sábado, 27 de julho de 2019

UM QUADRO, QUASE AMOR


 Francisco Miguel de Moura*


Jurava a si, mas não jurou a mim,
Pobre e sedento para o seu amor,
Tão d’olhos negros e morena pele
Abrasada de sol pela janela,
Um sol tão necessário - de verão,
E, linda, você mais transpareceu-me.

Se seus olhos enganavam (como sei?),
As suas mãos entrelaçando as minhas,
Me diziam que não e não, e não!

Quente era o seu fogo e seu odor
Que, tão rápido esvaiu-se qual um sopro
Como um raio riscando o céu da noite.

Tímidas palavras ciciantes, sim,
Doces, tão doces me inundaram a alma
E me subiram aos olhos apertados,
E só quase um momento, e se apagaram,
Quando espocou, em força de vulcão,
Da boca de alguém que lhe guardavam.

Dois corações ali sobressaltados
Como esqueletos bem por trás do medo
das armas de teu pai, de teu irmão.

Hoje, depois de tantos anos meus,
Não esqueço aquele beijo fugidio,
Quase cheiro... Era pouco e me deixou
De você em mim, talvez (quem saberá?)
A cicatriz do que não pôde ser.
________________
*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, nascido no Piauí, residente em Teresina, PI - BR, com cerca de 42 obras publicadas entre prosa e poesia.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...