13 de abril de 1998, ao Exmo. Sr. José Nogueira Tapety Neto,
Prefeito Municipal de Oeiras, em que o Conselho Estadual de Cultura,
manifestando a opinião de seus membros presentes àquela reunião e a
concordância de personalidades da comunidade cultural piauiense também ali
presentes, solicita sua cooperação na defesa do nosso patrimônio histórico («parte das mais significativas da memória
dos piauienses»). E no mesmo expediente comunica que «o centro histórico de Oeiras deve ser considerado, tendo em vista a
sua preservação como um conjunto urbano, tendo como base de referência deste
conjunto o perímetro proposto pelo projeto de Inventário e Estudo de Proteção,
desenvolvido com o consórcio do IPHAN, FUNDEC e MINC. Este perímetro foi
definido a partir da área urbana já delineada em mapa antigo da cidade, de
1808. (...) A área de valor histórico existente em Oeiras a ser preservada deve
ser a mesma contida no perímetro de tombamento proposto no projeto desenvolvido
pela FUNDEC e IPHAN. Isto não significa contudo que as autoridades, nas três
esferas administrativas e principalmente a municipal, que gerencia o dia a dia
da cidade e acompanha de perto a sua evolução, devam abandonar o centro
histórico de Oeiras. Ao contrário, ele necessita de atenção especial dos
administradores locais, interessados em promover intervenções que lhe
preservem, resgatem e valorizem as características originais e ao mesmo tempo
promovam a melhoria da qualidade de vida para a população.»
Com
relação ao financiamento da cultura, já então sem amparo orçamental, não
possuíamos nenhuma lei de incentivos fiscais e o Projeto Petrônio Portela
estava parado há anos. Que fazer? O pleito do Conselho Estadual de Cultura, que
não pode ser subavaliado, porque uma de suas realizações mais preciosas do
período, é a Lei de Incentivos Fiscais (Lei nº
4.997, de 30.12.97, regulamentada pelo Dec. nº 9.878, de 5.3.98), antes,
porém, amplamente debatida com as entidades culturais mais representativas da
cultura piauiense. Acredita-se que tal lei entrará brevemente em execução, para
gáudio dos produtores culturais necessitados.
Ponto alto de nossas reuniões foi, sem dúvida, a visita que
nos fez o embaixador Alberto da Costa e Silva e sua conferência proferida no
plenário do Conselho, em 1997, abordando vários assuntos do maior interesse,
mas centralizada principalmente no problema da conservação do patrimônio
histórico da humanidade, no contexto de vários países e de várias culturas.
Foram convidadas e compareceram autoridades e pessoas representativas da
sociedade teresinense, não se tratando absolutamente de uma sessão fechada,
apenas para os Conselheiros.
Finalmente,
a revista Presença foi reativada no primeiro semestre de 1993, quando
saiu o nº 20 e, daí por diante, saem mais os nºs. 21, 22, 23, 24 e 25, este
último no segundo semestre de 1997. Com
as dificuldades financeiras por que vem passando o Estado, o Prof. Paulo Nunes,
um inveterado amante das boas letras e da cultura, batalhou incansavelmente
para conseguir os fundos dessas edições, muitas vezes recorrendo a outras
entidades públicas e mesmo particulares.
A
par de seu trabalho contínuo como crítico talentoso, culto e honesto,
orientando a leitura dos mais novos e comentando nos jornais os bons livros
editados no Brasil e noutros países, especialmente em Portugal, o Prof. Paulo
Nunes vem fazendo um ótimo trabalho junto ao Conselho Estadual de Cultura.
Durante suas duas gestões tem ficado atento a tudo que acontece de bom e mau na
comunidade piauiense, seja uma biblioteca que se abre ou se fecha, seja um
prédio público que esteja em más condições e possa prejudicar o bem cultural
público de alguma forma, seja convidando entidades e associações científicas,
artísticas e literárias para debater seus problemas, seja na sentinela com
relação ao meio ambiente. É um trabalho muitas vezes silencioso mas gigantescos
nos seus efeitos. Por onde quer que vá leva o Conselho consigo. Para comprovar
minha afirmação e arrematar esse arremedo de história, transcrevo seu último
artigo, jornal O Dia, de 31 de maio de 1998, com o título de Fórum de Conselhos de Cultura:
«Ao retornar de uma viagem a Rosário, no
noroeste da Argentina, província de Santa Fé, em visita a familiares que ali
residem, detive-me durante alguns dias em Porto Alegre, também em visita a
parentes.
Rosário é uma cidade
de feição européia, com 1.300.000 habitantes e ascendência italiana,
de forma preponderante. Possui cinco
universidades, uma das quais a Nacional, com 64.000 estudantes, uma vida
cultural intensa, que se faz em torno de um grande teatro, «El Circulo»,
belíssima construção em estilo neoclássico, onde assistimos a uma representação
da Filarmônica de Buenos Aires. Conta ainda com um museu de belas-artes e um
museu histórico através do qual se reconstitui a história argentina, boas
livrarias, com grandes estoques, no estilo da antiga Livraria Freitas Bastos,
no Rio das décadas de 40 e 70, rua de pedestres, como a famosa Córdoba, com
mesas e cadeiras nas calçadas como se vê em Paris, e bons restaurantes, onde se
degusta o bom vinho de Mendoza, acompanhando a melhor carne do mundo.
Em Porto Alegre,
participei de uma reunião do Conselho Estadual de Cultura, que é atualmente
presidido, com muita competência, pelo editor Roque Jacoby, uma figura
simpática e acolhedora de quem recebi o amável convite para almoçar e, em
seguida, tomar parte na sessão do Conselho. Ali falei durante cerca de vinte
minutos, sobre o programa de atividades desenvolvidas em nosso Conselho,
especialmente no que diz respeito à preservação do nosso patrimônio cultural e
à divulgação de nossa cultura, através da revista Presença, hoje considerada,
no gênero, um dos mais significativos órgãos de divulgação cultural do país.
Lembrei o esforço
memorável que os Conselhos de Cultura vêm desenvolvendo, não obstante a falta
de recursos e a má vontade dos governos em relação à cultura, por eles
considerada mera superfetação, uma espécie de beletrismo de mau gosto que há
pouco tempo conceituamos como infra-literatura, muito pior do que a
subliteratura, pois se encontra abaixo desta, em que são férteis as academias
que diariamente se fundam entre nós, menos para contribuir para o
desenvolvimento da cultura do que para alimentar as vaidadezinhas paroquiais,
num esforço indecente para o cultivo das coisas inúteis. Destaquei a função da
cultura como processo de vida, que se incorpora à nossa vivência e à nossa
sofrência diária e só ela é capaz de elevar o homem à sua grandeza e à sua
maior dignidade. Retomei, mais uma vez, a irretocável conceituação do ensaísta inglês John Cowper
Poys, em seu livro Significação da
Cultura, para quem cultura é aquilo
que resta em nós quando esquecemos tudo o que aprendemos.
Finalmente,
solidarizei-me com o próximo Fórum Nacional de Conselhos de Cultura, que será
promovido por aquele Conselho de 29 de julho a 1º de agosto do corrente ano e
para o qual estão sendo convidados todos os Conselhos do país. Esta idéia
coincide com antiga proposta por nós insistentemente defendida junto aos
ministros da Cultura com os quais tem coincidido minha gestão na presidência de
nosso Conselho, como forma de mantê-los integrados na função de órgãos promotores
da cultura no país. Disse ainda que
aquele Fórum seria como que o ponto de partida para a realização de novos
encontros similares em todo o país, através dos quais proceder-se-ia à perfeita
integração entre essas entidades culturais e se redefiniria uma política
efetiva de defesa da cultura brasileira, em suas diferentes formas de
expressão.
Foi assim uma
proveitosa reunião e uma oportunidade das melhores para repensar-se os
problemas da cultura em nosso país, sobre os quais também se debruçam os ilustres
integrantes daquele colegiado.»
Paulo
Nunes é assim, o escritor e o homem público. Tem sido confundido algumas vezes,
por algumas pessoas, com o próprio Conselho, como se fosse o criador do CEC.
Poderia ter sido. Não obstante, é um dos maiores benfeitores da nossa cultura.
Sem o Prof. Paulo Nunes, é possível que o CEC, hoje, existisse apenas no nome,
na lembrança. Com ele, o Conselho Estadual de Cultura tornou-se o que é:
crescido e presente, um dos melhores e mais atuantes do país. Nosso porta-voz,
a revista «Presença», é elogiada onde quer que chegue. E tem chegado
longe.
Por
último, registro meus agradecimentos ao trabalho da funcionária Ana Maria dos
Santos, dedicada e gentil secretária do Conselho, desde os tempos do Prof.
Benjamin do Rego Monteiro Neto, pois começou em 1987, até hoje. Sem seu trabalho valioso, teria sido
impossível o levantamento destes dados e portanto a escritura desta Pequena
História de um Grande Conselho – Parte I.
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