Já
escrevi várias vezes sobre a falta de leitura do povo brasileiro.
Nós, Brasil e países em desenvolvimento, passamos da era da
pedra – era só imagem e riscos nas cavernas - à era da internet,
quando ironicamente ninguém quer saber de letras, quer saber só de
figuras. Já falei nos “ANALFABETIZADOS”
- aqueles que vão à escola aprendem mal,muito mal a ler, nada a
escrever senão alguns garranchos para assinar em algum documento e
saem por aí dizendo-se leitores e às vezes até escritores. São os
eleitores de Lula – (desculpem-me
a intromissão na política vagabunda do nosso Brasil de hoje,
entre os quais não se encontram nenhum dos meus poucos leitores).
Esse pessoal nunca leu um livro como “Madame Bovary”, de
Flaubert; nem um “Dom Casmurro”, do fabuloso Machado de Assis,
inclusive alguns dos seus excelentes contos, que não são muito
longos. Esse pessoal nunca leu, para abreviar a lista, José de
Alencar, não sabe quem foi “Iracema”. São os que chamo de
“ANALFABETIZADOS”, e
por muita concessão.
De
poesia, nem se fala. Se se perguntar a um deles quem é o maior poeta
do Brasil é capaz de responder que é o Tiririca, sem ofender a este
bom humorista que se meteu na política e parece ainda não ter-se
corrompido.
Não
sei se deveria citar, para bem ou para mal, que a maior editora de
livros nestes dois últimos anos, no Piauí, é a Academia Piauiense
de Letras. Não porque queira e tenha recursos para tal, não porque
esteja cumprindo algumas das suas funções principais, mas para
comemorar seu Centenário de nascimento, de criação, em 30 de
dezembro de 1917. Seu dinâmico presidente atual, Nelson Nery Costa,
vem esbaldando-se para cumprir aquilo que Castro Alves escreveu,
recitou e proclamou durante sua rica vida de intelectual, poeta e
fervoroso combatente para o fim da escravidão negra. Muitas outras
batalhas encetou, incluisve a liberdade fundamental de que “A
PRAÇA, A PRAÇA É DO POVO / COMO O CÉU É DO CONDOR”. Por
milagre, algumas pessoas do meado do século XX ainda se lembram: de
um poema de estrofe contundente e que tem tudo a ver com o nosso
artigo:“LIVROS, LIVROS, À MÃO CHEIA / FAZEI O POVO PENSAR. / O
LIVRO CAINDO N’ ALMA / É GERME QUE FAZ A PALMA / É CHUVA QUE FAZ
O MAR”
Como
eu ia dizendo, o presidente da APL já publicou um centena de livros
e promete publicar outro tanto neste ano da Comemoração do
Centenário da “Casa de Lucídio Freitas” e nesse sentido já
publicou obras importantíssimas da literatura piauiense de vivos e
mortos, entre os quais poemas, antologias, histórias, memórias,
crônicas e biografias. Depois disto, uma pergunta encabulosa e de
certa forma atrevida pode vir:
-
Quem, dentre vocês, piauienses, já leu algum desses livros, quem
já leu mais de um? Quantos brasileiros leem livros anualmente.
- O
silêncio será constrangedor. A resposta é não, quando juntamente
não acompanhada de um tremendo desaforo.
Por
que comprar livros no Piauí? Ninguém lê. Mas é de graça. Ninguém
quer, ninguém compra, ninguém lê. Não sei como sobrevivem as
livrarias (poucas), da nossa cidade. Posso responder, sem medo de
errar: vendo “BESTAS DE SELA” americanas ou livros de devoção
religiosa, o principal a Bíblia. Reforço meus argumentos com os da
escritora que muito prezo, uma sumidade como crítica literária,
mesmo que ainda tão nova, Rosidelma Fraga, que fez o prefácio de
minha “POESIA IN COMPLETA”. E que prefácio! Uma lição de
sabedoria e competência no labutar com as letras e com a arte da
poesia, ela que também é poeta. Sua contribuição aqui é tirada
de um trecho de artigo dela, publicada no “Portal Entre-textos, do
Dilson Lages: “De forma brevíssima, meu objetivo fulcral
é dar algumas alfinetadas sobre o tema assassinato do leitor e da
literatura associado ao diploma conferido a um professor da área de
Letras. Parece estranha a proposta, já que na própria envergadura e
no corpo fônico da palavra LETRAS há o verbo LER. Por conseguinte,
quem escolhe a licenciatura ou o bacharelado em Letras será um
leitor. Seria mais que óbvio se não fosse obtuso, diria meu amigo
Roland Barthes”.
E
por aí segue a escritora Rosidelma Fraga. Mas, não posso tomar o
fôlego do seu artigo, invectivando Universidades, Cursos de Letras,
professores que se formam sem apreender a ler, ou pelo menos sem
gostar de ler. Como é que se lê tanto como deve um professor, sem
gostar de ler? Se os professores não lêem, como vão ensinar a seus
alunos que é bom ler, que devemos ler, pois como disse o Prof.
Antônio Cândido (com toda a sua autoridade): “A
Literatura confirma a humanidade do homem e contribui para a formação
da personalidade por ser uma forma de conhecimento do mundo e do
ser.” Logo, a literatura deve
estar adiante de todo e qualquer diploma, mormente o de Licenciatura
Plena em Letras.
Quero
dizer que os próprios professores de Letras vão ganhar dinheiro sem
ler. E vão ensinar mal os seus alunos, por desestimularem a leitura.
Alguns que se salvam e lêem pouco, lêem mal como aponta Rosidelma
Fraga. E aí ela fala na “bola de neve”, a que é elevada a
sociedade, citando que há professores que não distinguem a palavra
MAL da palavra MAU, uma vez que não sabem quando se deve escrever L
ou U. E isto é monstruoso, é a contradição do que estudou e do
que deve lecionar.Nas salas de aula dos cursos diversos até chegarem
à Universidade, onde se deveriam formar bons leitores, ao contrário,
de modo geral todos se tornam maus leitores e serão futuros doutores
semianalfabetos ou ANALFABETIZADOS, como eu costumo denominar. Sendo
assim, chegamos ao reino das “mil maravilhas” dos iletrados, pois
se querem saber de algo, como se escreve a palavra X ou o que
significa a palavra Y, buscam a internet. Acontece que, sem saberem
escrever, muitas vezes têm dificuldade de encontrar o que querem e
mais ainda de entenderem o que a máquina moderna lhes oferecem. E se
a grande maioria são iletrados, ANALFABETIZADOS, como vamos ter
leitores, nós pobres escritores?
Para
encerrar, cito um trecho muito interessante de mudança de gerações,
de autoria do filósofo Arthur Schopenhauer (1788-1860): “A
cada 30 anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não
sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado
durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser
mais espertas do que todo o passado”.
Daí
podemos aferir os leitores que não leram os clássicos: bons, maus?
O leitor decide.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da ALERP, da APL, da UBE e da IWA, esta última nos Estados Unidos da América do Norte.
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