Francisco Miguel de Moura
És quase nada, amor, saltando ondas
de altas, fortes, tempestuosas luas.
Mas como irei nadar, sem braços,
nem abraços para apertar, doer
o acolhimento do eu como se fosse o tudo?
Não reclamar com risos e feitiços,
amar é transitivo e intransitivo, é
tudo.
Quem ama é devorado e noutro se segura.
E se demora... Está perto da fritura
dos que predizem: “Que loucura é amar!”
No amor se cora, e chora, e faz-se história
nu, no ar, ou vestido de peixe, ao mar
implora
praia sem palmas, sem asas pra ruflar.
Amar é abstração que nos fuzila
felizes, infelizes, como quem descora
e desfalece, em frente ao fantasma dum
olhar.
Amar, este mistério cobre a terra,
o tempo, os céus, os mares e todo o ar,
transpõe barreiras, trovoadas, luares,
em versos que se torcem, que se mordem
como tudo que nos faz repor o esgar.
Se é preciso o amor, porque se reclamar?
Nem quando cedo, em vida que adolesce,
volta em sonhos e pisa nos seus cacos
de luz que ferem o calcanhar da alma.
Nem quando tudo para e nunca vai voltar.
Teresina, PI, 15. abr. 2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário