Comece
pelo começo ou pelo meio:
Luz
sem espaço, a massa do vento...
Adjetivos,
um-por-um, risque-os,
Cale
a musa ante a feira-beleza.
Se conseguir um verso na linha dois,
Ainda
não é o poema, é um dueto
Donde
seres desprendem pensamentos,
Pano
sem fundos, cheio de remendos...
Se
da linha do lápis ressurge um borrão!
Heureca!
O borrão pode ser o começo.
Vomite
suas palavras sobre feridas
Triturando-as,
antes, uma-por-uma,
Num
pilão-fundo com moscas e areia,
Dê
uma volta com o “feito” na mão.
Quem
for passando dirá: “É um doido”!
E
seja um doido, porém de palavras.
Mas
se lhe descer a bruxa-inspiração,
Desista.
Vista uma calça ou bermudão
E vá
pescar num rio sem água,
Com
tarrafa sem linha e anzol sem pontas,
Do
pingo do sol do meio-dia à noite.
Se
voltar, mais um dia você merece:
Vai
ser citado num verso pelo avesso
Até
o próximo dia, com sal a gosto.
Eis
a dificuldade de fechar o poema,
Como
acontece com o fim da vida:
Tudo
o que era seu ficou decomposto.
(Do livro inédito "Poemas imperfeitos"
(Do livro inédito "Poemas imperfeitos"
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Francisco
Miguel de Moura, brasileiro, poeta e prosador, não cansa nem
descansa, é um velho-novo poeta.
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