terça-feira, 20 de junho de 2017

O AMOR É DOCE ENQUANTO DOCE

Francisco Miguel de Moura* 


Sim, certamente, o amor é doce no princípio. Mas depois de algum tempo pode ficar azedo e até amargo como qualquer prato. E amor, no sentido em que nossa sociedade toma hoje é uma comida, uma saída, um jantar e talvez até um motel. É triste para quem vem como eu de um tempo em que o namoro era tão diferente que até pegar na mão do outro não era fácil, era como um compromisso. Abraçar, beijar, não se pensasse nisto. A vitória era quando o rapaz recebia a resposta da moça de que aceitava namorar com ele.

Naquela forma o amor era mais bem conservado, ao invés de comida era uma joia de alto valor, ouro de lei, não mareava. Salvo em casos muito especiais. A santa lei de Deus era cumprida rigorosamente. Se algum dos dois desconfiasse disto, começavam os ciúmes, os arrependimentos, a novas juras, e tudo continuava como antes. Filhos nascendo, filhos crescendo,filhos sendo educados.
Mas para que falar assim na semana dos namorados – o dia é o 12 de junho. O dia, a noite, tudo. Porque logo que amanhece já estamos em 13 de junho, dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.

Julgo que neste momento de tanta aflição no mundo,quando os pais não dão bolas para os filhos, deixando-os à mercê de empregadas ou parentes, que não têm condição de mandá-los às escolas, de ajudar a fazer as lições de casa, de ensinar aquelas primeira maneiras que só se aprendem quando se é muito jovem, criança, digamos. Sem esticar muito o que já sabemos, isto é o casal normal. E quanto de ruim não pode acontecer com os filhos dos casais separados, por isto ou por aquilo, e os filhos ficam esbandalhados pelas casas de um, de outro, que por sua vez já têm outro par… E por aí.

Falar sobre uma pessoa ou mesmo algumas, dentro do seu “habitat”, que é o que o fazem os romancistas, por mais difícil que seja, jamais se pode comparar isto, se queremos observar o amor dentro da sociedade civilizada, muito especialmente a de hoje. Mais à frente vamos tentar mostrar, com o auxílio de quem já estudou e estuda isto e dizer algumas coisas que possam servir de baliza.

A sociedade moderna desviou-se para caminhos nunca trilhados e a anarquia está pronta. Não só pelos pais desnaturados, pelos filhos normais, adotados, readotados e pelos educados por empregadas, ou não educados por ninguém, por isto buscam as ruas e os companheiros, sempre os piores, porque seguir o mal é o caminho mais fácil: as drogas, o maior exemplo, e daí sabe Deus onde vão parar ou como vão deixar a sociedade.

Depois vêm as leis e as escolas governamentais querendo ou tentando remendar o passado sem sequer conhecê-lo em ciência ou tradição. Vejamos algumas estúpidas regras da sociedade revolucionária que vivemos:

a) Menor não pode trabalhar.

b) Menor pode matar, estuprar, roubar, fazer bandalheiras como tocar fogo em lugares públicos, ônibus, pessoas inocentes, etc.

c) Menor tem vontade própria, pode denunciar o pai ou a mãe e mandá-los para a cadeia, ou pior, matá-los, roubá-los e ficarem soltos ou em casas de recuperação.

d) As pessoas têm o direito de levar o que encontram, para si, mesmo sabendo que aquele objeto – inclusive dinheiro – não lhe pertence. Aqui pergunta-se: onde nasce a corrupção? Entre os políticos, entre eles, ou ser brasileiro é ser corrupto?

e) As pessoas (especialmente os pobres, pretos, mulatos e assemelhados podem a passar à frente dos que têm melhor nota na escola, entrarem para a universidade pública, etc.), como se as demais tivessem culpa da pele que têm ou da renda que não conseguiram seus pais por causa do desemprego. Isto não dá cidadania a ninguém, isto é dar esmolas, o que, se não é pecado, é deprimente para quem recebe. Concordo que os doentes, deficientes de qualquer natureza tenham todo o direito de gratuidade em tudo. Mas não posso concordar que não se possa chamar de “garoto” ou “moreno”, a um vadio que vem nos assaltar. E nestes casos, nós, os cidadãos, trabalhadores sofridos, que pagam impostos e tudo mais, podem ir para a cadeia pelo simples fato de ter “preconceito” e atingir alguém assim.

Falamos de amor no início da crônica e a ele voltaremos. Antes, porém, preciso dizer que a respeito de “preconceito da cor negra”, há, desde muito tempo, um patrulhamento terrível, dirigindo-se aos que escrevem: - Um amigo me pediu que substituísse a palavra “negra”, por outra. Justo porque tenho um soneto sobre a morte, está no meu primeiro livro, “Areias” (1966), cuja primeira estrofe é esta: 
“Eis a negra batendo à minha porta.. .
Saí pensando que o Correio fosse. 
 - Passa-me, por favor, teu passaporte, 
 Vamos partir… Já chega de matéria”.

Ridículo (achei). Também quando um professor, falando do palco de uma Academia, pronunciou algumas vezes a palavra “esclarecer” e se deu conta de que era uma palavra que tinha um sentido “preconceituoso”, contra a negritude e recomendou que fosse evitada. Continuando sua palestra, isto já lá para o fim, quis recordar alguma coisa e disse assim: “Ih! Agora me deu um branco!”. Isto também não seria um preconceito contra aqueles que não são da sua raça? Pensei em argumentar, mas como ele era muito teimoso, professor e convidado, preferi calar-me. Não agora. Não vou nomear qual Academia, qual professor, nem a cidade onde estávamos. Por obrigação, explico: Estávamos num Congresso Literário, com a assistência de uma grande plateia.

Sim, repito: - O amor é doce do princípio ao fim, desde que as pessoas envolvidas, sejam casais consensuais. Também nós, convívio social, tenhamos caráter, observemos os costumes (principalmente os do passado), observemos também a ética e as leis, mas protestemos contra estas, se são imorais, capciosas, feitas por legislador incompetente e sem caráter. Por que lei é para o povo, para a sociedade. Não há lei individual. Acredito também no amor à pátria, a terra onde nascemos e vivemos, acredito na humanidade enquanto humanidade, aquela criada por Deus, para uma vida como irmãos, num jardim chamado Éden, que não é nada mais do que nosso planeta Terra tão maltratada.

Do dito, fica claro que a FAMÍLIA sempre foi e é a base da sociedade. E a base está rachada. A nova civilização está num dos seus piores estágios. O Éden que Deus preparou para o homem, depois da torre de Babel, está sendo totalmente destruído.

(Este artigo-crônica foi publicado no jornal  "O Dia", de Teresina, PI, em 24 e 25 de junho de 2017)
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Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da Academia de Letras do Piauí,Teresina-PI;

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