Francisco Miguel de Moura*
Sérgio Campos
Preliminares
Não temos a intenção
de ensinar a fazer os versos. Quero, apenas, mostrar os principais elementos
que dão forma às palavras e ao discurso poético, sem naturalmente esgotar o
assunto. E como o assunto é poesia, assim também retiramos os exemplos, sempre
que possíveis, de poemas e de seus autores.
A
poesia é a primeira e principal forma (ou fôrma) literária, todos os tratadistas
sobre a matéria concordam. Assim também há uma concordância majoritária dos que
escrevem críticas ou são poetas, tal como assinalou José Bergua, na introdução
da antologia “Las mil Mejores Poesias de la Lengua Castellana”: “Todas las cosas de este mundo – decia el maestro
Navarro Ledesma – pueden ser objeto de la Literatura”. E mais: Se estendemos
esse pensamento, poderia dizer que todas as coisas existentes ou ainda não criadas
podem ser motivo para a poesia, pois que os sentimentos e a imaginação não têm
limite.
Antigamente,
todos os grandes livros da humanidade (da Bíblia aos Vedas) foram escritos em poesia,
sua sobrevivência está ainda na linguagem bíblica, composta por versículos (pequenos
versos). Isto se explica porque a escrita naquele tempo era difícil, senão impossível.
Vem daí serem as obras as criadas preferencialmente em versos acompanhados ou não
de música. Salvo os poetas populares, alguns analfabetos e improvisadores, quem
se mete a fazer literatura, especialmente poesia, e não sabe um pouco de gramática,
não sei como se aterá com a língua. Por este motivo, alinho aqui alguns elementos
gramaticais.
Composta
em versos, ao contrário da prosa, a poesia não vai em linha reta até o fim. Verso
é quando a linha muda, vai para a seguinte, começando do lado esquerdo. Verso é
o outro lado. Figuradamente é também a outra maneira de expressão do homem e do
mundo. A poesia faz bem à alma, ao espírito. Porque me têm perguntado constantemente
o seu significado e para que serve, pretendo explicar como segue.
Do
ponto de vista prático, a poesia não serve pra nada, daí por que os poetas são
tidos como pessoas anormais. Eles sentem acima do normal, preocupam-se com o
que o homem comum não se preocupa. Este pode até admirar a natureza, um jardim
florido, artes como a dança e a música, gostar do céu, do sol, da lua e das estrelas,
sem saber o que são e para que servem. São atitudes poéticas.. Mas o homem comum
pára por aí.
Nós,
os poetas, vamos à língua, como expressar melhor esses e outros sentimentos mais
fundos, como transmiti-los no seu mais alto grau e com o menor número de palavras,
dentro da língua padrão e até extrapolando-a gramaticalmente pela chamada licença poética. Dessa forma, o poeta contribui
para a renovação da linguagem e para uma melhor comunicação emotiva, que pode
parecer ilógica e não objetiva, tanto quanto mais se eleva em emoção e sentimento.
No fundo, consagra aquele adágio de que “o
coração tem razões que a própria razão desconhece”.
“Ah, mas poesia é difícil de ser entendida!”
- alguns arriscarão a objetar-nos e
acrecentam que se fosse como a música popular, ainda bem, até que poderiam compreender
e gostar.
Sim,
certamente, na poesia da música popular (falo nas letras apenas) encontram-se algumas
imagens, mas ficam por conta da objetividade da prosa ou da música, que subverte
a palavra, fazendo soá-las como o compositor deseja, apenas enquadrar na voz e nas
notas 7 (sete) notas musicais. Se essas letras são feitas por um Caetano Veloso,
Chico Buarque, Torquato Neto, para citar alguns, tudo bem. Mas não se pense que
todas as composições da música popular são necessariamente poesia. A poesia está
ali por exceção. Outra coisa: por melhores que sejam os versos de um compositor,
quando passam para a música já não são mais poesia, são música. E se se baseiam
em poema de poeta-escritor, esses versos são adaptados ao ritmo da música. O
ritmo, a sonoridade, o acento tônico, as imagens do escritor são diferentes e muito
mais bem criadas e recriadas.
Numa
classificação geral, a poesia pode ser épica, lírica ou satírica, pelo que assim compreendim os antigos.
Mas na verdade, modernamente, só existem
dois gêneros literários existem: prosa e poesia. Dentro da classificação acima, aparecem, atualmente com freqüência,
as formas da lírica e seus subgrupos
poéticos, em forma fixa ou em versos livres: soneto, trova, haicai, dístico, terceto, quarteto, sextilha, oitava, décima,
ode, hino, canção, elegia, madrigal, acalanto, epitalâmio, epigrama, epicdéio e epitáfio,
entre outros de menor frequência, como nênia, vilancete,
vilanela, sextina, rondó, rondel, pantum e acróstico.
As
formas épicas e satíricas, dos antigos, modernamente estão banidas da poesia. A épica
se trasmutou em prosa, no romance de várias naturezas, nos contos,
crônicas
e memoriais.
A satírica, hoje está confundida com a lírica
em poemas e poemetos que são apenas humorísticos ou depreciativos como acontece
com as paródias a sonetos e quadras
(quarteto) ou epigramas que tenham um sentido crítico.
A
lírica moderna se apresenta em espécies como as já citadas, que vão do soneto, à
trova, a sextilha, esta especialmente na categoria de poesia popular ou de cordel,
entre outras formas. Deixamos da falar na poesia concreta, que foi realmente
uma tentava de imitação das artes plásticas e no que já havia na forma de ideogramas,
desde Castro Alves e Da Costa e Silva como no poema, “O Baile na Flor”, do
primeiro, e “Hino ao Sol”, do segundo
poeta. É um tipo de poesia que não deu certo.
Se
o poema é livre na estrofação, nas rimas e na métrica chama-se moderno. Mas os poetas clássicos só admitem, como
prova de que o candidato a poeta já o é, se for capaz de fazer um soneto
razoavelmente bom. No entanto, a poesia não se detém apenas na forma: sem conteúdo,
simbologia e imagens sobre imagens, tanto gramaticais quanto lógicas, não haverá
poesia. Todo poema, mesmo o moderno,
possui sua chave de ouro, isto é, termina brilhantemente bem, como fizeram os grandes
poetas Camões, Fernando Pessoa, Carlos
Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles e tantos
outros que não caberiam neste ligeiro escrito.
Poesia é a
linguagem da emoção e do sentimento, feita para ser, sobretudo, lida em silêncio.
Quando o poema é recitado em voz alta, tranforma-se em meio-teatro e se for
cantado é meio-música. Além do livro, revista e jornal, outras formas de
divulgação da poesia integral são o cartaz (out-door), os painéis, as exposições,
inclusive através de devedês, televisão e internete.
Entre
todos os gêneros poéticos citados, vamos nos deter no soneto, na trova
e no haicai;
só depois, um pouquinho na oitava
e na décima
(atingindo, assim os poetas populares) e, naturalmente, em alguns poemas
modernos, assim chamados porque tem a medida (metro) livre, embora muito
mais fosse necessário. Mas, dado exiguidade de tempo e de pesquisa para este ensaio,
ficamos apenas nos mais evidentes, os que serão, no momento, definidos e exemplificados.
Palavra/palavras
Os poemas são escritos com palavras
em versos,
salvo os chamados poemas em prosa e os que adotaram e adotam a
poesia concreta, que não entram em nosso estudo.
“Lutar com a palavra
é a luta mais vã,
entanto, lutamos,
mal rompe a manhã...”
(CarlosDrumand
de Andrade)
A palavra é a arma do poeta, contra o
tempo, contra o vento, contra a morte ou até mesmo contra a vida que não seja
espiritual. E as palavras são feitas com letras e sons. Modernamente, o que
não é posto em letra não chega a ser poesia: é apenas um repente passageiro como
um planeta obscuro. Pela versão do
poeta Anderson Braga Horta, as palavras, “Sem
que seja preciso em seus altares / fazer um sacrifício ou uma oração, / dão-nos
de graça os deuses, quando querem, a centelha da inspiração”.
Não me perguntem
sobre a inspiração que vem com a palavra. Agora vamos para a
aspiração. É bom anotar, de imediato, que a nossa língua (o português
do Brasil) é muito rica em palavras e sons. O “Dicionário Aurélio da Lingua
Portuguesa”, o melhor entre todos, registra cerca de 3.000.000 de
palavras e 5.000.000 de ocorrências, que vêm por conta das derivações das palavras,
dos acentos, da separação das sílabas da indicação da origem da palavra, se do grego,
latim ou de outras línguas, etc. Este livro deve ser inseparável de qualquer escritor,
não somente dos poetas. Sobre a riqueza e beleza do nosso idioma é indispensável
ler o soneto, “Língua Portuguesa, em
versos decassílabos, de Olavo Bilac:
“Última flor
do Lácio, inculta e bela,
Eis, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo,
que na ganga impura
A bruta mina
entre cascalhos vela...
Amo-te assim,
desconhecida e obscura,
Tuba de
alto clangor, lira singela,
Que tens o
trom e o silvo da procela,
E o arrolo
da saudade e da ternura!
Amo o teu vício agreste e o teu aroma
De virgens
selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude
e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões
chorou, no exílio amargo,
O gênio
sem ventura e o amor sem brilho!”
Só vamos sentir e nos dar conta desta joia
literária, quando o analisarmos, mostrando as rimas, as repetições, as metáforas, o metro e a cadêcia.
As
palavras são compostas por sons ou sílabas. Os sons, também chamados fonemas pelos gramáticos, só valem quando
escritos, tanto que, por telefone, muitos deles ficam confusos, por isto usamos
o
meia-duzia, de quando queremos nomear 6 e não 3.
Os
sons:
Em nossa língua há uma variedade enorme de sons: as vogais naturais que
são as 5 vogais orais (que podem ser tônicas ou atonas) e as 5 vogais nasais.
Estas últimas são assim chamadas poque vêm com o til na cabeça, ou as que vêm precedidas e/ou seguidas de uma falsa consoante,
seja m
ou seja n. E ainda faltam ser enumeradas
as 2 vogais com acento fechado: ê e ô. O Professor Napoleão Mendes
de Alemida, em sua notável “Gramática Metódica
da Lígua Portuguesa”, cataloga 17
fonemas ou sons vocais na língua portuguesa falada no Brasil. Não pretendemos descrevê-los
todos. Portanto, esta parte puramente gramatical é por nós remetida à leitura e
estudo na citada Gramática (Cap. III – Vogais).
Mas
há outros sons constituídos por grupos de vogais juntas na mesma sílaba, ou em outra sílaba vizinha,
Esses grupos vocálicos são chamados ditongos, tritongos e hiatos.
Pelo
visto, nossa língua é muito rica de vogais, o que não acontece com o inglês
ou o alemão, por exemplo, que são por nós
apelidadas de línguas consonantais.
Com
isto, não queremos dizer que temos carência de consoantes, nada disto. Nosso
alfabeto é composta de 23 consoantes (se não contarmos o K (cá) e o W (v ou u), necessários apenas em palavras
de línguas estrangeiras).
Segundo Napoleão Mendes de Almeida,
“consoantes são as letras que só podem soar com o auxílio
de uma vogal”, ou seja, elas são o contrário das vogais. Creio não ser necessário citar aqui todas as letras consoantes
do nosso alfabeto, isto seria supor que os nossos leitores são ignorantes. Citaremos
a variedade por diferenças ou semelhanças conforme seja o lugar que ocupa no vocábulo.
Evoquemos aqui alguns exemplos, visto ser impossível e impraticável mostrar toda
a Fonética de nossa língua. Veremos muito mais na parte da escanção dos versos no poema.
A
letra C, em certas palvras e
situações, é sibilante e tem som de Ç (cedilhado) ou SS, visto que o S simples
entre vogais soa Z. Mas há certos casos em que o C soa como
Q. Exemplos: casa, cassa, caça.
A letra G ( o Guê no alfabeto do caboclo nordestina) aparece em palavras como gato,
agora, gume, ou seja, seguido das vogais a, o, u. Mas aparece como Gê (ou J), em palavras como gelo,
ginásio.
A letra H não tem som, exceto nos grupos consonantais Ch, Lh e Nh. Exemplos: chave, malha, manha.
As letras M e N são apelidadas de falsas consoantes,
visto que em alguns momentos funcionam
como Mê, Nê, exemplos: mesa, nativo, mas noutros são apenas nasalizadoras das vogais anteriores
ou posteriores. São importantes para nossa língua como diferenciação das outros
que não possuem o sol nasal. Além da nasalização pelas letras consoantes M e N, há também aquelas que acontecem pela a indicação do til (~) sobre as vogais a e
o.
Sei que isto é natural para quem usa a língua escrito, mas nunca é demais esclarecer
o fato teoricamente. Em suma, em português falado conseguimos observar ao todo 19
consonâncis (cf. Gramática Mética, de
Napoleão Mendes de Almeida).
Qanto
às consoantes como p de adaptar
(separação das sílabas a-dap-tar) e c em cac-to (separação das sílabas) e muitas outras que aparecem em
inúmeras palavras não são mudas, todas soam e fazem parte da vogal que vem antes,
na hora de separar as sílabas. Nenhum consoante da língua portuguesa é muda, exceto
o H, acima já mencionado.
***
Devemos
passar, daqui a pouco, à etapa de como ler e entender, para que a estrutura dos
versos no poema seja entendida: a versificação ou escanção, como dizem os
dicionários da arte poética. Temos ainda que distinguir o que são sílabas, ditongos, tritongos, hiatos, vocábulos e versos.
Sílaba, segundo os gramáticos mais autorizados,
citamos aqui Napoleão Mendes de Alemeida, “é
o som ou a reunião de sons que se pronunciam de uma só emissão de voz, com base em uma
ou mais vogais”. E ele acrescenta:
“Da reunião da sílabas obtêm-se os vocábulos ou palavras.. E
as palavras
podem apresentar-se em menor ou maior quantidade de sons, conforme tenham uma, duas,
três ou várias sílabas. Neste sentido elas são chamadas monossílabos, dissílabos, trissílabos
ou polissílabos, respectivamente. Exemplos: lá,
lá-pis, ca-ne-ta, tin-tu-ra-ri-a.
Vocábulos são as palavras que se usam
no discurso. Na explicação de Napoleão Mendes de Almeida, alguns vocábulos
vão aqui indicados, com a separação das sílabas: “au-tor, ca-iu, in-tui-to, ní-ve-o,
tê-nu-e”, onde há ditongos crescentes e decrescentes,
como au,
iu, ui, eo, eu.
Ditongos
são duas vogais numa sílaba só e esses encontros se tornam em vogais crescentes
ou decrescentes.
No ditogo, a vogal crescente a que é mais forte e mantém a alma da sílaba: exemplo
nas plavras acima: au-tor, ca-iu, in-tui-to; decrescentes
são as vogais indicadas no ditongo das palavras acima: ni-veo,
tê-nue.
Nestes ditongos, outrora se separavam as sílalabas, formando assim hiatos.
E podem ser orais ou nasais.
Tritongos
são três vogais numa só sílaba. Exemplos: Pa-ra-guai, quei-xu-mes,
desse modo aparecendo o grupo gu e qu, conforme nosso exemplo.
Hiatos são encontros de duas vogais na palavra,
que se pronunciam distintamente, em duas emissões de voz, duas sílabas diferentes:
sa-ú-de,
gra-ú-do,
tri-un-fo,
per-do-e, ma-go-e, com-ti-nu-e, formando duas sílabas. Exemplos: Nos ditongos
decrescentes. Eles são o encontro de duas vogais em um só vocábulo (palavra), formando
sílabas diferentes. Em suma, esclarecemos que hiato é o contrário de ditongo,
para nossa classificação, não importando as divergências: estas vão ser apontadas
no capítulo da contagem de sílabas no verso.
Versos são as linhas do poema. Normalmente os poemas
maiores são composto por estrofes. Por isto, não há poema de um único verso, assim
como não existem flores de uma só pétala, exceto o lírio do Nilo, ficando mais
uma vez provado que as exceções não fazem a regra. O menor poema tem 2 (dois)
versos, mas a menor estrofe do poema pode ser apenas apresentada por (1) um único
verso. Quem pretende, escrevendo apenas uma linha, declarar que fez um poema,
está equivocado. Mesmo que o verso contenha algo que signifique em forma simbólica
de linguagem, não chega a ser um poema: É apenas um pensamento, pode ser o começo
de uma página em prosa ou uma frase filosófica, nada mais.
Estrofes, polissemia
Estrofes são agupamentos
de versos no poema, os quais podem conter agrupamento de dois ou mais versos.
Damos exemplo aqui de um poema em duetos, exemplificando:
“A canção estende as asas
E voa pela janela”
(Anderson Braga Horta)
Vocabulário é o
conjunto de palavras. O sentido delas está nos bons dicionários.
Entretanto,
na poesia, o poeta pode criar e recriar palavras consentâneas com o texto (poema),
de tal maneira que o leitor o entenda. Damos dois exemplos, colhidos em meu livro
“Poesia
(in) Completa”, 2016, Ed. da Academia Piauiense de Letras, cujo nome já
contém em si a dicotomia completa e incompleta, pois dei-lhe este nome por
tratar-se de uma antologia de minha obra completa, sendo ao mesmo tempo incompleta,
singnificando que se trata de uma antologia de poemas escolhidos entre os melhores
de cada livro já publicados, incluindo os
inéditos.
No
primeiro exemplo destas licenças poéticas o poeta se
apropria ou uma palavra substantiva, tornando-a advébio e acrescentando sufixo mente;
já neste segundo exemplo, o poeta reparte a palavra ofendida
para obter outros sentidos, modelos de polissemias, dois ou mais significados
em palavra expressão: Vejamos os
exemplos:
“Uma alegria, uma tristeza,
uma distância
australopitecamente
santa.”
(Francisco Miguel de Moura)
Agora, passemos para o segundo exemplo,que
também caracterísca de uma polissemia, da mesma obra e autor
acima mencionados:
“Oh fe(n)dida ofídia!
colhe nos meus olhos
uma orquídea”.
Composição dos vocábulos
Vocábulos sãos as
palavras da língua; elas podem apresentar-se de forma simples ou compostas por sufixos e/ou prefixos, conforme sua apresentação, cujos fenômenos são necessários
para entendermos os seus significados.
Raiz - é a palavra
comum, dita também radical. Exmplos nas próprias
palavras sufixo e prefixo: fix. Encontram-se nos
bons dicionários da língua, procurando pela palavra no singular e no masculino.
Prefixos e sufixos são encontrados nas
boas gramáticas, com a definição do que cada um acrescenta à raiz ou à palavra.
Portanto não há necessidade de relacioná-los aqui; seria muito oneroso para o nosso trabalho. Dispensa-se
o conhecimento deles, tendo uma boa gramática ao lado.
Sufixos: as modificações da palavra, quanto a seu significado
gramatical, ou seja singular/plural, aumentativo/diminutivo, verbal (quando se
liagam as desinências verbais que são muitas: modo, tempo, número e pessoa).
Prefixos: – A própria palavra prefixo
explica onde ela é classificada, pois é antecedida por pre, que significa antes,
diferente do sufixo, que é um acrescrécimos
ou mudança no final da palavra, como foi dito acima, observando-se que pode
haver mais de um sufixo em uma palavra.
Como
os vocábulos são compostos por sons e sílabas, as palavras ou vocábulos
classificam-se segundo o número de sílabas que contêm. São: monossílabos, dissílabos,
trissílabos e polissílabos, conforme tenha uma,
duas, três ou mais sílabas. Como em nossa língua, os sons na palavra podem ser átonos
ou tônicos,
relativamente a esta classificação elas serão: oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas.
Exemplos: café – oxítona, porque a sílaba mais forte é a última; cabelo
– paroxítona, porque a acentuação recai na pernúltima sílaba; cátedra
- é proparoxítona, porque o acento tônico recai na antepenúltipla
sílaba.
Para
saber esta regra é preciso prestar bem atenção à pronúncia e não somente ao acento
gráfico. Necessário também é saber que a
maioria dos vocábulos da língua portuguesa é composta por dissílabos paroxítonos.
Mario
Faustino, em um dos seus sábios ensaios sobre
poesia e literatura, disse que o poeta precisa de muitos dicionários e enciclopédias
ao seu redor. Já o poeta H. Dobal, quando
lhe era perguntado o que lia ou o que estava lendo, falava: Prefiro ler as anatologias,
elas são necessárias para sentir-se o que o poeta escreveu de melhor. Citei os
dois poetas, sem as aspas, porque o faço de cor. Já citando textualmente, o
escritor Antônio Carlos Vilaça foi mais direto: “Escrevo com o dicionário, sem
dicionário não posso escrever como escritor.”
***
Passemos, agora, à
parte mais prática do nosso trabalho, para orientação dos que lêem, analisam e
escrevem poemas.
No
poema, a medida dos sons tem outras regras que não a medida gramatical, na prosa. Como
a palavra diz, é pelo som que são contados esse versos. O
exercício desta contagem se chama escansão, que é o ato de escandir um
verso, isto é, decompô-lo em seus elementos métricos (metros, pés, sílabas, tempos,
cadência etc.). Quem já tem prática faz a contagem das sílabas pelos dedos, já
que são decassílabos (isto é, de 10 sílabas poéticas) todos os verso do
soneto normal. Versos mais longos somente quando o poema tem 12 sílabas poéticas:
são os dodecassílabos ou alexandrinos, cuja forma pode ser no soneto alexandrino, ou nas demais espécies
de poemas com versos variados de uma a doze
sílabas. Os que tem mais de doze
sílabas poéticas são chamados de bárbaros e são usados com mais constância
na poesia a partir da fase moderna até a contemporânea. Mas muitas vezes esses versos degeneram em
prosa poética, e não simplesmente serão creditados como poesia.
Estrofes: Os poemas se externam pela reunião
de versos em estrofes. Conforme a quantidade de versos que contenha suas estrofes,
classificam-se desta forma:
Monocóstico – quando a estrofe é de
apenas 1 verso; dístico ou parelha
– para a estrofe de 2 versos; terceto
– para a estrofe de 3 três versos; quarteto ou quadra – para a estrofe
de 4 versos; quintilha – para a estrofe de 5 versos; sextilha – para a estrofe
de 6 versos; septilha – para a estrofe de 7 versos; oitava - para a estrofe de 8 versos; nona
– para a estrofe de 9 versos; décima – para a estrofe de 10 versos;
alexandrinos
para versos de 12 sílabas; irregular
– para as de mais de 12 versos.
Métrica é a medida dos versos, isto é a contagem de sílabas. No soneto
acima transcrito, Olavo Bilac usou o decassílabo nos versos. E, se ainda
não foi dito, quando o poema é um soneto é composto 14 versos, com 2 (duas) estrofes em quartetos e 2 (duas) estrofes
em tercetos, duas quadras e
dois tercetos: o soneto tem 14 versos, se somados os versos de sua composição.
Há versos de uma
sílaba apenas e de várias sílabas conforme indica a “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”,
de Napoleão Mendes de Almeida: são versos sem significação em si próprios.
Regra primeira: Na escansão não se contam as
sílabas
átonas do final de cada verso: Sílabas átonas são o contráriao das
sílabas tônicas, pois estas levam o acento de maior força da plavra. Ex.:
água:
a primeira sílaba acentuada é tônica, a que vem depois, no final, não é, e chama-se
átona. Porém, observe-se que nem toda
sílaba tônica, no final dos versos, é acentuada.
Regra segunda: Para o efeito de rima,
todas as sílabas das palavras finais dos versos são consideradas, para formar
uma rima
perfeita.
A
contagem acontece não simplesmente pelas sílabas gramaticais acima explicadas e
como na prosa. Há algumas exceções como na prosa poética de Alvina Gameiro, José
de Alencar e O. G. Rego de Carvalho. Mas outros escritores que podem entrar
nesta lista são Euclides da Cunha e Eça de Queiroz. E daí teremos o poema em prosa. Exemplos: “Iracema”, de José de Alencar, “Curral de Serras”, de Alvina Gameiro, “Rio
Subterrâneo”, de O. G. Rego de Carvalho, “Os Sertões” de Euclides da Cunha., entre outros.
Como
ainda não foi dito, explico aqui: Há versos de apenas uma sílaba, nos quais, como
exceção, entram as sílabas átonas e as tônicas, sejam orais ou nasais,
que serão exemplificadas na escansão.
Escansão: metro, ritmo,
cadência e rima
Aqui, praticamente,
começa a escansão, isto é a técnica de contagem das sílabas em cada
verso, repetindo que as sílabas do verso são sílabas poéticas e não gramaticas,
não se contando a última sílaba, desde que a vogal não seja tônica, acetuada ou
não, dependendo de lei ortográfica. Em qualquer momento da escansão podem ocorrer vários
fenômenos chamados de metaplasmos, mas também ditos licenças
poéticas, por acréscimo ou supressão.
No
caso de acréscimo chama-se prótese, quando no ínicio da palavra
ou som; se no meio, chama-se epêntese, e no final
da palavra tem o nome de paragoge.
E ainda no deslocamento de fonemas, quando se dá pelo fenômeno chamado metástase
(já bastante em desuso na poesia moderna.
A supressão ganha
outra nomenclatura: aférese, quando no princípio da palavra ou som; síncope,
quando no meio; e apócope, quando no fim fa palvra.
Deixamos
de dar exemplos de tais modificações na palavra ou som, para que não possa
causar confusão no leitor, que, como poeta ou amante da poesia, normalmente encontrará
tais exemplos tanto na escanção, como na construção dos versos que venha ler ou
escrever, até mesmo dentro desta Antologia.
Os leitores verão frequentemente a ocorrerência
de outros fenômenos mais visíveis como: reunião de duas vogais numa só sílaba: por elisão ou sinalefa (a supressão de
uma vogal para ligar-se à outra na contagem da sílaba seguinte): “Os/ poen/tes se/pul/crais/ doex/tre/mo/ de/sen/ga/no” (Alphonsus
de Guimães); por hiato (disjunção de palavras contíguas no meio do verso),
como em Florbela Espanca, neste verso: “Ó/
An/to!/ Eu/ a/do/ro/ os/ teus/ es/tra/nhos/ ver/sos”, onde se encontram dois
hiatos, no primeiro hemistíquio, entre Ó e Anto,
como também entre Anto e eu.
Aqui ficamos, pois a nomenclatura de todos
os metaplamos é difícil e longa, de forma que só a prática da contagem de sílabas,
dando ouvido ao ouvido, é que vai ensinar essa contagem de sílabas em cada verso
e em cada poema.
A
prática da escansão
Escansão: Assim, partimos dos versos mais curtos da nossa
poesia, com o trecho de um poema de Cassiano Ricardo - uma sextilha, marcando as sílabas
poéticas:
Monossílabos
(ou monocórdios):
“Pin/go
dӇ/gua,
Pin/ga,
Ba/te
Tu/a
Má/goa!”
Observamos
que cada verso tem apenas 1 (uma) sílaba poética, pois que não se conta a sílaba átona, na escanção,
salvo quando o acento é grave. São os chamados versos monossilábicos ou monocórdios,
obsevando os traços separativos das sílabas, mostrando as finais não
contadas.
Dissílabos são os versos com 2 sílabas
poéticas, como neste exemplo de Casimiro de Abreu:
“Quem/ de/ra
As/ do/res
De a/mo/res
Que / lou/co
Sem/ti!
Quem/ de/ra
Que/ sin/tas!...
Não/ ne/gues,
Não/ min/tas...
Eu/ vi”
Trissílabos:
versos com 3 sílabas poéticas,
como nestes versos de Gonçalves Dias:
“Vem/ a
au/ro/ra
Pres/su/ro/sa,
Cor/ de/ ro/sa,
Que/ se/ co/ra
De/ car/mim;
A/ seus/ rai/os
As/ es/tre/las,
Que e/ram/ be/las,
Têm/ des/mai/os,
Já/ por/ fim.
Tetrassílabos:
versos com 4 sílabas poéticas,
como no exemplo de poema de Vinícius de Moraes:
“Ó/ mi/nha a/ma/da
Que/o/lhos/ os/ teus
Quan/to
/mis/té/rio
No/s o/lhos/ teus
Quan/tos/ as/vei/ros
Quan/tos/ na/vios,
Qua/tos/ nau/frágios
No/s olhos/ teus!”...
Pentassílabos
(também chamados de Redondilha Menor): versos com 5
sílabas poéticas, como nestes versos de Luiz Vaz de Camões:
“A/que/la/ ca/ti/va,
Que/ me/ tem/ ca/ti/vo,
Por/que/ ne/la vi/vo
Já/ não/ quer/ ser/ vi/va.
Eu/ nun/ca/ vi/ ro/sa
Em/ su/a/ves/ mo/lhos,
Que/ pa/ra/ meu/s o/lhos
Fos/se/ mais/ fer/mo/sa.
Hexasílabos: são versos de 6 sílabas poéticas, como
nestes versos de Carlos Drummond de Andrade:
“O/ me/ni/no am/bi/cio/so
Não/ de/ po/der/ ou/ gló/ria
Mas/ de/ sol/tar/ a/ coi/sa
O/cul/ta/ no/ seu/ pei/to
Es/cre/ve/ no/ ca/der/no
E/ va/ga/men/te/ con/ta
À/ ma/nei/ra/ de/ so/nho
Sem/ sem/ti/do/ nem/
for/ma
A/qui/lo/ que/ não/ sa/be”.
Heptassílabos,
também chamados de Redondilha Maior: são versos de 7 sílabas
poéticas, como nos versos de Luíz Vaz de Camões, em Redondilha Maior, homenageando,
novamente, o fundador de nossa idioma clássico:
“Sem/ vós/ e/ com/ meu/ cui/da/do
O/lhai/ com/ quem,/ e/
sem/ quem.
A/mor/ cu/ja/ pro/vi/dên/ci/a
Foi/ sem/pre/ que/ não/
er/ras/se,
Por/que/ n’al/ma/ nos/
le/vas/se,
Res/pei/tan/do o/ mal/
de au/sên/ci/a
Quis/
que em/ vós/ me/ trans/for/mas/se.”
Observação: Em heptasílabos, ou Redendilha Maior é que são construídos
a maioria das trovas modernas – que se
conservou como as antigas.
Octasílabos: Versos que possuem 8 sílabas poéticas, como exembro,
ainda de autoria de Drummond:
“Ó/ so/li/dão/ do/ boi/
no/ cam/po,
Ó/ so/li/dão/ do ho/mem/
na/ ru/a!
En/tre/ car/tas,/ trens,/
te/le/fo/nes,
En/tre/ gri/tos,/ o er/mo/
mais/ pro/fun/do”.
Eneassílabos: Versos que
possuem 9 sílabas poéticas, exemplicando
com parte de um poema de Manuel Bandeira, seu livro de estreia “A Cinza da Horas”:
“Eu/ fa/ço/ ver/sos/ co/mo/ quem/ cho/ra
De/ de/sa/len/to.../
de/ de/sen/can/to...
Fe/cha/ meu/ li/vro,/
se/ po/r a/go/ra
Não/ tens/ mo/ti/vo/
ne/nhum/ de/ pran/to.”
Decassílabos: Versos que possuem 10 sílabas poéticas, como neste
primero quateto, do poema “Sensual
Alice”, de autoria de Francisco Miguel de Moura:
“Foi/ na/ cur/va/ da/ mi/nha/ me/ni/ni/ce,
De/sa/guan/do/ na/ mi/nha/
ju/vem/tu/de,
Que/ me/ vei/o à/ ca/be/ça/
es/ta/ vir/tu/de
De/ te/ gra/var/ no/ co/ra/ção,/
A/li/ce”.
Outra observação: os Sonetos
modernos, como os antigos, são quase sempre construídos em decassílabos.
Hendecassílabos:
Versos que contêm 11 sílabas poéticas, como em Gonçalves Dias, no poema “A Tempestade”:
“Nos úl/ti/mos/ ci/mos/ dos/ mon/te/s er/gui/dos
Já/ sil/va,/ já /ru/ge
/do/ vem/to o/ pre/gão;
Es/tor/cem/-se os/ le/ques/
dos/ ver/des/ pal/ma/res,
Vol/tei/am, /re/bra/mam,/
dou/de/jam/ no/s a/res,
A/té/ que/ las/ca/dos/
ba/quei/am /no /chão”.
Uma
terceira observação: Pelo ouvido, nota-se logo que o hendecassílabo
se parte em dois versos de 5 sílabas cada um, principalmente nos grandes poetas
como Gonçalves Dias, tornando-se assim bastante melodiosos..
Dodecassílabos:
Versos de 12 sílabas poéticas, também chamados de alexandrinos, como nos
versos do soneto “Duas Almas”, de Alceu Wamosy:
“Ó/ tu/ que/ vens/ de/ lon/ge,/ ó/ tu/ que/
vens/ can/sa/da,
Em/tra, e/ so/b o /meu/
te/to em/com/tra/rás/ ca/ri/nho,
Eu/ nun/ca/ fui/ a/ma/do
e/ vi/vo/ tão/ so/zin/ho,
Vi/ves/ so/zi/nha/ sem/pre
e/ nun/ca/ fos/te a/ma/da”.
Aqui
vale uma observação importante sobre a
escansão do verso alexandrino, visto que ele
se desdobra em 2 (dois) versos, sendo o primeiro de 6 (seis) silabas e o segundo de 7 (sete) sílabas. Uma
delas será cortada pela cesusa – ou seja, o encontro dos
dois versos mediais, chamados de hemistíquios) quando uma das sílabas
desaparece pelo encontro de vogais que se agregam em forma de crase (sem acento), perfazendo
o total das 12 (doze) sílabas normais. Quem não tem a capacidade de construir o
alexandrino
com o uso dos 2 (dois) hemistíquios para o efeito da censura,
faz um verso que chamamos de pé quebrado, nada eufônico.
***
Rítmo: É o movimento medido e contado, no poema como na
música. Ele se obtém pelo estudo e uso
de três fatores conjugados, na análise externa dos poemas, que são a métrica, a cadência e a rima. Partimos do exemplo do primeiro verso do
soneto “Contraste”, do Pe. Antônio Tomás,
“Quando partimos no vigor dos anos...”. É quando, ao declamá-lo,
lendo ou apenas ouvindo, nota-se bem o altear e o baixar das vozes (indicadas
em negrito), que são contadas como eufonia
num verso decassílabo, recaindo na 6ª, 8ª e 10ª sílabas (tônicas), deixando de ser
contada apenas a do final do verso, pois não se contam as últimas sílabas
quando são átonas (breves). Ritmo é, explicando mais claramente, a disposição das
tônicas e das breves sílabas em cada verso.
Métrica:
Cada verso tem sua medida de tantas sílabas breves (átonas) tantas outras
graves
(tônicas) entre aquelas que a compõem.
Como já fizemos a escanção dos versos de l (uma) a 12 (doze), sílabas, passamos
agora a indicar os acentos (tônicos) obrigatórios em cada verso poético
da poesia em língua portuguesa.
Monossílabos: São versos que têm apenas uma sílaba
acentuada, por ser única. Exempo: “amo/clamo/bebo/danço”(uma
quadra em monossílabos).
Pentassílabos: São os versos de 5
(cinco) sílabas, também chamados de Redondilha Menor, tal como os versos
de Carlos Drummond de Andrade, que a seguir transcrevemos, inclusive com a indicação
das sílabas
tônicas:
“A/ma/r o /per/di/do
dei/xa/ con/fun/di/do
es/te/ co/ra/ção.
Na/da/
po/de/ o ol/vi/do
con/tra o/ sem/ sem/ti/do
a pe/lo/ do/ não”.
Septsílabos:
São os versos de 7 (sete) sílabas, mais conhecidos como Redondilha Maior ou
Trovas, que, por serem curtos e sonoros, são muito populares. Exemplo
raso é o meu nome completo, Francisco Miguel de Moura, que é
uma perfeita redondilha maior, tendo em vista cadência de três acentos poéticos: cis,
guel e mou.
Como
foi dito no início deste ensaio, vamos dar mais ênfase às trovas, aos sonetos
e aos haicais, pois estes tipos poéticos têm tido a preferência da poesia
atual. Comecemos com a trova,
que se compõe em estofes apenas 4 versos, ou seja uma redondilha maior, porque
em versos de 7 (sete) sílabas, cuja acentuação é obrigatória apenas na 7ª
sílaba. Entretanto, para ficar mais completa em eufonia, mas também na 2ª e na 5ª sílaba, como indicado acima, em meu nome
completo:
“Se a/ vi/da/
tem/ tra/vo e/ tre/va,
A/ tro/va/
po/de/ ser/ cha/ma
Que a/pon/ta o/ ca/mi/nho e/ leva
Ao/
en/con/tro/ de/ quem/ a/ma!”
(Maria
Thereza Cavalheiro (in “Encontros e Desencontros”)
Lembremos
ainda que, no exemplo acima, não há uma só palavra proparoxítona, ou seja, palavras
da língua porguesa que tenham mais de (3) três sílabas, pois elas não são muito
eufônicas quando na poesia, salvo em casos muito especiais.
Octassílabos:
Têm obrigatoriedade de mais acentos noutras sílabas que não as da trova. Assim
sendo, vejamos os acentos na 4ª. e na 8ª. sílabas do versos que copiei na Gramática Metódica, de Napoleão Mendes de
Almeida, mas pode ter outra forma de cadência, como no segundo exemplo, com
acetuação obrigatória na 2ª, 5ª e 8ª silabas poéticas:
a)
“No hor/ren/do/ pân/ta/no profundo”.
b)
“Bem/ co/mo/ ser/pen/tes/ que o/ frio...”
Eneassílabos: Tipo de versos que têm 9 sílabas poéticas, sendo que
a acentuação das fortes (ou tônicas) recaem: a) na 4ª. e
na 9ª sílabas, no primeiro verso citado abaixo: b) como no segundo verso: nas 3ª, 6ª e 9ª, como assinalamos, primeiro
exemplo, mas podem pegarem acentos diferentes, como no segundo verso escaneado:
a)
“Noi/te/ de/ rosas, noite de palmas;
b) Ó guerreiros da tapa sagrada...”
Decassílabos: Tipo de versos
que tem 10 sílabas, com acentuação obrigatória na, 6ª e 10ª sílabas ou na 8ª e 10ª.
Mas comporta também outras variações de rítimo como anotadas depois de cada
verso do soneto a seguir: na 6ª e 10ª sílabas,
ou na 4ª, 8ª e 10ª, a seguir:
“Foi/ na/ que/da/ da/ mi/nha/ me/ni/nice – 3ª, 6ª e 10ª sílabas
poéticas
De/s a/guan/do/ na/ mi/nha/ ju/vem/tu/de – 3ª, 6ª e 10ª idem
Que/
me/ vei/o à/ ca/be/ça es/ta vir/tu/de – 4ª,
6ª e 10ª
De/
te/ gra/var no/ co/ra/ção, A/lice.– 4ª, 8ª e 10º .
Tu
brin/ca/vas/ na/ prai/a, on/das/ sal/ga/das
- 3ª, 6ª e 10ª sílabas
Vi/nham/ que, brar/-se/ nos/ teus/ pés,/
sem/ pe/jo.- 4ª, 8ª e 10ª, sílabas
A/pro/vei/tar/ meu/ pre/ma/tu/ro em/se/jo – 4ª, 6ª e 10ª sílabas
Se/ri/a um/
céu/. Per/di/ tu/as/ pe/ga/das...”
– 4ª, 6ª e 10ª sílabas.
( Francisco
Miguel de Moura, in “Areis”,1966).
Endecassílabos: Versos de 11 sílabas poéticas, tem acento da
seguinte forma:
“No/ meio/ das/ ta/bas/ de/ a/me/nos verdores – 4ª, 8ª e 11ª sílabas
Cer/ca/dos/ de/ tron/cos/ – co/ber/tos/ de/
flo/res – 2º, 5º, 8º e 11º sílsbas
Al/tei/am-/se os/ tec/tos/ d’al/ti/va na/ção – idem
São/ mui/tos/ seus/ fi/lhos,/ no/s â/nimos for/tes – ídem
Te/mí/veis/ na/ guer/ra,/ que/
em/ den/sas/ co/ortes - idem
As/som/bram/ das/ ma/tas/ a i/men/sa ex/tem/ção” – idem
(Gonçalves Dias, 1ª
sextilha, do “I-Juca-Pirama”)
Observamos
que os endecassílabos se dividem claramente em dois versos de 5(cinco)
sílabas poéticas cada um, tornando o poema bastante melodioso, digamos mesmo –
cantante.
Dodecassílabos:
Versos de 12 (doze) sílabas poéticas, também chamados de alexandrinos, são os versos
mais difíceis para escansão. O soneto “Duas Almas”, de Alceu Wamosy, é
nosso primeiro exemplo. Devem ser indicadas todas as sílabas
poéticas e também quais as tônicas,
ou sejam, acentuações obrigatórias, na 1ª e/ou 2ª, 6ª, 10ª e 12ª sílabas
poéticas, o que não impede que tenha outras tônicas, por exemplo, na 2ª, 4ª, 6ª,
10ª e 12ª :
“Ó/ tu/
que/ vens/ de/ lon/ge,/ ó/ tu/ que/ vens/
can/sa/da -
En/tra, e/ so/b o /meu/ te/to
em/com/tra/rás/ ca/ri/nho,
Eu/ nun/ca/ fui/ a/ma/do
e/ vi/vo/ tão/ so/zin/ho,
Vi/ves/ so/zi/nha/ sem/pre e/ nun/ca/ fos/te a/ma/da”.
Vejamos
agora a observação interessante, para a escansão do alexandrino, usando apenas
o nome Olavo Brás Martins dos Guimarães
Bilac
- nome completo do Príncipe dos Poetas Brasileiros:
– A acentuações das tônicas marcadas nas sílabas 2ª, 4ª, 6ª, 10ª e 12ª, deparamo-nos,
pela escansão,
com um alexandrino perfeito, cadênciado, que se desdobra em dois hemistíquios,
ou seja, dois versos com 6 (seis) sílabas
poéticas cada um, em cujo encontro dos dois há uma distinta separação sonora chamada
denominada cesura. Indicamos, sublinhados, os hesmistíquios da estrofe
acima, ou seja, onde há cesura ou separação dos dois versos de 6 sílabas, tal
como nesta estrofe abaixo:
“Pá/tria,/ la/te/jo/ em/ ti/ no/ teu lenho, po/r on/de
Cir/cu/lo! e/ sou/ per/fu/me, e /som/bra, e/ sol,/ e or/valho!
E, em/ sei/va, ao/ teu/ cla/mo/r a/ mi/nha/ voz/ res/ponde,
E/ su/bo/ do/ teu/ cer/ne ao/ céu/ de/ ga/lho em/ galho”!
Cir/cu/lo! e/ sou/ per/fu/me, e /som/bra, e/ sol,/ e or/valho!
E, em/ sei/va, ao/ teu/ cla/mo/r a/ mi/nha/ voz/ res/ponde,
E/ su/bo/ do/ teu/ cer/ne ao/ céu/ de/ ga/lho em/ galho”!
(Olavo Bilac, in “Pátria”)
As
cesuras
e os hemistíquios dos versos de 12 sílabas acima também chamados de alexandrinos,
no exemplo do soneto “Pátria”,
de Olavo Bilac, estão em negrito, como indicado; mas são apenas alexandrinos comuuns. Os alexandrinos mais completos recebem
acentuações outras, cujas explicações se tornam desnecessárias.
Completamos
o assunto dodecassílabos com a observação que alguém fez ao escritor português,
Antônio Feliciano de Castilho: “se o alexandrino se compõe de 2 versos de 6 sílabas,
então não é preciso fazer alexandrinos; basta compor 2 versos de 6 sílabas”. Castilho
respendeu de pronto: “É verdade, mas o alexandrino
tem mais imponência, mais brilho. Assim, quando temos muita sede, preferimos beber
um só copo grande de água a beber dois pequenos”.
Napoleão
Mendes de Almeida, nosso gramático preferido, acrescenta mais três regras para
que o alexandrino seja considerado clássico:
a)
quando o primeiro hemistíquio termina por palavra paroxítona, a palavra que inicia
o segundo hemistíquio deve começar por vogal ou h mudo;
b)
quando a última palavra do primeiro hemistíquio é oxítona, a primeira do segundo
pode indiferentemente começar por vogal ou consoante;
c)
a última palavra do primeiro hemistíquio nunca pode ser proparoxítona.
Assim,
notamos que a partir dos versos octassílabos é que a sonorização fica
mais complicada, por isto mesmo são os versos mais belos, mais clássicos. Os poetas
modernos, para se salvarem da escansão, preferem os versos menores,
ou então os chamos versos livres, de mais de 12 (doze) sílabas. Eu disse: preferem.
Não significa que não produzam trovas, haicais, sonetos e muitas outras espécies
líricas.
Cadência:
Como já vimos acima, a cadência caracteriza-se
pela alternância de vozes breves e longas dentro de cada
verso, justamente para dar ênfase às altas vozes (tônicas), ou seja aos
acento obrigatórios, como acima mencionados, e queda nas baixas (átonas)
vozes.
Rima - O que é rima? São os sons iguais, de dois versos, na sílaba
poética final de cada um. E isto requer um ordenamento igual, no fim da estrofe,
sejam em rimas cruzadas ou intercaladas, ou em outros tipos de rima
que indicaremos a seguir:
a)
quanto à fonética: perfeita, consoante, imperfeita, toante ou assonante;
b)
quanto ao valor: rica, pobre, rara e preciosa;
c)
quanto à acentuação: aguda (ou masculina), grave (ou feminina) e exdrúxula; d) quanto à posição na estrofe;
alternadas (ou cruzadas), emparelhadas (ou paralelas), interpoladas (ou intercaladas), encadeadas, mistas e versos
brancos (ou soltos).
Vamos
dar poucos exemplos, pois, como já dissemos que o valor da rima, no poema, é
mínimo. Mas quando o autor se propõe a
usá-la deve ser bem usada. Peguemos um soneto, sem nome, moderníssimo, do grande poeta Sérgio Campos, prematuramente
falecido, que usou rimas cruzadas, sendo que o primeiro e terceiro versos são com
rimas toantes ou soantes, enquanto que o segundo com o quarto versos têm rima
perfeita:
“A
vida não calou a pera amarga - A
e o que era amargo fez-se feio e frio-
B
e o frio se lançou como quem crava -
A
seu último punhal contra o vazio” –
B
Vamos ver agora
outro exemplo de rimas diferentes das que apontamos acima, através deste quarteto
de minha autoria, no soneto “Essa chuva”,
em que aparecem rimas intercaladas: B e B, que também são chamadas de agudas, por
ter a terminação em sílaba oxítona e não paroxítona como as de referênica
A e A
“Essa chuva a bater no meu telhado, - A
Pelas bicas
descendo em borbotão, - B
Tangida a
raio, a ronco de trovão, - B
Dá-me um
sono tranquilo e temperado.”- A
Agora vamos
mostrar exemplo de rimas ricas com com versos meus no soneto “O tempo existe”. Todas as rimas deste quarteto são ricas, pois
que elas têm categorias gramaticais diferentes, ou seja verbo com substantivo (A
e A) e verbo com adjetivo (B e B). Está
escrito que as rimas pobres são de categorias gramaticais iguais: verbo com verbo,
substantivo com substantivo etc. tal como não acontecem neste quarteto de minha
autoria, conforme soneto “O tempo existe”:
“Existe mais: um tempo em que sorrimos, - A
Diferente
do tempo em que chorou-se,- B
E um tempo
neutro: nem amaro ou doce. -B
Tempos alheios,
nem sequer são primos!” – A
Aproveitamos, o
exemplo acima, para acrescentar que há duas
licenças poéticas, neste quarteto,
ou seja o deslocamento do pronome se para no final do verbo, enquanto
pela regra gramatical seria antes do verbo, por causa do conectivo que,
pelo fenômeno da atração; e também amaro por amago.
Licenças
poéticas – São algumas margens de liberdade consentidas ao poeta para
que torne o verso mais agradável, seja por causa do metro, rima,
estrofação,
ritmo, entre outros itens, tudo para
embelezar o verso sem, no entanto, torná-lo obscuro.
A rima pode melhorar ou piorar o
poema, depende do conhecimento, habilidade e criatividade do autor, bem como a diversidade
de sons de vocábulos rimantes. Há até dicionários de rimas, mas este tipo
de obra não chega a ser urgente para o trabalho do poeta, visto que, muitas
vezes os versos não rimados satisfazem bem ao ouvido e aos olhos. Rima é um adereço, um enfeite do verso, usada com sabedoria.
Pode haver e há muitos poemas sem rima. As repetições de um ou mais sons dentro
do poema é outro enfeite, mas pode enfeiá-lo, depende da maestria do poeta. Nem
rimas nem repetições de sons ou mesmo de versos são necessários, Só podem ser
usadas quando houver conveniência, para o tipo poema, como os hinos, por exemplo.
Estes adereços, quando sabiamente dispostos embelezam e enriquecem o texto.
As
variações de sons vocais em cada um poema podem torná-lo melhor para ouvido
interno ou externo. Nosso ouvido interno deve ficar bem apurado quando praticamos
os versos, lendo em voz alta ou baixa (que significa em silêncio).
Ainda
sobre a rima: -
1
– Rima não é uma necessidade poética: pode
haver qualquer tipo de rimas diferentes das que já foram apontadas
2 – Qualquer rima é normal tanto na poesia
clássica e até na moderna, quanto na
popular.
3 - O que
não pode haver é erro gramatical, salvo quando o poeta o usa como lencença
poeta, usando-o conscientemente, como exceção e não como regra.
Entretanto,
além das licenças poéticas, muito além, vem a substância da linguagem que
está nas comparações, imagens, metáforas, sinestesias e cenestesias, hipérboles,
símbolos, catacreses, sinédoques, metonímias – chamada, figuras ou tropos – que só se
aprendem na leitura das boas antologias, onde figuram os grandes poetas.
Poesia
tem linguagem cifrada, porém de forma que chegue à inteligência dos leitores. A
poesia é diferente da linguagem comum, as palavras, as frases, os versos adquirem
novas formas e novas substâncias. Para o encontro dessa linguagem cifrada podemos levantar mais as seguintes
normas: a) não usar advérbios termomnados em
mente, salvo em situações muito exdrúxulas como já fizemos com o exemplo de “australopitecamente”, por mim usado no penúltimo
poema de “Poesia in Completa”, denominado
“Sem nome – poema”; b) entre o uso dois adjetivos, corte os
dois, lembando sempre que no poema “Canção
do Exílio”, de Gonçalves Dias, onde não há nenhum adjetivo; c) entre os verbos no passado e no
presente é melhor escolher o presente; d)
entre o uso do plural e do singular, escolha este, pois que o úno é mais
universal; e) entre o simples e o composto, escolha o simples; g)
elimine todas as palavras denecessárias
e sem substância - neste ponto inclui-se o uso do pronome oblíquo e se excluem
as repetições necessárias que dão ênfase ao poema; h) claro que todas as regras têm exceção e só devem ser seguidas
quando forem úteis à força do poema e não deixem dúvidas quanto à clareza do verso.
Trova,
soneto e haicai
A trova vem do início de nossa língua, quando
até os reis e príncipes se tornaram trovadores, misturando-se com as cantigas
de bem de dizer, de mal dizer, entre outras outras. Inicialmente era usado com música, depois ganhou
corpo e tornou-se esta forma tão popular que é.
Já o soneto, segundo os historiadores, é uma
forma lírica criada pelo siciliano Giacomo da Lentini, do século XII, e daí por
diante granhou fama e todos os grandes poetas o praticaram.
De
longe, as duas formas poéticas mais comuns, na literatura, são a trova e o soneto, por isto, vamos nos deter mais um pouco sobre elas.
Trova
- Comecemos com a trova, citando a exemplar
sobre o assunto, de autoria do poeta Adelmar Tavares, cuja escansão já mostrada
nos versos de 7 sílabas, heptassílabos, também chamados de
redondilha maior, cuja estrofação correta é ABAB:
“Ó/ lin/da/ tro/va/ per/fei/ta
Que/
nos/ dá/ tan/to/ pra/zer!
Tão/ fá/cil/ de/pois/ de/ fei/ta,
Tão/ di/fí/cil/ de/ fa/zer!”
Trata-se
de uma trova perfeita, versos de 7 (sete) sílabas, rimas ricas, com acentuação
mais do que sonoras, pois poderia ter acento apenas a última sílaba poética. É
como eu digo: quanto mais sílabas acentuadas houver no verso, mais nos aproximamos
da contagem dos vesos gregos e latinas, pela alternâncias sons fortes e sons
fracos. Quem quiser saber mais sobre a trova
deve ler o livro “Tovas ara Refletir”,
de Maria Thereza Cavalheiro, também uma mestra na matéria.
Por nossa vez, dizemos
que podem ocorrer muitas variações no gênero trova, especialmente no que refere
à rima, como aconteceu com Castro Alves,
no poema “O gondoleiro do Amor” o grande poeta brasileiro, que começa e vai até
o fim assim:
“Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes são profundos,
Como o negrume do mar.”
Ou ainda pode
ser como esta de Mário de Sá Carneiro (1890-1916), poeta português, com as
rimas diferentes: o primeiro com o último verso e o segundo e terceiro fazendo
uma parelha, ou sja rimados
“Perdi-me dentro de mim
Porque
eu era labirinto,
E hoje quando me sinto,
É com saudades de mim.”
Mesmo assim, ainda
há outros tipos de trovas, conforme a rima e até trovas sem rima, pois este tipo
de poema, sendo muito popular, alguns modernistas se lançam a ela, mostrando que
a rima não indica nada, é apenas enfeite sonoro que pode ser alcançado de outra
maneira. Exemplo: uma trova inédita, de minha autoria, com apenas uma rima, isto
é terceira com a quarta:
“Pelas horas desfiladas
No
branco leito dos dias,
Medimos nossas tristezas
E também as alegrias.”
Por
último, encontramos a trova sem rima, de autoria do poeta Mário de Andrade, já
no modernismo:
“Sou um escritor
difícil,
Porém
culpa de quem é?...
Todo difícil é fácil
Abasta a gente saber”.
Note-se uma licença
poética, denominada prótese: o acréscimo da letra A à palavra basta, para que
realmente o verso ficasse perfeito, com 5 sílabas, pois que é uma trova. Mas os
acréscimos podem vir também no meio ou no começo da palavra, tal com as supressões
de vogais e eliminação de consoantes, tando no meio, no fim, ou no começo da palavra.
Soneto:
Vamos à análise de um soneto, uma das espécies líricas
mais usadas. E quando o escolho é porque ainda se frequentam outras menores como
a trova
e o haicai.
Partimos de um soneto da minha lavra, inédito. Além de inédito,
ele se coaduna bem com a forma mais geral da poesia clássica. Inicialmente vem o
primeiro quarteto com as tônicas acentuadas para a cadência e harmonia de sons:
“Já/mais/ foi/ fá/cil/ ter/mi/nar/ quar/te tos
Sem/ sa/ber/ do/ so/ne/to os/ se/gui/men/tos
Mais/ di/fí/cil/ quan/do ar/dem/ sem/ti/men/tos
En/car/ce/ra/dos/ na al/ma/ dos/ ter/ce/tos”.
Nosso soneto denominado “A lição do soneto” vai a seguir
completado, pois que o leitor pode muito bem dar continuação à escanção:
“Jamais foi
fácil terminar quartetos
Sem saber
do soneto os seguimentos
Mais
difícil quando ardem sentimentos
Encarcerados
na alma dos tercetos.
Se o iniciante
ouvisse o sofrimento
Do desafio, a construção difícil,
Não ficaria em vão terreno físsil,
Com nojo
do soneto e seu tormento.
Fazê-lo é fácil, sim, no compromisso
De ouvir e
ver, amando o movimento,
E em cada
“lá maior” cantando o viço.
Sem a prima
lição, perde-se o mastro
E o poeta
se enlaça em pé-de-vento,
Fracassado no “dó” de um poetastro.”
Notamos, na escansão
do primeiro quarteto,
um fenômeno muito comum na contagem sílabas dos versos; a crase
de vogal final de uma sílaba é seguida palavra começada em vogal: qundo
ardem e na alma. As vogais juntam as sílabas poética em uma só. Também
pode dar-se o contrário, como na palavra seguimento, que, pelo dicionário
seria segmento, mas poeta abandona esta ideía, acrescentando o grupo
vocálico gu, donde surge a palavra seguimento, para dar melhor sentido
ao substantivo gerado diretamente no verbo seguir. Licença poética ou não, o
certo que a palavra seguimento no poema, cria alma nova, uma criação poética, sem
dúvida. Existe também o caso de transformar
um ditongo
em hiato,
como no caso da palavra saudade, transformada em sa/u/da/de,
como neste verso do grande poeta José Albano: “E / só/ com/ sa/u/da/des/ me/
a/tor/men/to”.
Análise:
Trata-se de um soneto em decassílabos, com rimas do tipo A-B-B-A,
nos dois quartetos; já nos dois tercetos, tem rimas do tipo A-B-A, sendo que ficam rimas cruzadas nos tercetos, ou
seja, rimando as palavras movimento com pé-de-vento. É o típico soneto
clássico, com rimas amarradas nos tercetos. Os acentos caem nas sílabas indicadas
do primeiro quarteto, ficando o resto dos versos para serem experimentados pelos
querem iniciar-se na escanção.
Haicai
-Finalmente chegamos ao haicai, uma forma de poema lírico que a literatura
brasileira acolheu, tendo origem japonesa, onde tem o nome de haiku.
Originalmente é uma forma de poesia curta, caracteriza-se pela seguinte
composição: Estrofe de 3 versos, sendo o primeio e o terceiro de 5 sílabas
poéticas, o segundo, com 7 sílabas, não podendo ultrapassar as 17 sílabas poéticas.
Não precisa necessariamente ter rimas, mas quem quer pode usá-las. Geralmente, o
haicai
busca a natureza como tema. No Brasil, o
grande divulgador da forma haicai foi o poeta Gulherme de Almeida,
por isto é o modelo. Historicamente a forma foi usada pelos cortesãos e aristocratas, lá pelo séculos VIII
a XI. Depois se espalhando pelo mundo pela belza que encerra. Na forma se
parece muito com o epigrama, outra forma poética cutra. Na essência, busca a irregularidade
cíclica da natureza “Por outro lado, as
17 sílabas parecem equivaler a uma
emissão de fôlego, emanação da própria alma, ou atestam, no jogo de cinco-sete-cinco,
os três momentos da vida humana: ascenção-apogeu-decadência”, conforme “Dicionário de Termos Literários, de Massaud
Moisés”. O referido decionário mostra um haicaI de autoria de Matsu Basho, este
em tradução livre:
“Noite de primavera:
As
cerejeiras! Para elas
A
aurora desponta!”
Agora um exemplo de
haicai de Guilherme de Almeida:
“Chão humilde. Então
Riscou a sombra de um
voo.
“Sou
céu!” disse o chão”.
Poesia Popular (Cordel): - Como prometi falar sobre a poesia popular,
aqui vai um pouco. Deixo de lado as populares
cantigas, que nada mais são do que trovas ou quadras, das quais já
falamos e exemplificamos noutra parte.
Poesia
popular é, geralmente, um tipo de poesia feita pelos poetas improvisadores e
pelos cordelistas, espécie de letritas das músicas simples que são cantadas nas praças, feiras e até em auditórias e academias.
É bom saber que, assim como existem acacademias de letras, também há muitas de
trovas e de violeiros, gente inteligentíssima como Patativa do Assaré, Pedro
Costa, Miguel Guarani e muitos outros. Há também a poesia da música popular, poemas
gravados até em gravadoras oficiais do mercado, como outras que são livres, que
apelidamos de domésticas.
Porém,
duas coisas importantes devemos notar: 1ª – toda poesia popular tem rima; 2ª –
as sílabas são contadas não como nos poetas clássicos, mas pelas sílabas gramaticais
simplemente. Alguns bem letrados como meu pai, Miguel Guarani, não caem constante
em muitos erros gramaticais e de métrica.
Sendo
assim, quando nós, poetas cultos ou clássicos, lemos os versos populares
dizemos que tais versos estão de pés quebados, ou seja, não têm a quantidade
de sílbas poéticas para fechar o verso, seja de 7 sílasbas (heptassílabos),
seja de 10 (decassílabos), que são os mais comuns na literatura popular.
Quanto
à forma das estrofes e à quantidade de sílabas nos versos, referimos à
sextilha, à oitava e à décima, que são as mais comuns. O primeiro
exemplos é uma sextilha de Pedro Costa, inserida na revista “De Repente”, onde encontramos o erro
gramatical no emprego do verbo dar, que não devia estar no infinito,
mas sim no presente do indicativo, ou seja, o correto seria “dá”:
Sextilhas:
“Democracia
não dar
Liderança vitalícia
O
ex-presidente Lula
Tornou-se alvo de notícia
Denegrindo
sua imagem
Virou caso de polícia.”
”.
Apresentemos mais outra
sextilha, para que os leitores compreendam o que vem a ser verso de pé-quebrado.
Embora tudo pareça muito certinho, a
estrofe do cordel “Francisco Soares
– sempre alegre, nunca prantos”, contém um verso de pé-quebrado,
ou seja o verso que contém erro de mética, o qual foi assinalado:
“Preste bastante atenção
Nesta
bela narrativa,
Uma
história de garra
Com labuta muito ativa,
De um cidadão que venceu
Na seara educativa.”
Nesta segunda
sextilha analisamos, que suas rimas também são comuns (o contrário de rimas ricas).
E mais: vemos que elas na acontecem na 1ª, 2ª, 4ª e 6ª sílabas, como na sextilha
anterior:
“Certo
dia no meu Sertão
Fazendo uma caçada
Encontrei um pica-pau
Que de forma educada
Me cumprimentou dizendo:
Como vai camarada?”
(Jucivaldo Dias, in “ De Repente”)
Trata-se
de um “repente” onde se encontram 4 versos de pés-quebrados: 1º, 2º, 4º e o 6º, cujas sílabas foram contadas (ou
cantadas) na medida gramatical e não metrica clássica. É um vício que os poetas
populares têm: - não sabem fazer a separação das sílabas poéticas, cujos vagos são
preenchidos por um esticamento sonoro.
É
assim que a poesia pode transformar-se em não-poesia,
a falta de métrica, mesmo que o conteúdo
esteja contido na forma que o poeta elegeu e não seja muito banal. A rima somente
não faz o poema, nem a técnica. É preciso que haja a união da duas coisas.
Agora
vem uma estrofe de oito versos rimados, mas livres, quero dizer, sem métrica, sem
regularidade na quantidade de sílabas nos versos, de autoria de Marina Maria de
Sousa Carvalho, colhida na antologia “Romanceiro
dos Versejadores e Repentistas de Jenipapeiro”, org. pelo escritor João
Bosco da Silva:
Oitavas
ou quadrão):
“A noite é sombria
Mas
logo a luz vem
Não
temas essa sombra
Tudo
vai ficar bem
O choro alivia
As
lágrimas fazem bem
Porque
choras agora,
Se
a beleza da vida você tem?”
Décimas:
Exemplo de estrofe dez sílabas, em versos decassílabos, colhida na revista “De Repente”, de autoria de Pedro Costa:
“Os poetas cantores da saudade
Da
tristeza, alegria e das paixões
Eles têm motivo e mil razões
De expressar o valor da
liberdade
Que
nos levam para a felicidade
É
a grandeza da nossa existência
A
poesia nos enche de beleza
Como Deus moldou a natureza
Aos poetas lhe deu inteligência.”
Sublinhamos os dois
últimos versos para indicar que a falta da métrica no 9º e o erro gramatical 10º são características da
poesia popular.
Aqui
não pretendemos encerrar o assunto, que é muito vasto, mas dizemos que a poesia populsr é muito rica
e enriquece a vida das populações mais pobres, muitas vezes analfabetas, com histórias,
elogios, críticas e até doutrinas. Por isto não pode ser desprezada.
Se
neste ensaio não agradei a todos os leitores, peço que me perdoem. Não tenho
condição didática de apontar tudo, exemplificar tudo. Assim, resta consultarem
nossa biobibliografia, onde se abeberá de mais saber e mais beleza. Pois que a
poesia é uma das mais ricas fontes de beleza e sabedoria.
Um comentário:
Parabéns pelo belo trabalho. Meus agradecimentos pelo que me favoreceu. Caso possa e queira, preciso de ajuda para fazer a análise de meus poemas. Chico Miguel, se puder analisar este poema de minha autoria e me enviar para meu e mail agradeço. wilmamachado2019@outlook.com
O poema:
A vida é um cadinho de cada coisa que existe
Nem demais trabalho, nem demais lazer
Em tudo quanto fizer, faça-o com prazer
Deus que a tudo assiste,
te galardoará, conforme merecer
Eu já li dois livros, assisti a vídeos, e acabei chegando aqui, mas preciso de ajuda. Ter um apoio neste inicio... Eu componho música, peças teatrais, mas sempre nasce em minha mente e ponho no papel, mas agora que vou expor no meu site, gostaria de obter uma análise, ao menos deste...please. Me ajuda?
Desde já grata. Deus o recompense, Chico Miguel.
Preciso desta ajuda.
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