domingo, 6 de janeiro de 2019

Positivismo, Odem e Progresso, Liberalismo e Democracia


 Francisco Miguel de Moura*
    
          O Positivismo, filosofia que dominava o mundo no final do séc. XIX e começo do séc. XX, no Brasil exerceu fascínio semelhante ao que Aristóteles causou à “inteligência” da Idade Média. Sobrevivência disto está em nossa bandeira, símbolo mais visível da nação Brasil; está na nossa primeira Constituição republicana, elaborada pelos juristas da época e, por extensão, em muitas leis cunhadas no período; presidiu parte da nossa reforma política, a reorganização e fortalecimento das Forças Armadas, a reforma educacional de 1891, e, na arte, quem sabe, a romancística do naturalismo e do movimento literário de 30. Enfim, foi popularizado pelo samba “Positivismo” de Noel Rosa e Orestes Barbosa, que termina assim: “O amor vem por princípio, a ordem por base / O progresso é que deve vir por fim / Desprezaste esta lei de Augusto Comte / E foste ser feliz longe de mim”.
          Augusto Comte (n. em Montpellier, 19-I-1798, f. em Paris, 5-IX-1857). Pai do Positivismo, pensou em botar ordem no mundo. Sua doutrina começa com a revolta antimetafísica, tenta criar uma sociedade baseada no amor-ordem-progresso, arquiteta a religião da humanidade na qual os deuses eram substituídos pela sociedade (esta baseada nos núcleos da família e da propriedade).  Eram os princípios. Aos 17 anos matricula-se na Escola Politécnica, aos 19 é expulso por liderar movimento de protesto; depois estuda medicina, mas volta a Paris, onde vive de dar aulas e publicar nos jornais. Foi secretário de Saint-Simon, que o encaminhou para o estudo da sociologia. Publicou muitas obras, mas sobressaem “Cours de Philosophie Positive” (1830-1842) e “Catéchisme Positivista” (1852).
            Para Comte, segundo as enciclopédias e tratados de filosofia, “a análise científica aplicada à sociedade é o cerne da sociologia, cujo objetivo seria o planejamento da organização social e política”, planejamento que traria o bem-estar do homem. A ideia era de que tudo o que se refere ao saber humano pode ser sistematizado segundo os princípios e critérios de verdade das ciências físicas e biológicas, e aplicar-se-ia perfeitamente aos fenômenos sociais.   Ciência, religião, filosofia e saberes, tudo o positivismo abarcou. Por isto é uma teoria absolutista, onde a liberdade de criar e inventar, de mudar e de encontrar estaria condenada. Sendo assim, influiria em tudo: na religião, na educação, na política. Nossa escola, se bem estudada, guarda resquícios dessa doutrina. Por exemplo, a máxima “magister dixit” – a verdade sem contestação – observada fielmente desde a prática do ensino engessado ao livro escolar, da formação do mestre-escola ao método de avaliação, sem possibilidades de mudança e com o castigo da reprovação.
Mas a doutrina positivista é realmente positiva quando coloca como responsabilidade dos educadores infundirem nos educandos o altruísmo, em detrimento do egoísmo. Entretanto vemos que a ingrata sociedade abandonou esta parte e ficou com a pior: a doutrina do Grande Ser, como era conhecido e amado o chefe Augusto Comte.
    Creio que o fato de, por lei, colocar-se uma data na bandeira do Piauí (principalmente porque nós temos outras datas históricas para a independência do Estado), é resquício desse positivismo. Se a moda pega, daqui a pouco, cada Estado também colocará dizeres, datas ou recados em seu pavilhão.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta, ficcionista, crítico literário, mora em Teresina, capital do Estado do Piaui, o mais pobre da República Federativa do Brasil m- Email: franciscomigueldemoura@gmail.com

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